sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ausência da publicação das Homilias

Caros amigos,

Por questão de sobrecarga de trabalho pastoral, o Pe. Antoine Coelho, LC deixará, por tempo indeterminado, de nos enviar as suas homilias semanais.

Desejamos que volte em breve.

Vamos continuar contudo com o Grupo de Oração pelos Doentes e manter as notícias.

Um Abraço em Cristo,
Homilias e Orações

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Domingo XXIV do tempo comum, Ano C

LEITURA I Ex 32, 7-11.13-14

«O Senhor desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo»

Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias,
o Senhor falou a Moisés, dizendo:
«Desce depressa,
porque o teu povo, que tiraste da terra do Egipto, corrompeu-se.
Não tardaram em desviar-se do caminho que lhes tracei.
Fizeram um bezerro de metal fundido,
prostraram-se diante dele,
ofereceram-lhe sacrifícios e disseram:
‘Este é o teu Deus, Israel,
que te fez sair da terra do Egipto’».
O Senhor disse ainda a Moisés:
«Tenho observado este povo:
é um povo de dura cerviz.
Agora deixa que a minha indignação se inflame contra eles
e os destrua.
De ti farei uma grande nação».
Então Moisés procurou aplacar o Senhor seu Deus, dizendo:
«Por que razão, Senhor,
se há-de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo,
que libertastes da terra do Egipto
com tão grande força e mão tão poderosa?
Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel,
a quem jurastes pelo vosso nome, dizendo:
‘Farei a vossa descendência tão numerosa
como as estrelas do céu
e dar-lhe-ei para sempre em herança
toda a terra que vos prometi’».
Então o Senhor desistiu do mal
com que tinha ameaçado o seu povo.
Palavra do Senhor.

LEITURA II 1 Tim 1, 12-17

«Cristo veio salvar os pecadores»

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo a a Timóteo
Caríssimo:
Dou graças Àquele que me deu força,
Jesus Cristo, Nosso Senhor,
que me julgou digno de confiança
e me chamou ao seu serviço,
a mim que tinha sido blasfemo, perseguidor e violento.
Mas alcancei misericórdia,
porque agi por ignorância, quando ainda era descrente.
A graça de Nosso Senhor superabundou em mim,
com a fé e a caridade que temos em Cristo Jesus.
É digna de fé esta palavra
e merecedora de toda a aceitação:
Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores
e eu sou o primeiro deles.
Mas alcancei misericórdia,
para que, em mim primeiramente,
Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade,
como exemplo para os que hão-de acreditar n’Ele,
para a vida eterna.
Ao Rei dos séculos, Deus imortal, invisível e único,
honra e glória pelos séculos dos séculos. Amen.
Palavra do Senhor.


EVANGELHO Lc 15, 1-32

«Haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
os publicanos e os pecadores
aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem.
Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo:
«Este homem acolhe os pecadores e come com eles».
Jesus disse-lhes então a seguinte parábola:
«Quem de vós, que possua cem ovelhas
e tenha perdido uma delas,
não deixa as outras noventa e nove no deserto,
para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar?
Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros
e, ao chegar a casa,
chama os amigos e vizinhos e diz-lhes:
‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’.
Eu vos digo:
Assim haverá mais alegria no Céu
por um só pecador que se arrependa,
do que por noventa e nove justos,
que não precisam de arrependimento.
Ou então, qual é a mulher
que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma,
não acende uma lâmpada, varre a casa
e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar?
Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes:
‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’.
Eu vos digo:
Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus
por um só pecador que se arrependa».
Jesus disse-lhes ainda:
«Um homem tinha dois filhos.
O mais novo disse ao pai:
‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’.
O pai repartiu os bens pelos filhos.
Alguns dias depois, o filho mais novo,
juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante
e por lá esbanjou quanto possuía,
numa vida dissoluta.
Tendo gasto tudo,
houve uma grande fome naquela região
e ele começou a passar privações.
Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra
que o mandou para os seus campos guardar porcos.
Bem desejava ele matar a fome
com as alfarrobas que os porcos comiam,
mas ninguém lhas dava.
Então, caindo em si, disse:
‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância,
e eu aqui a morrer de fome!
Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe:
Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho,
mas trata-me como um dos teus trabalhadores’.
Pôs-se a caminho e foi ter com o pai.
Ainda ele estava longe, quando o pai o viu:
enchendo-se de compaixão,
correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos.
Disse-lhe o filho:
‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho’.
Mas o pai disse aos servos:
‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha.
Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés.
Trazei o vitelo gordo e matai-o.
Comamos e festejemos,
porque este meu filho estava morto e voltou à vida,
estava perdido e foi reencontrado’.
E começou a festa.
Ora o filho mais velho estava no campo.
Quando regressou,
ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.
Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo.
O servo respondeu-lhe:
‘O teu irmão voltou
e teu pai mandou matar o vitelo gordo,
porque ele chegou são e salvo’.
Ele ficou ressentido e não queria entrar.
Então o pai veio cá fora instar com ele.
Mas ele respondeu ao pai:
‘Há tantos anos que eu te sirvo,
sem nunca transgredir uma ordem tua,
e nunca me deste um cabrito
para fazer uma festa com os meus amigos.
E agora, quando chegou esse teu filho,
que consumiu os teus bens com mulheres de má vida,
mataste-lhe o vitelo gordo’.
Disse-lhe o pai:
‘Filho, tu estás sempre comigo
e tudo o que é meu é teu.
Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos,
porque este teu irmão estava morto e voltou à vida,
estava perdido e foi reencontrado’».
Palavra da salvação.

Homilia do Pe. Antoine Coelho, LC

Hoje, a liturgia do domingo oferece-nos as parábolas “da misericórdia” do Evangelho de São Lucas. São chamadas assim porque retratam de forma magistral o amor de Deus para com os pecadores, ou seja, para com todos nós

Pensemos na parábola da ovelha perdida. Um pastor tem cem ovelhas e perde uma, então deixa as 99 para buscar a perdida. Encontrando-a desborda de alegria e comunica a boa notícia a todos os vizinhos. Assim é Deus, quando se converte um pecador, de tal forma que há mais alegria ncéu com um pecador arrependido que com 99 justos que se salvam.

Mas existe uma grande diferença entre Deus e o pastor, o que torna ainda mais digna de admiração a alegria de Deus com a conversão dos pecadores. O pastor usa as ovelhas como meios de subsistência, pelo que a perda de uma delas significa um prejuizio pessoal. Deus não nos necessita. O que lhe podemos dar que Ele não possua já? Por isso, a sua alegria é puramente desinteressada; alegra-se com a nossa conversão, porque esta conversão é boa, é óptima para nós. Mas, curiosamente, Ele que não ganha nada com isso, alegra-se mais com o nosso arrependimento que nós mesmos. Deus ama-nos mais que nós nos amamos a nós mesmos.

E depois existe um outro elemento interessante. A ovelha, que se perdeu, na realidade, não ofendeu o pastor. O pecador, que rejeita Deus na sua vida, realmente ofende Deus, como todo filho ofende seriamente o seu pai terreno, quando não lhe manifesta gratidão. No entanto, Deus que teria todas as razões do mundo para se afastar deste pecador que o insultou, não deixa nunca de ir detrás dele para ver se o pode salvar. Como é belo o amor de Deus!

Um exemplo histórico pode ilustrar esta verdade. Sabemos que o Papa Pio VII foi tratado de forma inaceitável por Napoleão Bonaparte. Este meteu-o na prisão em França onde permaneceu muito tempo e pressionou-o de muitos modos para conseguir que o Papa assinasse um concordato entre o Estado francés e a Igreja, que não favorecia a fé em França. Mas em 1815, depois da derrota de Waterloo, Napoleão foi desterrado à ilha de Santa Helena. Não somente ele, mas toda a sua família caiu em desgraça. De senhores da Europa, passaram a ser desprezados por todos. Quem os acolheu, quando já não encontravam apoios? Pio VII.

A parábola do Filho Pródigo é ainda mais eloquente no que se refere ao amor de Deus. Nesta história, o pai foi claramente ultrajado, com um filho a preferir os prazeres cínicos do mundo ao seu amor, tendo sido dilapidados, para além disso, com esta história, grande parte dos seus bens. Tendo finalmente chegado a uma situação de degradação total, ao ponto de nem sequer poder alimentar-se do que comiam os porcos que guardava, o filho decide voltar à casa. Mas fá-lo movido por um sentimento nobre? “Ofendi o meu pai, devo pedir-lhe desculpas!” Não, nada disso: tem a barriga vazia. Consciente da sua total falta de categoria, ele mesmo não espera mais que ser recibido como um criado e passar o resto dos seus dias assim.

E eis que seu pai o recebe de braços abertos, veste-o com uma túnica condizente com a sua condição de filho, põe-lhe um anel ao dedo, símbolo também da excelência do seu rango. E como se fosse pouco, organiza uma festa com os melhores preparativos possíveis. Mas, temos vontade de dizer, será que isso é o mais correcto? Será que se pode actuar assim, como se nada tivesse acontecido? Não será anti-educativo?

Certamente o filho terá de “pagar” por todos os erros que fez, dado que será doloroso desarraigar toda a colecção de vícios que acumulou. Uma purificação interior terá de se realizar pouco a pouco para que o seu coração experimente novamente a liberdade de amar e se libere da auto-idolatria. Mas o que é certo é que o abraço do pai, que não somente o acolhe em casa, mas sobre tudo no seu coração, é a atitude mais adequada para que o filho possa começar um processo de sanação. Mas, se ficarmos com esta constatação e não avançarmos mais, teremos compreendido bem pouco o pai.

O pai não acolhe o filho simplesmente porque essa é a atitude correcta, porque esta é parte, digamos, de uma táctica ou de uma técnica de reabilitação. Aqui temos muito mais do que isso: aqui temos o Mistério do Amor divino e redentor. O Mistério deste Amor que é como um fogo insaciável, que é como uma fonte incessante de perdão, para quem esteja disposto a acolher este perdão. Aqui temos a força deste Amor que apesar de ultrajado, triturado na cruz, esmagado pelo ódio, triunfa porque não pode deixar de amar. Mas assim como não pode deixar de amar, não pode forçar ninguém a acolhê-lo, precisamente porque é amor. E aqui aparece paradoxalmente a possibilidade do inferno, para todos aqueles que se fecham em si mesmos.

Então, neste sentido, o pai não pode fazer outra coisa que abraçar o filho quando ele chega, pois todo ele é amor. Perguntar se esta é a melhor atitude é como perguntar-se se o amor deve existir ou não: é uma pergunta sem sentido. O amor é mais forte que a morte e, por isso, não pode deixar de abraçar quem morreu, para o fazer ressuscitar, e isso sem considerar se foi personalmente ofendido ou não.

Tudo isso tem que nos dar muitíssima esperança. Nada como o amor de Deus para nos dar esperança e confiança. Nada do que fizemos de mal ou faremos terá necessariamente a última palavra sobre nós. E não o terá de certeza, a menos de que desconfiemos do amor de Deus. A mais alta santidade é, na sua raiz, uma questão de confiança. Quem confia no Seu Amor tudo pode. Mas então, nesse caso, posso permitir-me qualquer coisa, dado que, no fim de contas, se confio no amor de Deus, safo-me? Mas quem pensa assim, não ama verdadeiramente, porque realmente é mesquinho tratar desta forma quem tanto fez por nós. E se quem pensa assim não ama e se não faz, por isso, a experiência do amor, como há-de crer e confiar realmente no amor de Deus? O que eu me posso permitir, o que me devo permitir, é sempre ir ao encontro do Senhor, com um desejo sincero de mudar e com a inabalável esperança de que este amor será mais forte que as minhas trevas.

sábado, 4 de setembro de 2010

Domingo XXIII do tempo comum, Ano C

LEITURA I Sab 9, 13-19 (gr. 13-18b)

«Quem pode sondar as intenções do Senhor»

Leitura do Livro da Sabedoria
Qual o homem que pode conhecer os desígnios de Deus?
Quem pode sondar as intenções do Senhor?
Os pensamentos dos mortais são mesquinhos
e inseguras as nossas reflexões,
porque o corpo corruptível deprime a alma
e a morada terrestre oprime o espírito que pensa.
Mal podemos compreender o que está sobre a terra
e com dificuldade encontramos o que temos ao alcance da mão.
Quem poderá então descobrir o que há nos céus?
Quem poderá conhecer, Senhor, os vossos desígnios,
se Vós não lhe dais a sabedoria
e não lhe enviais o vosso espírito santo?
Deste modo foi corrigido o procedimento dos que estão na terra,
os homens aprenderam as coisas que Vos agradam
e pela sabedoria foram salvos.
Palavra do Senhor.

LEITURA II Flm 9b-10.12-17

«Recebe-o, não já como escravo, mas como irmão muito querido»

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Filémon
Caríssimo:
Eu, Paulo, prisioneiro por amor de Cristo Jesus,
rogo-te por este meu filho, Onésimo, que eu gerei na prisão.
Mando-o de volta para ti, como se fosse o meu próprio coração.
Quisera conservá-lo junto de mim,
para que me servisse, em teu lugar,
enquanto estou preso por causa do Evangelho.
Mas, sem o teu consentimento, nada quis fazer,
para que a tua boa acção não parecesse forçada,
mas feita de livre vontade.
Talvez ele se tenha afastado de ti durante algum tempo,
a fim de o recuperares para sempre,
não já como escravo, mas muito melhor do que escravo:
como irmão muito querido.
É isto que ele é para mim
e muito mais para ti, não só pela natureza,
mas também aos olhos do Senhor.
Se me consideras teu amigo,
recebe-o como a mim próprio.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Lc 14, 25-33

«Quem não renunciar a todos os seus bens não pode ser meu discípulo»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
seguia Jesus uma grande multidão.
Jesus voltou-Se e disse-lhes:
«Se alguém vem ter comigo,
e não Me preferir ao pai, à mãe,
à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs
e até à própria vida,
não pode ser meu discípulo.
Quem não toma a sua cruz para Me seguir,
não pode ser meu discípulo.
Quem de vós, desejando construir uma torre,
não se senta primeiro a calcular a despesa,
para ver se tem com que terminá-la?
Não suceda que, depois de assentar os alicerces,
se mostre incapaz de a concluir
e todos os que olharem comecem a fazer troça, dizendo:
‘Esse homem começou a edificar,
mas não foi capaz de concluir’.
E qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei
e não se senta primeiro a considerar
se é capaz de se opor, com dez mil soldados,
àquele que vem contra ele com vinte mil?
Aliás, enquanto o outro ainda está longe,
manda-lhe uma delegação a pedir as condições de paz.
Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens,
não pode ser meu discípulo».
Palavra da salvação.

Homilia do Pe. Antoine Coelho, LC

Cristo põe as condições para os que querem segui-lo. Quem não estiver disposto a abraçá-las não pode ser seu discípulo. Atenção: não está dizer que quem não as aceitar será um discípulo de segunda categoria ou não será plenamente o seu discípulo. Simplesmente não poderá ser discípulo. Isso é muito forte, porque nós nos podemos considerar cristãos pelo facto de termos sido baptizados e de termos mantido a fé. Mas será que isso basta aos olhos de Deus para ser cristão?

Mas vejamos que condições põe Cristo. Não são muitas. De facto é uma só: a renúncia aos bens deste mundo. Claro: não por renunciar aos bens deste mundo sou discípulo do Senhor. Mas se não estiver disposto a passar por este caminho, não posso dizer-me seguidor de Cristo. Com efeito, não posso seguir Cristo e seguir-me a mim mesmo ao mesmo tempo. Se sigo Cristo, vou por um caminho que me leva à Cruz e à Resurreição; se me sigo a mim mesmo, seguirei os meus gostos pessoais e as coisas deste mundo.

Mas aqui temos de sublinhar um elemento importante. Não dissemos que tínhamos de passar pela renúncia, como se fosse uma porta que nos leva a Cristo. A renúncia não é uma porta, é um caminho que se faz pouco a pouco. Quem vai por um caminho até ao cume de uma montanha, já tomou uma decisão. Deixou a casa própria e todos os confortos que aí possui e está disposto a enfrentar a fadiga da subida. E essa decisão é fundamental, mesmo se está misturada inicialmente com muitos elementos alheios ao amor de Cristo.

Talvez no início da subida esteja a pensar muito naquilo que deixou para trás. A sua renúncia é frágil, está feita de vacilações e saudades. Mas conforme vai subindo descobre uma vista cada vez mais ampla e maravilhosa que lhe vai enchendo a alma, ao mesmo tempo que o cume brilhante vai tornando-se cada vez mais nítido. Então, pouco a pouco, a convicção de que tomou a decisão correcta crescerá, pois comprova concretamente que tudo aquilo que abandonou não era nada comparado com a beleza que se oferece à sua vista. Assim é a nossa vida espiritual, feita de uma renúncia cada vez mais profunda, quanto profunda é a nossa experiência pessoal do amor e da beleza de Deus, que resplandece em Cristo.

E realmente, tal como Cristo se transfigurou diante dos apóstolos no monte Tabor, assim vai se transfigurando pouco a pouco para aqueles que o seguem. É um fenómeno que é difícil de explicar para quem não o experimentou, para além de que as palavras humanas são muito insuficientes para o descrever. Mas o facto é que a luz de Cristo vai-se tornando cada vez mais radiante na vida espiritual, enchendo-a sempre mais e mais. Vale a pena ter tomado a decisão de segui-lo, vale a pena ter tomado a decisão de renunciar mesmo se esta renúncia ao início era ainda frágil e misturada com muitos apegos.

Como disse Cristo a uma mística francesa do século passado, Emmanuelle Bossis, até a tua boa vontade é uma graça, que Eu dou. Convém ter isso sempre em conta. Cristo pede-nos renunciar a coisas muito difíceis às vezes e podemos ter a sensação de que isso é inalcançável, de que não temos a suficiente “boa vontade” para fazê-lo.

Como aplicar à nossa vida, com efeito, o que propõe São Paulo na primeira carta aos Coríntios? “Eis o que vos digo, irmãos: o tempo dobrou as suas velas (ou seja, “fez-se curto”). Resta, pois, que aqueles que têm esposa, sejam como se não a tivessem; aqueles que choram, como se não chorassem; aqueles que se regozijam, como se não regozijassem; aqueles que compram, como se não possuíssem; aqueles que usam deste mundo, como se não o usassem plenamente, pois passa a figura deste mundo”. Em poucas palavras, o ideal que São Paulo apresentará, por inspiração de Deus, a todas as comunidades cristãs de todos os tempos é este: viver completamente desapegado de todas as criaturas para unicamente ter o coração em Deus. Claro, isso não significa não amar as criaturas, significa amá-las de tal forma que nenhuma me ate, que nenhuma possa ofuscar do modo mais pequeno a luz de Cristo no meu coração. O amor de Cristo não admite rivais de nenhuma classe, nada deve ser amado de forma comparável ao amor que temos por Ele, pois Ele nos criou e além disso pagou a nossa Vida Eterna com o seu próprio sangue da forma mais dolorosa e brutal.

Diante de tal exigência, a muitos nem lhes apetece pôr-se a caminho. Mas isso significa que nunca conhecerão o que é o amor, porque o amor de um homem ou de uma mulher, ou mesmo, o amor de uma multidão de amigos, se bem tem certo valor, é uma luz mínima comparada com o fogo que há em Deus. Ora, privar-se do amor é privar-se da vida mesma, pois se não vivemos para amar, para quê vivemos?

Quem sente não ter forças para renunciar, quem sente que nem sequer lhe apetece renunciar, peça o dom da boa vontade. Ela virá. “Não me apetece, nem remotamente ir à missa, porque acho tudo isso uma chatice”, pensará talvez mais de um. Mas quem pensa assim, no fundo, dá-se conta que aqui existe uma barreira importantíssima entre ele e o amor de Deus. O que fazer? Em primeiro lugar, reconhecer esta barreira: é o momento da sinceridade, um momento importantíssimo. E em segundo lugar, pedir uma boa vontade, pedir querer ir à missa. Se a petição for sincera e repetida, a “boa vontade” virá. E assim sucederá com todas as criaturas às quais não queremos renunciar, por mais amadas que sejam, se o pedirmos na oração de forma perseverante.

E também recordemos o que sabiamente nos diz São Paulo. “Passa a figura deste mundo”. O que vale este mundo comparado com a Eternidade? Pouca coisa. E no entanto, do modo como o considerámos nesta vida, dependerá a nossa Eternidade.

sábado, 28 de agosto de 2010

Domingo XXII do tempo comum, Ano C

LEITURA I Sir 3, 19-21.30-31 (gr.17-18.20.28-29)

«Humilha-te e encontrarás graça diante do Senhor»

Leitura do Livro de Ben-Sirá
Filho, em todas as tuas obras procede com humildade
e serás mais estimado do que o homem generoso.
Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te
e encontrarás graça diante do Senhor.
Porque é grande o poder do Senhor
e os humildes cantam a sua glória.
A desgraça do soberbo não tem cura,
porque a árvore da maldade criou nele raízes.
O coração do sábio compreende as máximas do sábio
e o ouvido atento alegra-se com a sabedoria.
Palavra do Senhor.

LEITURA II Hebr 12, 18-19.22-24a

«Aproximastes-vos do monte Sião, da cidade do Deus vivo»

Leitura da Epístola aos Hebreus
Irmãos:
Vós não vos aproximastes de uma realidade sensível,
como os israelitas no monte Sinai:
o fogo ardente, a nuvem escura,
as trevas densas ou a tempestade,
o som da trombeta e aquela voz tão retumbante
que os ouvintes suplicaram que não lhes falasse mais.
Vós aproximastes-vos do monte Sião,
da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste,
de muitos milhares de Anjos em reunião festiva,
de uma assembleia de primogénitos inscritos no Céu,
de Deus, juiz do universo,
dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição
e de Jesus, mediador da nova aliança.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Lc 14, 1.7-14

«Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
Jesus entrou, a um sábado,
em casa de um dos principais fariseus
para tomar uma refeição.
Todos O observavam.
Ao notar como os convidados escolhiam os primeiros lugares,
Jesus disse-lhes esta parábola:
«Quando fores convidado para um banquete nupcial,
não tomes o primeiro lugar.
Pode acontecer que tenha sido convidado
alguém mais importante do que tu;
então, aquele que vos convidou a ambos, terá que te dizer:
‘Dá o lugar a este’;
e ficarás depois envergonhado,
se tiveres de ocupar o último lugar.
Por isso, quando fores convidado,
vai sentar-te no último lugar;
e quando vier aquele que te convidou, dirá:
‘Amigo, sobe mais para cima’;
ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados.
Quem se exalta será humilhado
e quem se humilha será exaltado».
Jesus disse ainda a quem O tinha convidado:
«Quando ofereceres um almoço ou um jantar,
não convides os teus amigos nem os teus irmãos,
nem os teus parentes nem os teus vizinhos ricos,
não seja que eles por sua vez te convidem
e assim serás retribuído.
Mas quando ofereceres um banquete,
convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos;
e serás feliz por eles não terem com que retribuir-te:
ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.
Palavra da salvação.

Homilia do Pe. Antoine Coelho, LC

A primeira leitura, o livro de Ben Sirá, dá-nos um conselho que merece ser meditado muitas vezes: “quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te e encontrarás graça diante do Senhor”. Temos aqui novamente uma destas verdades da espiritualidade bíblica, que são um verdadeiro tesouro e que contrastam radicalmente com o pensamento do mundo. Para o século presente, o homem importante é precisamente aquele que não tem de se humilhar porque está acima de todos; não chegou ao cume para depois ter de se inclinar diante dos outros. A humildade para o mundo é símbolo de fraqueza, todo o contrário daquilo que se espera de um homem importante.
Mas, se o mundo presente pensa isso, é porque ainda não entendeu em que consiste a verdadeira humildade. Senão compreenderia que não somente é conveniente ao homem importante ser humilde, mas é absolutamente vital, se ele quer ser realmente um homem forte, que possa influenciar positivamente os outros.

O Evangelho deste domingo dá-nos umas pistas sobre o verdadeiro significado da humildade. “Quando fores convidado para um banquete nupcial”, diz o Senhor, “não tomes o primeiro lugar...quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar”. A conclusão do Senhor é magistral. Que pena que estamos tão acostumados a ouvi-la e assim deixamos de apreciá-la em toda a sua beleza e grandeza: “Quem se exalta será humilhado e que se humilha será exaltado”.

Costuma-se dizer na espiritualidade católica, citando Sta Teresa de Ávila, que “a humildade é a verdade”, no sentido de que o homem humilde é capaz de reconhecer a verdade da sua vida. Assim, segundo a interpretação que se costuma dar à frase de Sta Teresa, ser humilde significa ser consciente de que se é uma simples criatura. Não se deve confundir humildade com “miserabilismo”. O homem humilde, como está na verdade, reconhece objetivamente as suas qualidades e põe-nas a dar fruto, além de que não cai na soberba, porque é capaz de se dar conta de que todas as suas qualidades foram recibidas por Deus.

Tudo isso é verdade e estas considerações são equilibradas e valiosas. Mas falta um elemento importantíssimo: ver a humildade em Cristo e ver com mais atenção a humildade como no-la apresenta o Evangelho. Por exemplo, Cristo, no evangelho de hoje, não disse que o convidado devia sentar-se no lugar que lhe correspondia entre todos os lugares que havia. Disse que devia sentar-se no último lugar. Em realidade, Cristo com esta parábola, como em tantas outras, de forma velada, está a falar de si mesmo, está a falar do modo como el viveu a humildade e, necessariamente, do modo como a devemos viver. Ele é o Senhor do Céu e da Terra, o Criador de tudo, ao poder do qual nada escapa. E, no entanto, Ele morreu como o último dos bandidos. Quis deixar este mundo, momento tão importante, tomando o último lugar e, por isso, na sua humanidade foi elevado ao lugar mais elevado possível.

A humildade de Cristo é descrita de forma extraordinária, por São Paulo, na Epístola aos Filipenses: “Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso Deus o sobreexaltou grandemente e o agraciou com o Nome que é sobre todo o nome...”

Aqui encontramos a humildade de Cristo e a humildade cristã. O Evangelho de São Marcos também a ensina de forma excelente: “O Filho não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.

O homem humilde é aquele que vive fora de si mesmo e para os outros. A humildade é a força sobrenatural que nos dá o poder de não mais vivermos centrados em nós mesmos. Quem vive assim, não se preocupa se está bem ou se está mal, se foi humilhado ou louvado, se o trataram com deferência ou com indiferença, porque o seu centro de gravidade é o Outro, Deus, e também os outros.
Certo dia estava a pregar isso numa homilia e depois uma senhora veio ter comigo e disse-me: “Padre, isso é muito belo, e o nosso párroco levou-nos a este tipo de vida, uma vida totalmente para os outros, e simplesmente fiquei esgotada, não aguantei e agora tornei-me mais calculadora”. O comentário foi muito pertinente. É claro que temos de viver para os outros, porque é uma verdade do Evangelho tão central quanto irrenunciável , mas tudo depende do modo como se vive para os outros, tudo depende daquilo que quer dizer “viver para os outros”.

Se viver para os outros, significa somente “fazer coisas para os outros” e fazê-lo todo o tempo...acho que não iremos longe. Viver para os outros significa fundamentalmente ter o coração em Deus, viver numa profunda comunhão com Aquele que é a nossa vida. Viver para os outros não quer dizer revolucionar as actividades da nossa vida. Até pode ser que nem mudem muito. Significa sobretudo revolucionar o lugar que ocupa o nosso coração, passando a estar nos outros e, em primeiríssimo lugar, em Deus. Então as actividades, se calhar, não mudam muito exteriormente, mas a intenção é totalmente diversa: trabalha-se para o Reino de Deus.

Se o dom de nós mesmos não partir de uma profunda comunhão de corações com Deus, não partir da oração, passa a ser simplesmente uma actividade voluntarista. A pessoa dá-se aos outros porque acha que é o correcto e porque quer dar-se a eles. Quando isso acontece, sem se dar conta, a pessoa facilmente tende a buscar-se a si mesma. Infiltram-se intenções torcidas. Quer ser boa porque se quer ver boa. Falta a humildade. E então cansa-se, esgota-se, não tem as forças, dado que as forças só vêm de Deus e Ele não as dá a quem não actua com humildade.

Assim, vemos que a humildade não é uma virtude dos fracos, mas é força no Espírito, porque permite realizar o que esgotaria outros. Com efeito, o homem humilde esvazia-se de si mesmo para se encher do poder de Deus. O homem importante, precisamente porque é importante e tem muitas responsabilidades nas costas, necessita da força verdadeira de Deus, necessita da humildade. Essa o levará não já a olhar-se no espelho e a considerar o importante que é, mas a olhar para os outros, a descobrir que existe um mundo que precisa dele. E recordemos a frase de que partimos, a do sábio Ben Sirá: “quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te e encontrarás graça diante do Senhor”. Sim, humilhar-se como Cristo, que era a pessoa mais importante que tenha pisado esta terra...mas não humilhar-se sem Cristo, senão esta pseudo atitude de humildade será de soberba. Com efeito o Senhor disse: “sem mim nada podeis”.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Domingo XXI do tempo comum, Ano C

LEITURA I Is 66, 18-21

«De todas as nações hão-de reconduzir os vossos irmãos»

Leitura do Livro de Isaías
Eis o que diz o Senhor:
«Eu virei reunir todas as nações e todas as línguas,
para que venham contemplar a minha glória.
Eu lhes darei um sinal
e de entre eles enviarei sobreviventes às nações:
a Társis, a Fut, a Lud, a Mosoc, a Rós, a Tubal e a Javã,
às ilhas remotas que não ouviram falar de Mim
nem contemplaram ainda a minha glória,
para que anunciem a minha glória entre as nações.
De todas as nações, como oferenda ao Senhor,
eles hão-de reconduzir todos os vossos irmãos,
em cavalos, em carros, em liteiras,
em mulas e em dromedários,
até ao meu santo monte, em Jerusalém __ diz o Senhor __
como os filhos de Israel trazem a sua oblação
em vaso puro ao templo do Senhor.
Também escolherei alguns deles para sacerdotes e levitas».
Palavra do Senhor.

LEITURA II Hebr 12, 5-7.11-13
 
«O Senhor corrige aquele que ama»

Leitura da Epístola aos Hebreus
Irmãos:
Já esquecestes a exortação que vos é dirigida,
como a filhos que sois:
«Meu filho, não desprezes a correcção do Senhor,
nem desanimes quando Ele te repreende;
porque o Senhor corrige aquele que ama
e castiga aquele que reconhece como filho».
É para vossa correcção que sofreis.
Deus trata-vos como filhos.
Qual é o filho a quem o pai não corrige?
Nenhuma correcção, quando se recebe,
é considerada como motivo de alegria, mas de tristeza.
Mais tarde, porém,
dá àqueles que assim foram exercitados
um fruto de paz e de justiça.
Por isso, levantai as vossas mãos fatigadas
e os vossos joelhos vacilantes
e dirigi os vossos passos por caminhos direitos,
para que o coxo não se extravie,
mas antes seja curado.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Lc 13, 22-30

«Hão-de vir do Oriente e do Ocidente e sentar-se-ão à mesa no reino de Deus»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
Jesus dirigia-Se para Jerusalém
e ensinava nas cidades e aldeias por onde passava.
Alguém Lhe perguntou:
«Senhor, são poucos os que se salvam?»
Ele respondeu:
«Esforçai-vos por entrar pela porta estreita,
porque Eu vos digo
que muitos tentarão entrar sem o conseguir.
Uma vez que o dono da casa se levante e feche a porta,
vós ficareis fora e batereis à porta, dizendo:
‘Abre-nos, senhor’;
mas ele responder-vos-á: ‘Não sei donde sois’.
Então começareis a dizer:
‘Comemos e bebemos contigo
e tu ensinaste nas nossas praças’.
Mas ele responderá:
‘Repito que não sei donde sois.
Afastai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade’.
Aí haverá choro e ranger de dentes,
quando virdes no reino de Deus
Abraão, Isaac e Jacob e todos os Profetas,
e vós a serdes postos fora.
Hão-de vir do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul,
e sentar-se-ão à mesa no reino de Deus.
Há últimos que serão dos primeiros
e primeiros que serão dos últimos».
Palavra da salvação.

Homilia do Pe. Antoine Coelho, LC

O Evangelho deste domingo ajuda-nos a recordar a seriedad da nossa opção cristã. “Senhor, são poucos os que se salvam?”, perguntam a Jesus. Ele responde: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir”.

Recordo que, nos momentos da minha vida em que andava um pouco afastado do Senhor, este trecho do Evangelho deixava-me muito preocupado. “Serei dos que se hão-de salvar?”, pensava. “Que será de mim quando aparecer diante do Juiz supremo? Como justificarei a minha conducta?”

Certamente, são perguntas que todos temos de nos pôr num momento ou noutro da vida. Uma reflexão deste estilo foi decisiva para a conversão de São Francisco Xavier, quando meditou sobre este versículo do Evangelho: “De que serve ao homem conquistar o mundo, se com isso perder a sua alma?” São Bruno, fundador dos cartuxos, decidiu abandonar tudo e encerrar-se quase para toda a vida no silêncio da contemplação, quando, por um fenómeno extraordinário, descobriu junto com os seus conterrâneos, que um professor muito admirado por todos, se condenara para sempre.

Com efeito, Cristo chama-nos à conversão enquanto é tempo. “Convertei-vos porque o Reino de Deus está perto!” Sim, o momento do encontro com Cristo está sempre perto de nós e poderá dar-se de forma inesperada, como um ladrão que assalta um casa pela calada da noite. Os homens prudentes são os que se preparam para este encontro segundo os critérios do Evangelho e não segundo os juizos subjetivos de sua consciência: “mas eu não tenho pecados!”, “mas eu não faço mal a ninguém!”, “Ah, mas no fim de contas todos se salvam, Deus é tão bom; não é preciso ser fanático!”

Queremos saber quem é Deus? Queremos saber como será o juízo de Deus? Acudamos à Revelação que Deus fez de si mesmo, acudamos à Biblia. Mas não só. A Biblia está sujeita a muitas interpretações. Acudamos também à Tradição, ou seja, à Igreja, que nos ensinará como a Bíblia foi interpretada de forma contínua nestas questões, desde o tempo dos Apóstolos até aos nossos dias.

Desconfiemos quando ouvimos alguém dizer, seja leigo, seja sacerdote, seja teólogo, que a condenação eterna não existe. Para além de entrar em contradicção flagrante com um grande número de textos do Novo Testamento, não segue a Tradição sem interrupção da Igreja, começando pelos Apóstolos. Pessoalmente, confio decisivamente mais no que me diz a Igreja e o seu catecismo, do que nas opiniões privadas, por mais doutas que sejam. A Igreja é mais sábia que nós, os homens...e isso por ter a assistência especial e infalível do Espírito Santo em matéria de doutrina e moral.

É verdade que a porta que conduz ao Reino é estreita e que Deus necessita da nossa boa vontade para nos salvar, no entanto, também o Evangelho deste domingo recorda que “hão-de vir do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e sentar-se-ão à mesa no Reino de Deus”. No livro do Apocalipse, João teve o privilégio de contemplar um dos mais belos quadros que nos pinta a Bíblia: “Depois disso, eis que vi uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé diante do trono e diante do Cordeiro, trajados com vestes brancas e com palmas na mão”. A porta é estreita, sim, mas não são poucos os que se salvam.

E porque hão-de vir tantos de tão longe, do Oriente e do Ocidente, de Norte e do Sul? É porque buscam um Juiz severo que os pode condenar eternamente? Não, é porque buscam Deus, ou seja, a Beleza em pessoa, o Amor em pessoa, a Bondade absoluta. É porque buscam quem já os foi buscar e morreu por eles na cruz. Afirmar a possibilidade da condenação eterna não é negar o Deus de amor. Antes pelo contrário: a condenação mostra bem que, sem o nosso Deus, fonte de toda a felicidade, a vida é um inferno. Converter-se nunca pode ser fugir das “chamas terríveis da condenação”...é buscar o amor. As “chamas” simplesmente mostram que não existe outra opção que o amor e que todos os outros caminhos, por mais atraentes que possam parecer não levam a nenhum lado.

Com esta certeza no coração, orientemos novamente as nossas vidas para Deus com redobrados desejos de corresponder ao seu amor, que tanto se preocupa por nos salvar. E pidamos ao Senhor que nos dé as forças para caminhar sem desfalecer. Digamos-lhe que não nos basta que Ele esteja no fim do caminho. Digamos-lhes que o queremos ao nosso lado, porque sabemos que sem Ele nada podemos e que com Ele até mesmo as veredas mais escarpadas não são caminhos desagradáveis. Até mesmo as noites mais escuras, com Ele por perto, parecerão dias claros. Sim, Senhor, vem a nós constantemente. Desde os primeiros raios do amanhecer, ao longo de toda a jornada, até bem dentro do repouso da noite, vem a nós Senhor Jesus!

sábado, 14 de agosto de 2010

Domingo XX do tempo comum, Ano C

LEITURA I Jer 38, 4-6.8-10

«Geraste-me como homem de discórdia para toda a terra» (Jer 15, 10)

Leitura do Livro de Jeremias
Naqueles dias,
os ministros disseram ao rei de Judá:
«Esse Jeremias deve morrer,
porque semeia o desânimo entre os combatentes
que ficaram na cidade e também todo o povo
com as palavras que diz.
Este homem não procura o bem do povo,
mas a sua perdição».
O rei Sedecias respondeu:
«Ele está nas vossas mãos;
o rei não tem poder para vos contrariar».
Apoderaram-se então de Jeremias
e, por meio de cordas,
fizeram-no descer à cisterna do príncipe Melquias,
situada no pátio da guarda.
Na cisterna não havia água, mas apenas lodo,
e Jeremias atolou-se no lodo.
Entretanto, Ebed-Melec, o etíope,
saiu do palácio e falou ao rei:
«Ó rei, meu senhor, esses homens procederam muito mal
tratando assim o profeta Jeremias:
meteram-no na cisterna, onde vai morrer de fome,
pois já não há pão na cidade».
Então o rei ordenou a Ebed-Melec, o etíope:
«Leva daqui contigo três homens
e retira da cisterna o profeta Jeremias,
antes que ele morra».
Palavra do Senhor.

LEITURA II Hebr 12, 1-4

«Corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós»

Leitura da Epístola aos Hebreus
Irmãos:
Estando nós rodeados de tão grande número de testemunhas,
ponhamos de parte todo o fardo e pecado que nos cerca
e corramos com perseverança para o combate
que se apresenta diante de nós,
fixando os olhos em Jesus,
guia da nossa fé e autor da sua perfeição.
Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance,
Ele suportou a cruz, desprezando a sua ignomínia,
e está sentado à direita do trono de Deus.
Pensai n’Aquele que suportou contra Si
tão grande hostilidade da parte dos pecadores,
para não vos deixardes abater pelo desânimo.
Vós ainda não resististes até ao sangue,
na luta contra o pecado.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Lc 12, 49-53

«Não vim trazer a paz, mas a desunião»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
«Eu vim trazer o fogo à terra
e que quero Eu senão que ele se acenda?
Tenho de receber um baptismo
e estou ansioso até que ele se realize.
Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra?
Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão.
A partir de agora,
estarão cinco divididos numa casa:
três contra dois e dois contra três.
Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai,
a mãe contra a filha e a filha contra a mãe,
a sogra contra a nora e a nora contra a sogra».
Palavra da salvação.

Homilia do Pe. Antoine Coelho, LC

Às vezes o Evangelho parece contradizer-se. A liturgia deste domingo apresenta-nos um caso evidente. Sabemos que Cristo veio para dar-nos a paz. “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz”, asegura Ele no Evangelho de São João. No entanto, na passagem evangélica de hoje, Cristo avisa que não veio trazer a paz na terra. “Eu vos digo que vim trazer a divisão”. A divisão afectará inclusive as relações dentro das próprias famílias. “Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai”.

Recordo certa vez ter falado com uma jovem senhora em Espanha sobre este tema. Dizia-me que o seu pai tinha aceitado com virtude cristã e grande espírito de fé um cancro que o tinha levado finalmente à morte. Esta experiência tinha-a fortalecido grandemente na sua fé, tinha-lhe mostrado com toda evidência a presença de uma força sobrenatural, pacificando e consolado o coração do seu pai.

Curiosamente, o seu irmão, educado da mesma forma que ela, por causa da situação do pai, renegava a fé. “Como era possível”, dizia ele, “que Deus permitisse que o pai morresse desta forma?” Este jovem não fora capaz de abrir o coração à acção iluminadora do Espírito. Contemplava a situação no seu aspecto periférico – o drama da morte do pai – sem poder penetrar com os olhos na realidade interior: a vitória luminosa de Cristo no coração de este homem que aceitava oferecer sua vida para a salvação das almas. Do lado de fora, a morte, do lado de dentro a Resurreição de Cristo, salvando um homem do egoísmo e abrindo-lhe as portas do Céu.

Um abismo separava agora o irmão da irmã, os quais viviam a partir deste momento em dois mundos opostos: o da fé, cheio de esperança na vitória final sobre a morte, e o do agnosticismo, cujo horizonte parece estar encerrado por todos os lados pelas trevas da morte.

Mas então não será que Cristo veio para semear a divisão entre os homens, empurrando-os irremediavelmente em visões do mundo incompatíveis? À luz desta situação, não seria melhor propor às religiões, e especialmente ao cristianismo, que relativizem mais os seus conteúdos, de modo que possamos alcançar mais facilmente um certo entendimento entre os homens? Penso que estas perguntas escondem uma certa ingenuidade. Com efeito, o relativismo que as sociedades occidentais parecem defender não é um caminho para a paz. Ao contrário, favorece grandemente a exploração do homem pelo homem, o domínio despótico dos fortes, que já nem sequer temem ter de dar conta um dia dos seus actos ao Criador. Não bastam vagos princípios religisos. Necessitamos verdades religiosas, verdades “fortes” e últimas que protegem o homem; senão o caminho está aberto para todo tipo de abusos.

Na verdade, Cristo veio dar a paz, mas é uma paz tal, que quem não a aceita opta mais decididamente pela escuridão. Rejeitar Deus é sempre nocivo, mas rejeitar um Deus que morre por nós na cruz, com amor infinito, é pior ainda. A paz, que nos dá Cristo, não é despótica, não é fruto de uma violência ou coacção. Esta paz é uma opção oferecida ao homem. E por isso, não é realmente Cristo que divide os homens. É o homem que se divide. E em primeiro lugar, esta divisão se dá interiormente, se dá no coração daquele que não aceita, por egoísmo, o amor de Deus, pois não segue o grito da sua consciência. E depois se propaga nas relações entre os homens.

A primeira leitura, de Jeremias, é um exemplo claro disso. O profeta anuncia a destruição iminente de Jerusalem se os judeus não se decidirem a abandonar os próprios caminhos, e a enveredar por aqueles do Senhor. Então o profeta é rejeitado por grande parte do povo e termina por ser lançado num poço, onde acabaria por morrer, se o Senhor não o protegesse. O homem, que recusa o Deus do amor, é mais vulnerável às seducções da violência e à tentação de enfrentar com crueldade quem lhe diz a verdade sobre a sua vida.

Os judeus do tempo de Jeremias, que se creíam talvez muito religiosos, não adoravam autênticamente o Deus verdadeiro e, por isso, era mais fácil não lhes importar enviar para um poço quem os incomodava. Mas não se davam conta que rejeitar Deus desta forma leva à destruição. O seu fim, de facto, era iminente e a destruição de Jerusalem por Nabucodonosor havia de ser terrível e de uma crueldade sem limites. Basta dizer que, sem qualquer sentimento de compaixão e contra todas as regras de nobreza, Nabucodonosor pediu que furassem diante dele os olhos de Sedecias, rei de Jerusalem.

Sendo realistas, segundo o modo como Deus nos ensina a ser realistas – através da Bíblia – devemos reconhecer que, quando nos afastamos de Deus, se estabelece uma secreta conivência com as forças do mal e, então, o caminho dos povos dirige-se insensivelmente ao abismo. Peçamos muito a Deus que as sendas da nossa civilização occidental se abram à paz que vem de Deus. Para isso, muitos olhos fechados têm se abrir, muitos corações confundidos, devem buscar a simplicidade de Deus. A nossa oração pode alcançar grandes graças. Que ela também nos possa guiar na realização de uma corajosa acção evangelizadora, não segundo as nossas concepções humanas, mas segundo os caminhos do Senhor. Não há que perder tempo.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Caros amigos:
Deixo-lhes a homilia deste domingo. Acho que para a próxima semana não poderei escrever nada. Que Deus os guarde. Estamos unidos em Cristo.
Pe. Antoine, LC

LEITURA I Co 1, 2; 2, 21-23

«Que aproveita ao homem todo o seu trabalho?»

Leitura do Livro de Coelet
Vaidade das vaidades — diz Coelet —
vaidade das vaidades: tudo é vaidade.
Quem trabalhou com sabedoria, ciência e êxito,
tem de deixar tudo a outro que nada fez.
Também isto é vaidade e grande desgraça.
Mas então, que aproveita ao homem todo o seu trabalho
e a ânsia com que se afadigou debaixo do sol?
Na verdade, todos os seus dias são cheios de dores
e os seus trabalhos cheios de cuidados e preocupações;
e nem de noite o seu coração descansa.
Também isto é vaidade.
Palavra do Senhor.

LEITURA II Col 3, 1-5.9-11

«Aspirai às coisas do alto, onde está Cristo»

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
Irmãos:
Se ressuscitastes com Cristo,
aspirai às coisas do alto,
onde Cristo está sentado à direita de Deus.
Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra.
Porque vós morrestes
e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar,
também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória.
Portanto, fazei morrer o que em vós é terreno:
imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza,
que é uma idolatria.
Não mintais uns aos outros,
vós que vos despojastes do homem velho com as suas acções
e vos revestistes do homem novo,
que, para alcançar a verdadeira ciência,
se vai renovando à imagem do seu Criador.
Aí não há grego ou judeu, circunciso ou incircunciso,
bárbaro ou cita, escravo ou livre;
o que há é Cristo,
que é tudo e está em todos.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Lc 12, 13-21

«O que preparaste, para quem será?»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
alguém, do meio da multidão, disse a Jesus:
«Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo».
Jesus respondeu-lhe:
«Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?»
Depois disse aos presentes:
«Vede bem, guardai-vos de toda a avareza:
a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens».
E disse-lhes esta parábola:
«O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita.
Ele pensou consigo:
‘Que hei-de fazer,
pois não tenho onde guardar a minha colheita?
Vou fazer assim:
Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores,
onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens.
Então poderei dizer a mim mesmo:
Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos.
Descansa, come, bebe, regala-te’.
Mas Deus respondeu-lhe:
‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma.
O que preparaste, para quem será?’
Assim acontece a quem acumula para si,
em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».
Palavra da salvação.

Homilia do Pe. Antoine Coelho, LC

“A vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens”, recorda-nos Cristo no Evangelho este domingo. Ilustra esta verdade com uma parábola. Os campos de um homem produziram uma excelente colheita. Então decide construir celeiros maiores para aí guardar o trigo. Agora que tem suficientes bens, espera poder descansar até ao fim de sua vida sem trabalhar. Mas eis então que acontece o que ele não podia prever: esta noite perderá a vida e deverá dar conta da mesma ao Criador.

Contou-me o outro dia um padre jovem acerca de um importante empresário italiano, já reformado, que a certa altura lhe comentou: “padre, passei toda a minha vida a ganhar dinheiro. Isso é o que eu sabia fazer e a isso dediquei as minhas energias. Agora dou-me conta que tudo isso não servia para nada. Como gostaria de voltar a ter a sua idade e de optar por uma missão como a que você escolheu!”

A morte há-de chegar um dia para todos nós. Daqui a pouco tempo ou daqui a muito tempo. Pouco importa. O facto é que teremos de dar conta de nossa vida a Deus, a um Deus, ainda por cima, que morreu pendurado numa cruz por nós. O que Ele nos dirá será muito simples: “Eu amei-te e dei tudo o que tinha para ti. Amaste tu também?”

Quando ouvirmos esta pergunta, como tudo nos parecerá diferente! Como tudo se verá a uma luz bem diversa! Talvez exclamaremos: “como fui tão ingénuo ao ponto de dar importância àquilo que não valia nada! Porque deixei-me atrapar e enganar por meras futilidades?” O éxito social, os vestidos bonitos, as carreiras profissionais, as modas, a beleza corporal e os prazeres do mundo...tudo isso, que agora ocupa as mentes e os corações, tudo isso que causa preocupações e não deixa dormir tranquilo, tudo isso...parecerá mais vazio que o vento.

Para ter bem presente, como diz o salmo de hoje, que somos como a erva que de manhã reverdece e de tarde murcha, não poucos religiosos e sacerdotes, meditavam sobre a morte com uma caveira em frente. Obviamente, não é necessário utilizar estes meios, mas sim é necessário reflexionar detenidamente sobre estas verdades. Cada minuto que passa aproxima-nos mais do fim. Como o estou a usar?

A base da nossa vida não podem ser as coisas materiais, nem os seres humanos. Só Deus, porque só Ele fica e porque só Ele é a fonte do amor, que não esquece os seus amigos. Rapidamente os homens sobre a terra esquecem até mesmo as maiores celebridades. Homens que se declararam, no seu auge, mais famosos que Jesus Cristo, agora interessam a poucas pessoas.

Por isso, é importante desapegar o coração dos bens, das ocupações e dos nossos planos humanos. Como fazê-lo? Quando algo ata o coração, como é difícil liberá-lo! Realmente, só Cristo e o seu Espírito podem realizar esta obra. São João e São Tiago tinham as mãos agarrando as redes, símbolo do apego à sua vida passada, mas quando Cristo passou por eles e chamou-os, largaram tudo. Até deixaram o pai na barca. São Pedro assistiu à pesca milagrosa e deu-se conta que toda a sua habilidade como pescador não era nada comparado com aquilo que Deus queria realizar através dele, se fosse dócil. Que poder tem a voz e as acções de Cristo para sacudir os nossos corações adormecidos! A primeira coisa é abrir os ouvidos do coração e acreditar neste poder. Sim, esta pessoa ou realidade sem a qual nem sequer imagino que poderei ser feliz, Deus pode liberar-me dela e tornar-me incomparavelmente ainda mais feliz que se a tivesse. Por mais que me pareça impossível, tenho que acreditar que Ele tem esse poder.

Então, armado com essa fé e consciente de que necessito ser liberado, irei a Cristo através de muitas vias: a oração diária, os sacramentos, a leitura da Sagrada Escritura, Nossa Senhora!, peregrinações, retiros, apostolado, a direcção espiritual etc. Meios não faltam, graças a Deus, pois Ele, tão desejoso de nos salvar, quis tender muitíssimas pontes entre Ele e nós. Falta às vezes a fé e a constança.

Termino, citando a segunda leitura, da carta de São Paulo aos Colossenses, pois formula admiravelmente estas ideias: “irmãos, se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus...Portanto fazei morrer o que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é uma idolatria”. Sim, de facto, como diz São Paulo, já morremos com Cristo e já ressuscitamos com Ele pelo Baptismo, porque Cristo morreu e ressuscitou por nós. O poder da sua Resurreição em todo momento está a actuar em nós. Falta deixar que esta força liberadora, tão presente em nós, actue plenamente.

A fé, só a fé pode permitir, que Cristo termine de realizar o que já começou em nós. E o que é a fé? A fé é o nosso “sim” a Deus, um “sim” que aceita a aventura com Deus, que aceita o desconhecido, um “sim” que vence o temor do desconhecido, porque é capaz de olhar para o Deus que deu a vida por nós e quer responder com amor.