terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Homilia da Festa da Epifania (Domingo 3 de Janeiro)

LEITURA I Is 60, 1-6

«Brilha sobre ti a glória do Senhor»

Leitura do Livro de Isaías
Levanta-te e resplandece, Jerusalém,
porque chegou a tua luz
e brilha sobre ti a glória do Senhor.
Vê como a noite cobre a terra
e a escuridão os povos.
Mas sobre ti levanta-Se o Senhor,
e a sua glória te ilumina.
As nações caminharão à tua luz,
e os reis ao esplendor da tua aurora.Olha ao redor e vê:
todos se reúnem e vêm ao teu encontro;os teus filhos vão chegar de longe,
e as tuas filhas são trazidas nos braços.Quando o vires ficarás radiante,
palpitará e dilatar-se-á o teu coração,
pois a ti afluirão os tesouros do mar,a ti virão ter as riquezas das nações.
Invadir-te-á uma multidão de camelos,
de dromedários de Madiã e Efá.
Virão todos os de Sabá,
trazendo ouro e incenso
e proclamando as glórias do Senhor.
Palavra do Senhor.
 
LEITURA II Ef 3, 2-3a.5-6

Os gentios recebem a mesma herança prometida

Irmãos:
Certamente já ouvistes falar
da graça que Deus me confiou a vosso favor:
por uma revelação,
foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo.
Nas gerações passadas,
ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens,
como agora foi revelado pelo Espírito Santoaos seus santos apóstolos e profetas:
Os gentios recebem a mesma herança que os judeus,
pertencem ao mesmo corpo
e participam da mesma promessa,
em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.

Palavra do Senhor.
 
 
EVANGELHO Mt 2, 1-12

«Viemos do Oriente adorar o Rei»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia,
nos dias do rei Herodes,
quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente.
«Onde está - perguntaram eles -
o rei dos Judeus que acaba de nascer?
Nós vimos a sua estrela no Oriente
e viemos adorá-l’O».
Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado
e, com ele, toda a cidade de Jerusalém.
Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo
e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias.
Eles responderam:
«Em Belém da Judeia,
porque assim está escrito pelo Profeta:
‘Tu, Belém, terra de Judá,
não és de modo nenhum a menor
entre as principais cidades de Judá,
pois de ti sairá um chefe,
que será o Pastor de Israel, meu povo’».
Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos
e pediu-lhes informações precisas
sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela.
Depois enviou-os a Belém e disse-lhes:
«Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino;
e, quando O encontrardes, avisai-me,
para que também eu vá adorá-l’O».
Ouvido o rei, puseram-se a caminho.
E eis que a estrela que tinham visto no Oriente
seguia à sua frente
e parou sobre o lugar onde estava o Menino.
Ao ver a estrela, sentiram grande alegria.
Entraram na casa,
viram o Menino com Maria, sua Mãe,
e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O.
Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes:
ouro, incenso e mirra.
E, avisados em sonhos
para não voltarem à presença de Herodes,
regressaram à sua terra por outro caminho.

Palavra da salvação.
 
Homilia do Pe Antoine Coelho, LC
 

 [Adoração dos Magos: Fra Angélico; 1445 (painel, 1,373m de diâmetro)]

Não podemos deixar de nos surpreendermos com a Epifania do Senhor, ou seja, a manifestação do Filho de Deus encarnado a todos os povos, simbolizada pela visita dos três Reis Magos vindos do oriente. Por que motivo, o evento mais glorioso da história da humanidade, a Encarnação de Deus, é presenciado por tão poucas pessoas? Tal é talvez a pergunta que nos vem imediatamente à mente. Fora dos confins estreitíssimos da gruta de Belém, encontram-se multidões inumeráveis famintas de Deus. Porque será que este acontecimento lhes passou desapercebido?
 
Certamente, ninguém pode pretender dar uma resposta cabal a estas perguntas. Os motivos profundos pertencem ao Mistério de Deus e ao mistério do homem, que unicamente Deus conhece. O que é certo é que o amor de Deus é discreto, não quer sacudir ninguém, não deseja violentar liberdades. Deus é como o pai bondoso da parábola do filho pródigo, que, diante do filho desejando afastar-se de casa, prefere ceder, sem no entanto baixar os braços e acreditando que a força e autenticidade do seu amor serão suficientes para que o filho volte a casa.


A humilde discrição de Deus leva-o a aparecer ao mundo, na noite do Natal, sem brilhos, sem gritos, sem encantos especiais. Que contraste com o mistério do mal, que necessita fazer de espantalho, que precisa fingir possuir força e plenitude, lançando constantemente os seus slogans arrogantes pelos meios de comunicação. Só os humildes ou os que se querem tornar humildes podem penetrar na simples gruta de Belém: Nossa Senhora, S. José, os pastores e, como o vemos no Evangelho de hoje, os Reis Magos.

Nos Reis Magos impressiona o facto de que não eram nem sequer judeus, ou seja, pertenciam a povos imersos no politeísmo, na adoração das forças da natureza, dos astros, dos animais, dos heróis passados, etc. Como chegaram à conclusão que existia um só Deus e que este Deus tinha de aparecer no mundo? Deus revela-se e encaminha misteriosamente homens humildes de todas as nações, não para que fiquem onde estão, com as suas crenças, mas para que venham ao encontro desse Deus que não temeu entrar no nosso tempo conturbado, para revelar as riquezas do seu amor. 

Os Reis Magos, além disso, eram homens sábios, dedicados ao estudo, mas que não faziam do estudo dos astros e da natureza o fim de sua vida. Buscavam Deus. A ciência nunca deve afastar de Deus, antes pelo contrário. E se, hoje em dia, o faz de múltiplas formas, como o são as inaceitáveis investigações sobre embriões humanos, é porque no coração de certos cientistas alojou uma secreta adoração à ciência. Tornou-se, para alguns, uma espécie de divindade cruel em cujos altares devemos inclusive sacrificar seres humanos. Não era isso o que acontecia no passado com a adoração dos falsos deuses? A Bíblia fala daqueles que sacrificavam os próprios filhos a Baal e a outras figuras divinas fictícias. Quando adoramos algo que não é Deus, esse algo termina sempre por escravizar-nos, e às vezes da forma mais impiedosa.

Mas, pelo contrário, quem pode pensar seriamente que esta criancinha, diante da qual se ajoelham os Reis Magos, é um tirano que veio para abusar da nossa liberdade? Está totalmente à mercê de sua mãe e do primeiro que vem, assim como hoje em dia, nos sacrários, sob a forma eucarística, está totalmente à nossa mercê. Quem poderá ter medo deste Deus? Fazê-lo, equivale a rechaçar o amor e a humildade na sua mais pura expressão, equivale a expulsá-los das nossas vidas. Por isso, o Senhor é verdadeiramente Aquele que revela os pensamentos secretos dos corações. A forma como reagimos diante d’Ele, que é amor sem mancha, nos mostra se o nosso amor era real e profundo, ou se consistia num conjunto de sentimentos superficiais.


Os Reis magos fizeram um longo caminho para chegar até ao Senhor, um caminho cheio de perigos e cansativo. Não terão ficado desiludidos ao constatar que no fim do mesmo, apenas encontraram uma pobre criança, sem fausto, sem guardas, sem outro poder que o do amor que se entrega? Tudo é questão de fé. Talvez nós também estamos a dar a nossa vida pelo Evangelho e depois de muitos anos de esforço não vemos os resultados previstos. Mas que resultados esperávamos? Esperávamos brilhar, se não diante dos homens, ao menos diante de nós mesmos? Recordemos sempre, como dizíamos ao início, que Deus se fez uma criança indefesa sem admiradores, nesta noite de Natal, e no meio de uma humanidade que o ignorava completamente. Mas esta semente, aparecida na calada da noite, transformou o mundo e transformará o nosso coração. Podia imaginar Abraão que seria pai de tantas nações, como Deus lhe prometera? Podiam imaginar os Reis Magos quantos homens de todos os povos e nações seguiriam o seu exemplo? Sim, podiam, mas com muita fé.

Que esta seja a nossa fé, irmãos e irmãs! Deus quer precisar dela, como precisou da de Maria, de José e dos Reis Magos. Quantas coisas não realizará Deus através dela, se perseverarmos até ao fim, sem pretendermos ter a satisfação de ver resultados imediatos. Deus não nos enganou no Evangelho: a fé move montanhas. Mas não nos prometeu que veríamos estas montanhas a serem movidas. Deixemos tudo isso, junto com a nossa vida, nas mãos de Deus, nas mãos dessa criancinha, para que ela nos guie suavemente.

Imagens extraídas dos sites: http://fra-angelico.blogspot.com/ e http://oracoesemilagresmedievais.blogspot.com/

Leituras extraídas do site do Secretariado Nacional de Liturgia.


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