«De ti sairá Aquele que há-de reinar sobre Israel»
Leitura da Profecia de Miqueias
Eis o que diz o Senhor:
«De ti, Belém-Efratá,
pequena entre as cidades de Judá,de ti sairá aquele que há-de reinar sobre Israel.
As suas origens remontam aos tempos de outrora,
aos dias mais antigos.
Por isso Deus os abandonará
até à altura em que der à luz
aquela que há-de ser mãe.
Então voltará para os filhos de Israel
o resto dos seus irmãos.
Ele se levantará para apascentar o seu rebanho
pelo poder do Senhor,
pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus.
Viver-se-á em segurança,
porque ele será exaltado até aos confins da terra.
Ele será a paz».
Palavra do Senhor
LEITURA II Hebr 10, 5-10
«Eu venho para fazer a vossa vontade»
Leitura da Epístola aos Hebreus
Irmãos:
Ao entrar no mundo, Cristo disse:
«Não quiseste sacrifício nem oblações,
mas formaste-Me um corpo.
Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado.Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui;
no livro sagrado está escrito a meu respeito:
Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’».
Primeiro disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações,
não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado».
E no entanto, eles são oferecidos segundo a Lei.
Depois acrescenta: «Eis-Me aqui:
Eu venho para fazer a tua vontade».
Assim aboliu o primeiro culto
para estabelecer o segundo.
É em virtude dessa vontade
que nós fomos santificados
pela oblação do corpo de Jesus Cristo,
feita de uma vez para sempre.
Palavra do Senhor.
«Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?»
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naqueles dias,
Maria pôs-se a caminho
e dirigiu-se apressadamente para a montanha,
em direcção a uma cidade de Judá.
Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
Quando Isabel ouviu a saudação de Maria,
o menino exultou-lhe no seio.
Isabel ficou cheia do Espírito Santo
e exclamou em alta voz:
«Bendita és tu entre as mulheres
e bendito é o fruto do teu ventre.
Donde me é dado
que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?
Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidosa voz da tua saudação,
o menino exultou de alegria no meu seio.Bem-aventurada aquela que acreditou
no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito
da parte do Senhor».
Palavra da salvação.Homilia do Pe Antoine Coelho, LC
É belo contemplar, no Evangelho deste 4º Domingo de Advento, com que velocidade Maria se dirige à casa de Zacarias para ajudar a prima Isabel. Antes deste episódio, o evangelista São Lucas acabava de relatar a Anunciação do anjo a Maria. Este, depois de lhe anunciar que será Mãe do Filho de Deus, dá-lhe a conhecer que Isabel, estéril, dará à luz, “porque nada é impossível para Deus”. Maria então responde ao Anjo que é a serva do Senhor e que tudo seja feito segundo a sua palavra.
São João Baptista, ainda no ventre da Mãe, já está a exercer, de alguma forma, o ofício de precursor, anunciando com a sua vinda milagrosa, uma vinda ainda mais maravilhosa. O facto de Isabel dar à luz, é sinal para Maria da veracidade do anjo. No entanto, Maria não espera visitar a prima e assegurar-se de que está realmente grávida. Ao contrário de Zacarias, pai de João, ela acredita sem antes ver sinais. Ela faz parte daqueles que Cristo, depois da Ressurreição, chamará bem-aventurados porque, sem ver, acreditaram.
O que significou acreditar para Maria? Dar uma parte do seu ser – o ventre – a Deus? É serva do Senhor porque dá um pedaço de si? Não. Mais que o seio, ofereceu a Deus o coração. A prova disso é que se apressou a ir ao encontro da prima, para ajudá-la nas necessidades. Por isso, crer para ela tampouco significa pôr à disposição uma parte de sua vida, a que mais lhe convém. Maria é Mãe do Salvador debaixo da cruz, longe das lisonjas e das honras, oferecendo o coração trespassado pela dor. Crer, para ela, mais que uma segurança na vida, é dar a vida, como Cristo na cruz. E, por isso, sente-se mais segura que ninguém. Sente que a sua vida, porque dada completamente a Deus, está totalmente nas suas Mãos.
Tudo isso torna-se ainda mais claro quando analisamos o que significava a resposta de Maria à luz da segunda leitura da carta aos Hebreus. Ela responde ao anjo: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Qual é então a palavra do anjo? Digamos, em primeiro lugar, que não é simplesmente uma palavra do anjo. É sobretudo Palavra de Deus porque transmite uma mensagem de parte de Deus. Esta palavra anuncia que o Filho de Deus vai encarnar-se no seio de Maria. Por isso, Maria, nesta resposta ao anjo, diz, no fundo, isso: “que se realize a Encarnação em mim”. O que acontece durante a Encarnação, a carta aos Hebreus no-lo descreve desta forma: “Ao entrar no mundo, Cristo disse: «Não quiseste sacrifício nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’».
Por isso, em Maria e também ao longo da sua vida, vai realizar-se precisamente o que Cristo aqui diz. Toda a sua vida vai ser, no fundo, um repetir constantemente esta palavra com o seu Filho: “Pai, não queres coisas de mim, não queres holocaustos, nem sacrifícios, não queres pedaços do meu tempo, pedaços da minha atenção, alguma parte do meu coração. Nada disso te agrada realmente. O que queres é toda a minha vida, porque tu, sendo Deus, não podes merecer menos”.
Tudo isso recorda-nos Abraão, chamado na Bíblia o pai dos crentes, e por isso modelo da fé. Com Abraão, vai começar uma nova aventura de Deus com os homens, a aventura da sua salvação. Qual é a primeira coisa que Yahve lhe diz? “Deixa a tua terra e vai para aquela que eu te mostrarei!” Quem encontra Deus, não pode já ficar na sua “terra”, ou seja, não pode continuar a existir centrado em si mesmo. O primeiro efeito do encontro com Deus é a liberação de nós mesmos. Maria também, apenas acolhe a Palavra de Deus com fé, é levada até outra terra, a da sua prima, é levada até aos outros, porque a “terra dos outros”, a terra do serviço, por assim dizer, é a única pátria do cristão.
É custoso, tudo isso! Pensemos também que Maria teve que deixar de novo a sua terra, grávida de oito ou nove meses, para dar à luz Cristo. Como foi dura esta viagem! Mas é a mesma simbologia. Queres dar Cristo ao mundo? Queres dar ao mundo a única coisa que vale a pena dar-lhe? Então, deves deixar a tua terra, deves deixar esta casa que é somente a tua para ir a Belém, que significa em hebreu “a casa do pão”. Ou seja: deves ir a este lugar do serviço onde Deus quer alimentar todos os homens, não com coisitas que não saciam a fome, mas conSigo mesmo. No entanto, Deus não o fará se tu não viajares, como Deus não teria feito de Israel o povo eleito, se Abraão, levado pela fé, não se tivesse lançado nesta aventura.
É custoso, tudo isso, com efeito, mas Maria ensina-nos como ultrapassar o medo e a tentação de uma vida mais fácil. Ela responde ao anjo: “faça-se em mim segundo a tua Palavra.” Se vemos que Deus nos pede algo difícil, se vemos que existe algo da moral da Igreja que nos custa, não devemos actuar como uma senhora que, certo dia, diante de um ensinamento, respondeu-me: “Padre, isso que nos pede não é aplicável hoje em dia, já o apaguei da memória!” Que pena. Certamente sentimo-nos muitas vezes sem forças para aquilo que Deus nos pede. Mas isso não é uma situação anómala. É até querida por Deus, penso eu, porque isso obriga-nos a recorrer a Ele com fé. Todos os santos sentiram-se fracos e impotentes, mas, como Maria, souberam dizer “faça-se em mim segundo a tua Palavra”.
Recordemos que a palavra de Deus é criadora. Basta ler o primeiro capítulo do livro do Génesis: “E Deus disse: ‘que a luz seja e a luz foi….’” Neste relato, cada Palavra de Deus vai produzindo uma parte do mundo a partir de nada. Quem acolhe a Palavra de Deus no coração, embora saiba que não tem forças para cumprir a Vontade do Senhor, pelo poder desta Palavra, transformará o seu coração e tornar-se-á pouco a pouco capaz de seguir os mandamentos.
Vejam o que nos conta o profeta Jeremias que tanto medo tinha de falar de Deus: “a palavra de Yahve foi para mim um opróbrio e uma burla quotidiana. E eu dizia: ‘não tornarei a recordá-lo, nem falarei já em seu nome. Mas havia no meu coração algo parecido a um fogo ardente, que me consumia os ossos, e ainda que me esforçasse por afogá-lo, não podia’”. O profeta expôs-se muitos anos à Palavra de Deus e esta, pouco a pouco, penetrou-lhe tão profundamente na alma que não a podia já abandonar. Tinha de a comunicar, embora soubesse que lhe ia causar muitos problemas.
Que não sejamos como Zacarias, o pai de João Baptista. A sua atitude diante do anjo que lhe anuncia o nascimento do seu filho é completamente oposta à de Maria. Diante desta notícia, pede um sinal. Não crê sem sinais. Primeiro, Deus tem de descer ao seu mundo. Então, ele poderá dar-se. Mas na verdade, ainda que Deus desça, não se dará realmente. Porque a sua atitude básica é a de submeter Deus a si, não poderá reconhecer um Deus que é tudo menos isso. Se Maria, junto com os Reis magos que abandonaram tudo, pode acreditar que este menino que nasce tão pobremente é Filho de Deus, é porque ela mesma experimentou vitalmente o valor da pobreza e da humildade. O orgulhoso não pode compreender o Deus humilde e, ainda que lhe apareça, duvidará da veracidade daquilo que tem diante dos olhos. O castigo que receberá Zacarias é o de não poder falar até que João nasça. Quem não aceita a Palavra de Deus no coração, não tem realmente nada para dizer aos outros, nada que lhes possa realmente transmitir. Porque, para isso, o homem foi criado: para dar Deus. Ele é a imagem, a janela através do qual se entra em contacto com a Altíssimo: esta é a essência da sua vocação.
Já, dentro de pouquíssimos dias festejaremos o Natal, a vinda da Segunda Pessoa da Sma. Trindade, a qual é também chamada a Palavra ou Verbo de Deus. Acolhemo-la com generosidade no coração. Sabemos que Ela é muito grande para o nosso pobre coração, tão limitado por muitos motivos. Mas o facto é que Ela quer vir ao nosso coração. E Ela tem todo o poder para criar nele o espaço necessário para aí morar. Para isso, como Maria, sejamos homens de fé. Talvez tudo isso pareça absurdo para os doutos deste mundo, recorda-nos São Paulo, mas a sabedoria de Deus é a verdadeira sabedoria, mesmo se é loucura para os que pensam saber muito.
Fantástico, nunca tinha feito a relação da anunciação de Deus com a mudança na vida de uma pessoa, como a anunciação a Abraão e a sua partida (mudança), anunciação a Maria e a partida para a casa de sua prima, a partida para o nascimento em Belém.
ResponderEliminarMuito rica esta Homilia Pe. Antoine.
Muito obrigado por partilhar.