segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

As Prendas da Minha Mãe

Esta minha primeira intervenção fora dos bastidores do blogue, e é para vos convidar a participar nele também.

Todos estamos convidados a participar com o nosso testemunho, vivência, evangelização, o que for para contribuir para o crescimento de todos, sem medo e sem qualquer constrangimento.

Estou a partilhar convosco algo que nunca fiz na minha vida, falar da minha mãe. Quando falo dela, falo também do meu pai, pois cada acção que ela teve, foi sempre em conjunto com ele, mas em quase todos os momentos ele esteve presencialmente ausente (devido à sua profissão, para ganhar o nosso pão), mas sempre no nosso coração, meu e dela.

Cada vez que penso nisso, revejo que Deus me começou a chamar para a vida cristã através de acções da minha mãe.

Ela é uma pessoa cristã, gosta imenso de participar na missa e demais acções e eventos da Igreja, liturgicos ou devotivos.

Foi baptizada "em série" na escola primária lá na aldeia, mas em termos de sacramentos, teve somente mais o do matrimónio que os uniu para gerar esta maravilhosa família que temos.

Começou a levar-me à igreja desde pequeno, participar na missa sempre que podiamos.

Depois, nem sabe bem ela porquê, mas lá me matriculou na escola Salesiana do Estoril (um dos meus primeiros e fundamentais passos no desenvolvimento católico), e a partir daí, fez questão que tivesse catequese, fizesse a primeira comunhão, e todos os passos até ser crismado (a mim e à minha irmã).

No dia da minha primeira comunhão, ofereceu-me um pequenino livro, "Caminho de Luz" que ainda está na minha mesa de cabeceira, agora casado, e após 27 anos de o receber, mas de vez em quando gosto de rever os princípios da doutrina cristã, quando temos algumas dúvidas sobre nós, convém rever a doutrina que professamos, ajuda a superar determinadas dificuldades da vida, quer na vida pessoal como profissional por vezes.

A seguir, a prenda que me deu, na comunhão solene, foi algo que lhes custou muito a adquirir, a Bíblia em banda desenhada, são 8 volumes de passagens da bíblia em banda desenhada, pois ela queria que eu a lêsse mas, se me comprasse uma bíblia em texto eu não a leria com 8 anos de idade devido ao tamanho do livro só com texto corrido, aí tive o meu primeiro contacto directo com a sagrada escritura, belos 10 contos que eles investiram na minha educação nessa altura...

Na catequese que tive na escola, foi algo de fantástico, tive comigo a orientar-me os professores, os auxiliares, a D. Conceição da secretaria, os padres salesianos, etc. a comunidade salesiana no seu todo envolveu-se no caminho da fé dos seus alunos, no que estou muito grato a todos eles.

Depois na Profissão de Fé, lá achou que me daria o missal dominical, para eu poder acompanhar melhor as leituras de Domingo, e foi fantástico, pois dias depois consegui entrar para os acólitos, e sentia uma "bengala" para saber de antemão as leituras do domingo em que ía acolitar. Nunca li na missa, pois era muito tímido e um dia em que experimentei ler, atrapalhei-me de tal forma que comecei a soluçar e a leitura foi péssima, nunca mais quis ler na missa... (em adulto lá consegui superar isso).

Mais tarde, ofereceu-me uma bíblia em formato normal, para que tivesse algo para ler mais comentado e agora para adolescente seria melhor, mais uma vez penso que não sabia directamente porquê, mas achava muito importante para a minha formação católica.

Quando fui crismado escolhi um livro da Liturgia das Horas (a versão que é em livro único) que nem eu sabia bem o que era aquilo, mas como num retiro tinha ouvido a oração de laudes, pensei que seria bom ter um livro onde isso estivesse, e pedi-lhe isso, e garanto que esteve guardado anos sem lhe mexer, devido à grande dificuldade que tinha em saber a sequência de o manusear.

Na grande crise de fé que tive entre os 17 e 20 anos, não me largou para compreender o meu problema de fé, e em conjunto com o Pe. Antoine (na altura o António francês) e outros amigos chegados me conseguiram fazer ver onde está Ele.

Quando aos 21 anos entrei nos missionários lembro-em que o meu mestre me disse que Deus tem uma bela história de amor para fazer comigo, na altura fiquei um pouco assustado, e pensei porquê eu (estava a pensar egocentricamente), mas hoje vejo que isso é assim, não para mim, mas para todos nós no mundo, seja rapaz ou rapariga, seja religioso ou casado. Esta mensagem que o meu mestre me deu toca-me no coração e hoje não tenho medo dela, esses breves 4 meses que estive com eles, deram-me a conhecer muita coisa, despertei o bichinho pela Liturgia através do Frei Vitor (embora conheça muito pouco, mas é algo que quero continuamente estudar com a ajuda de quem percebe dela), a sagrada escritura (o mundo que está na sua mensagem, e aí contei com a ajuda do Pe. António Rivero, LC, mesmo sem o conhecer, deu-me material para tirar partido da palavra de Deus o melhor que posso) e também o meu então pároco me deu a dica por onde começar, pelo Novo Testamento e depois passar ao Antigo Testamento (e está a correr bem, garanto-vos). Outra coisa que aprendi nos missionários, foi com uma questão que lhes coloquei no início da minha semana vocacional com eles: "Porquê missionários em Portugal, se há tanto que fazer em África e na América Latina?" a resposta foi imediata: "Em Portugal há muita miséria, também há muito que fazer cá, temos que olhar pelos nossos que sofrem também". Eu que vivo neste país de Camões e ainda não tinha percebido isso... os 4 meses que lá estive foi uma experiência grande enriquecedora humanamente e espiritualmente falando, pois desde os 17 velhotes doentes em estado terminal e o serviço comunitário aos pobres, em especial os que não tinham alimentos (foi uma enorme facada no coração distribuir pela primeira vez na minha vida, alimentos pelos que não têm sequer um frigorífico onde os guardar, nessa noite chorei mesmo de comoção).

Enfim, mais uma vez fruto das prendas da minha mãe, que me quis dar uma educação e formação católica, e se calhar nem ela sabe bem porque me deu essas prendas, mas que contribuiram para os passos que a minha vida tem dado, e não queria acabar este desabafo, sem deixar a todos uma prenda que ela me deu também, um pequeno postal das edições paulinas com a seguinte frase: "Senhor, dá-me coragem para mudar o que tem que ser mudado. Dá-me serenidade para aceitar o que não pode ser mudado, e Sabedoria para distinguir uma coisa da outra." Este cartão veio numa altura de tomar decisões difíceis para mim, e hoje acompanha-me na capa do meu breviário, e na minha mente.

Penso para comigo, que todas estas ofertas tenham sido do coração deles (os meus pais), mas com inspiração divina, a modo de influenciarem o rumo da minha vida.

E as palavras do Frei José António são para todos nós "Deus tem uma bela história de amor para fazer contigo".

Agora casado e com o meu emprego na área da informática, vejo que Deus tem uma grande história de amor a fazer com todos nós.

Por isso agradeço muito a Deus, todas estas prendas da minha mãe...


Pedro Mestre

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