segunda-feira, 10 de maio de 2010

Papel de Maria na vida da Igreja

 É simplesmente inestimável o papel de Maria na vida da Igreja e dos cristãos, hoje em dia. Pensemos por exemplo no nosso país. O que seria da nossa fé sem Fátima? Certamente não acreditamos em Deus por causa de Fátima, mas quanto impulso, quanta força, quanto gosto pelas coisas de Deus recebemos destas aparições e das graças derramadas aí! Tive a oportunidade de ir recentemente ao México, onde estive no santuário de Nossa Senhora de Guadalupe. Trata-se possivelmente do santuário mais visitado no mundo. Entrei três vezes na imensa Basílica com espaço para mais de 10.000 pessoas. Eram dias normais. As três vezes o recinto era povoado de gente.

Os exemplos poderiam multiplicar-se e não se limitariam ao mundo católico. Mas permito-me mencionar um último relacionado com um homem que tocou profundamente o nosso tempo: o grande João Paulo II. Como sabem, escolheu como lema do seu pontificado Totus Tuus ego sum Maria. “Sou todo teu, Maria”. Quantos frutos deu esse Pontificado em tantos lugares e em tantos hábitos da nossa cultura? E quantos frutos teria dado sem Maria? Sem dúvida, João Paulo II não teria sido quem foi sem Nossa Senhora. Não só porque lhe deveu a vida no dia do atentado na Praça de São Pedro em Roma, um 13 de maio, mas porque a sua estatura espiritual e humana não teria sido tão gigantesca sem Ela. De que forma Maria influenciou a nossa vida e a vida de toda Igreja? Mencionarei três modos que me parecem especialmente significativos. Maria é intercessora, é modelo e é Mãe.

O poder da intercessão de Maria já é visível na vida da Igreja primitiva, especialmente no dia de Pentecostes. O Senhor tinha mandado aos Apóstolos e discípulos que rezassem para que viesse o Espírito Santo, que ainda deviam receber para poderem cumprir a missão. É por acaso que São Lucas menciona nos Actos dos Apóstolos que Maria estava presente no cenáculo precisamente nesta ocasião? Certamente que não. O Espírito Santo é chamado simplesmente “o Dom” por São Lucas, sem nenhum outro qualificativo. É de facto o grande Dom de Deus, e Nossa Senhora esteve muito ligada a ele, pela sua intercessão. Tinha de sê-lo.

Mas ainda antes deste momento tão crucial para a vida da Igreja, ao início de outra etapa importantíssima – a vida pública de Jesus – São João mostra-nos o papel da intercessão de Maria nas bodas de Caná. Conhecemos as circunstâncias desta passagem evangélica de grande valor simbólico. Os noivos já não têm vinho. A festa de casamento fracassará. Maria intercede e tudo se soluciona com um milagre de Jesus que transforma a água em vinho. Por causa deste milagre, o primeiro de Jesus, precisa João, os discípulos acreditaram n’Ele. Se tivermos em conta que provavelmente estas bodas representam a união que Deus quer realizar com o homem através da vinda e do sacrifício de Cristo, damo-nos conta que não podemos subestimar a importância da intercessão de Maria em toda a história da salvação.


São João Bosco tinha entendido e experimentado inúmeras vezes as consequências práticas deste importantíssimo papel intercessor de Maria. Por isso, costumava repetir: peçam a Maria e verão o que são milagres. Pessoalmente, penso que falta-nos em geral ser ainda mais marianos. Quando vemos os derroteiros que seguem as nossas sociedades, cada mais publicamente afastadas de Deus, é mais que nunca necessário experimentar a força e o poder da intercessão mariana. Mas isso não se fará sem nós. Como é duro, por exemplo, tocar o coração dos nossos jovens hoje em dia! Mas podemos fazê-lo, através de Nossa Senhora.

Maria quer ser mais que uma potente intercessora, e, de facto, foi mais que isso. Foi um modelo. É o modelo daquilo que Deus pode e quer realizar quando encontra uma alma disponível. Assim como não existiu limites para o bem realizado por Maria, porque foi toda de Deus, assim deve ser abundantíssimo aquilo que Deus quer realizar através de nós. Às vezes pode faltar-nos esta consciência e é possivelmente um dos motivos pelos quais não nos entregamosn totalmente a Sua Vontade, sem reservas nem cálculos humanos.

De que modo Maria é um modelo para todos nós? O exemplo de Maria é extremamente rico e nunca se poderão dizer demasiadas coisas ao respeito. Quero aquí recordar simplesmente o “sim” de Maria ao Anjo Gabriel, que lhe anunciou que seria Mãe do Salvador. Este “sim” é um pouco o resumo de sua existência. Evidentemente não o podemos limitar a este momento. Tudo na vida de Maria foi “sim”, um “sim” que não deixou de pronunciar ao pé da Cruz. Se não fosse assim, certamente Cristo não lhe teria pedido ser mãe de São João e nossa Mãe, neste momento. O que é especialmente importante sublinhar aqui é o facto de que quem contempla Maria, vai tornando-se como Ela. Precisamos dizer sim a Deus nas nossas vidas. Quantas graças e bênçãos podem ficar retidas, porque não queremos aceitar Sua Vontade sobre nós! Como João Paulo II, devemosm repetir “sou todo teu, Maria” e fazer desta frase um verdadeiro lema de vida. Vejam com que generosidade aceitou este grande Papa seguir as inspirações de Deus. Por isso, foi tão fecundo o seu Pontificado. Aprendamos de Maria a não temer pronunciar esta palavra tão singela e veremos as obras de Deus!

Por fim, Nossa Senhora é Mãe. Não só intercede, inspira e entusiasma pelo seu exemplo. Deu-nos à luz. Ou, o que é equivalente, deu-nos a Luz, Cristo. Paulo VI lucidamente proclamou-a Mãe da Igreja. É Mãe de todos nós, porque aceitou ser Mãe do Salvador, Mãe de Aquele que nos havia de dar a Vida nova, a Vida ressuscitada, que já começa a brotar nos corações dos fiéis. Quero aquí destacar um aspecto desta maternidade: as dores de parto. Sabemos que, durante o parto virginal, Nossa Senhora não teve dores com o seu Filho. Mas sim, connosco, ao longo de sua vida. E muitas. Não é por acaso que, ao pé da cruz, Cristo confia Maria a João, fazendo d'Ela a mãe do discípulo amado. Sim, Maria é mãe, porque, como certa vez, disse Cristo a Madre Teresa de Calcutá, “ela afogou-se em dores pelas almas”. Assim deu-nos a vida. No meio das dores.

Recordemos isso, no meio dos nossos sofrimentos de cada dia. Maria entende-os. Sofreu mais que todos nós. Imaginem que dores terá uma mulher que é Mãe de todos os homens de todos os tempos! Basta um, afastado de Deus, para que o coração da Mãe sofra tormentos…Mas não só Nossa Senhora entende os nossos padecimentos. Dá-nos força para sofrer, para tomar a nossa cruz, sem queixas. Faz-nos entender que sem a dor não é possível
a Redenção.

Aproveitemos, pois, a vinda do Papa a Fátima, para pedir a Deus através de Maria uma profunda renovação dos nossos corações e do nosso país. Maria quer realizar ainda milagres, hoje. E muitos: curando não só as feridas do corpo, mas sobre tudo os desvios da alma. Peçamos também muito pelo nosso Pontífice, para que seja sempre toda dela, como seu predecessor e nos possa ir levando cada vez mais perto de Cristo.

Pe. Antoine Coelho, LC
in: "Paróquia em Movimento" Boletim da Paróquia de S. Pedro e S. João do Estoril

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