quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

III Domingo Advento Ano C

LEITURA I Sof 3, 14-18a

«O Senhor exulta de alegria por tua causa»

Leitura da Profecia de Sofonias

Clama jubilosamente, filha de Sião;solta brados de alegria, Israel.Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém.O Senhor revogou a sentença que te condenava,afastou os teus inimigos.O Senhor, Rei de Israel, está no meio de tie já não temerás nenhum mal.Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém:«Não temas, Sião,não desfaleçam as tuas mãos.O Senhor teu Deus está no meio de ti,como poderoso salvador.Por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo,renova-te com o seu amor,exulta de alegria por tua causa,como nos dias de festa».
Palavra do Senhor.


LEITURA II Filip 4, 4-7

«O Senhor está próximo»

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses

Irmãos:Alegrai-vos sempre no Senhor.Novamente vos digo: alegrai-vos.Seja de todos conhecida a vossa bondade.O Senhor está próximo.Não vos inquieteis com coisa alguma;mas em todas as circunstâncias,apresentai os vossos pedidos diante de Deus,com orações, súplicas e acções de graças.E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência,guardará os vossos corações e os vossos pensamentosem Cristo Jesus.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Lc 3, 10-18

«Que devemos fazer?»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo,as multidões perguntavam a João Baptista:«Que devemos fazer?»Ele respondia-lhes:«Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma;e quem tiver mantimentos faça o mesmo».Vieram também alguns publicanos para serem baptizadose disseram:«Mestre, que devemos fazer?»João respondeu-lhes:«Não exijais nada além do que vos foi prescrito».Perguntavam-lhe também os soldados:«E nós, que devemos fazer?»Ele respondeu-lhes:«Não pratiqueis violência com ninguémnem denuncieis injustamente;e contentai-vos com o vosso soldo».Como o povo estava na expectativae todos pensavam em seus coraçõesse João não seria o Messias,ele tomou a palavra e disse a todos:«Eu baptizo-vos com água,mas está a chegar quem é mais forte do que eu,e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias.Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo.Tem na mão a pá para limpar a sua eirae recolherá o trigo no seu celeiro;a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga».Assim, com estas e muitas outras exortações,João anunciava ao povo a Boa Nova».
Palavra da salvação.


Homilia do Pe Antoine Coelho, LC

Continuamos este domingo com São João Baptista, o grande precursor do Senhor, que nos anuncia a vinda iminente de Cristo e que nos mostra ao mesmo tempo que a conversão tem sentido. É mais fácil levantar o mundo e mudá-lo de lugar que “levantar-se” a si mesmo do egoísmo e liberar-se dele em profundidade. Mas vem Aquele que pode levar a cabo a nossa transformação.

O Evangelho diz-nos que as multidões perguntavam a João o que tinham de fazer. As multidões buscavam-no. Isso é curioso para alguém que fala de conversão. Não parece ser um tema do agrado do grande público. Mas era realmente assim tão curioso que o procurassem, quando lhes pedia sacrifícios e conversão?

Pensemos em todos os sacrifícios que somos capazes de fazer para nos mesmos. Conheço pessoas que realmente sofrem muito para poder manter a forma física. Eu mesmo, por exemplo, gosto de jogar futebol. Passados os 30 anos, cada jogo é um pequeno martírio, ao menos para mim. As articulações já não são feitas para movimentos tão bruscos. No entanto, não perco um único jogo.

Na verdade, nós, os homens, estamos naturalmente dispostos a fazer muitos sacrifícios e os aceitamos até de bom grado. O importante é sentirmos que nos sacrificamos por algo que podemos alcançar e por algo que amamos.

As pessoas ouviam João. Um homem de uma só peça. Um homem tão sensível a Deus ao ponto que tinha saltado no ventre da mãe, em presença de Nossa Senhora, que já levava no seio o Salvador. Diz-nos o quarto Evangelho que João tinha reconhecido o Senhor vendo o Espírito Santo permanecer sobre Ele. Por outras palavras, ele fora capaz de perceber a presença do Espírito, de tocá-la, de algum modo. Certamente este homem “tocava” Deus na sua vida de forma invulgar e quem o encontrava, de alguma forma, “tocava” o que ele “tocava”. Descobria que Deus não estava tão longe dos homens que não se pudesse alcançar de algum modo.

Além disso, quem encontra realmente Deus, seja por experiência própria, seja através de outro, normalmente deseja encontrá-lo mais e mais, mesmo se, com isso, tem de se sacrificar. É mais forte que ele, pois cada um de nós é feito para Deus, o espírito humano padece uma fome que só no Céu se saciará e que por este mundo buscamos satisfazer com notícias, sensações, sentimentos etc... Por isso, brotava espontaneamente do coração de quem ouvia João: o que devemos fazer para ter o que tu tens?Recordo um sacerdote amigo que me contava como tinha encontrado a vocação. Fora muito simples. Quando tinha 18 anos, certo dia, conversara com um sacerdote. Este impressionara-o muito porque falava de Cristo com tal familiaridade que parecia ter passeado com Ele aquela mesma manhã à beira do lago de Galileia. Dois mil anos separavam este padre da vida terrena de Cristo e, no entanto, encontrava-o espiritualmente e realmente cada dia. Quinze anos depois, o meu amigo recordava este momento com visível emoção. Vira por primeira vez, através de outra pessoa, Cristo vivo. Tocara o Senhor de leve e já começava a sonhar dar a vida por Ele. O que não será Deus na glória luminosa do Céu, para que aqueles que o acham na semi-escuridão deste mundo lhe entregam toda a vida, até ao ponto de as vezes morrerem como mártires?

São João não era um prometedor de vida fácil, um homem de ideias geniais, ou alguém que soube entender o seu tempo e responder às suas expectativas. Era simplesmente um amigo de Deus e quem se deparava com ele começava a amar Deus e a perguntar-se o que podia fazer para mudar.

No entanto, é preciso dizer que a resposta dada por João às pessoas era ainda insuficiente. Situava-se sobretudo no plano da simples moral e da justiça. Perguntavam-lhe de facto os soldados: «E nós, que devemos fazer?» Ele respondia-lhes: «Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo». Vinham também alguns publicanos e João pedia-lhes que não exigissem mais do que o prescrito.

Não há comparação com aquilo que o Senhor instaurou. Zaqueu, publicano também ele, depois de ter recibido Cristo na sua casa, promete restituir quatro vezes mais daquilo que roubou. Com Cristo ultrapassamos a dimensão da justiça. Entramos no Reino do Amor. Cristo baptiza com o Espírito e não simplesmente com água. Essa é a diferença. Cristo não dá aos homens simplesmente uns quantos preceitos, umas quantas ideias. Só Ele derrama o Espírito Santo, Amor vivo que queima os corações. Porque só Deus pode derramar Deus.

Que diferença entre o dom de João e o de Cristo! E no entanto, é possível que muitos de nós, cristãos, vivamos ao nível de João, que não tenhamos entrado no coração do cristianismo, que é como um forno que nos consume o coração, que nos rouba a nós mesmos e nos leva a viver para os outros, num dimensão onde desaparecem as barreiras humanas. Acabo de me encontrar hoje com dois jovens franceses que decidiram fazer uma peregrinação a pé a Jerusalém, a partir de Paris passando por Roma. Não sabem onde hão de dormir cada noite! E no entanto podem tocar a Providência. Perguntei-lhes: “como fizeram para tomar esta decisão”. A resposta não podia ser mais simples e acertada: “o Espírito Santo inspirou-nos isso”. É Ele que nos leva a sair do nosso estilo de vida às vezes demasiado estreito e calculista.

O homem justo, correcto, honesto, sincero, altruísta tem, sem dúvida, muitos méritos, mas ainda não é cristão. Este tipo de pessoas pode existir em muitas culturas. Fará até muitas coisas para os outros, muitos sacrifícios, mas ainda existe uma barreira que o separa do próximo. Ele estende pontes entre o seu mundo e o do outro, mas no fim de contas cada um vive no seu próprio universo.

Quando o Espírito Santa derrama-se nos corações e quando encontra uma alma verdadeiramente aberta, cria uma comunhão que rompe todos os diques. Não é preciso já fazer um esforço para ser educado e amável para com o outro. Já se vive no outro! E o outro já habita em nós. As suas necessidades queimam as nossas entranhas. Imediatamente esta experiência faz-nos entender quanto fizeram sofrer o Senhor as nossas misérias, sobretudo as espirituais, e que coração de Pai tem Deus! Madre Teresa não precisava de se convencer que era o seu dever ajudar os pobres, para realmente ajudá-los. Sentia-se a mãe de todos eles. É isso o que faz o Espírito Santo: cria no fiel entranhas de mãe para todo homem. Só quem o possui pode compreender até que ponto somos irmãos, só quem o possui é realmente capaz de perdoar.

E, por outro lado, o homem cheio do Espírito Santo torna-se altamente capaz de tocar em profundidade qualquer coração com as palavras mais simples. É que recebeu o poder para lhes falar desde dentro do seu coração, e não já desde fora, porque o Espírito penetra todas as coisas. Bastava ao Santo Cura de Ars três ou quatro palavras no confessionário para transformar um penitente. Um simples “meu amigo, ama Deus!”, fazia-lhe entender quanto os seus pecados tinham feito sofrer Deus.

Mas onde encontramos o Espírito, como podemos encher-nos dele e derramá-lo como rios de água viva? Em Cristo. “Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo”, diz São João Baptista. Por isso, é necessário ir ao seu encontro. São João mostra-nos o caminho. Repete-nos que Ele está perto, ao alcance da mão. Basta querê-lo sinceramente. Não é preciso mais. Quem não o quer perde o Espírito, perde os abismos do amor.

Busquemo-lo na oração. Busquemo-lo na Eucaristia. Estar junto da Eucaristia, seja assistindo à Missa, seja adorando o Senhor exposto ou até mesmo no Sacrário, significa estar em presença de Cristo, uma presença viva que nos comunica o fogo do seu amor vivo.

As festas litúrgicas são também ocasiões que não devemos desperdiçar, onde Cristo quer tornar-se mais presente. Aproveitemos a festa Natal, fazendo dela não tanto um momento para dar ou receber coisas, mas um momento para estar com Deus. Em cada Natal, Cristo deseja incarnar-se com mais força nas nossas vidas. Que o nosso coração esteja aberto nesta ocasião. Aproveitemos estes dias do Advento para nos prepararmos.

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