sexta-feira, 30 de julho de 2010

Caros amigos:
Deixo-lhes a homilia deste domingo. Acho que para a próxima semana não poderei escrever nada. Que Deus os guarde. Estamos unidos em Cristo.
Pe. Antoine, LC

LEITURA I Co 1, 2; 2, 21-23

«Que aproveita ao homem todo o seu trabalho?»

Leitura do Livro de Coelet
Vaidade das vaidades — diz Coelet —
vaidade das vaidades: tudo é vaidade.
Quem trabalhou com sabedoria, ciência e êxito,
tem de deixar tudo a outro que nada fez.
Também isto é vaidade e grande desgraça.
Mas então, que aproveita ao homem todo o seu trabalho
e a ânsia com que se afadigou debaixo do sol?
Na verdade, todos os seus dias são cheios de dores
e os seus trabalhos cheios de cuidados e preocupações;
e nem de noite o seu coração descansa.
Também isto é vaidade.
Palavra do Senhor.

LEITURA II Col 3, 1-5.9-11

«Aspirai às coisas do alto, onde está Cristo»

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
Irmãos:
Se ressuscitastes com Cristo,
aspirai às coisas do alto,
onde Cristo está sentado à direita de Deus.
Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra.
Porque vós morrestes
e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar,
também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória.
Portanto, fazei morrer o que em vós é terreno:
imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza,
que é uma idolatria.
Não mintais uns aos outros,
vós que vos despojastes do homem velho com as suas acções
e vos revestistes do homem novo,
que, para alcançar a verdadeira ciência,
se vai renovando à imagem do seu Criador.
Aí não há grego ou judeu, circunciso ou incircunciso,
bárbaro ou cita, escravo ou livre;
o que há é Cristo,
que é tudo e está em todos.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Lc 12, 13-21

«O que preparaste, para quem será?»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
alguém, do meio da multidão, disse a Jesus:
«Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo».
Jesus respondeu-lhe:
«Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?»
Depois disse aos presentes:
«Vede bem, guardai-vos de toda a avareza:
a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens».
E disse-lhes esta parábola:
«O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita.
Ele pensou consigo:
‘Que hei-de fazer,
pois não tenho onde guardar a minha colheita?
Vou fazer assim:
Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores,
onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens.
Então poderei dizer a mim mesmo:
Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos.
Descansa, come, bebe, regala-te’.
Mas Deus respondeu-lhe:
‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma.
O que preparaste, para quem será?’
Assim acontece a quem acumula para si,
em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».
Palavra da salvação.

Homilia do Pe. Antoine Coelho, LC

“A vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens”, recorda-nos Cristo no Evangelho este domingo. Ilustra esta verdade com uma parábola. Os campos de um homem produziram uma excelente colheita. Então decide construir celeiros maiores para aí guardar o trigo. Agora que tem suficientes bens, espera poder descansar até ao fim de sua vida sem trabalhar. Mas eis então que acontece o que ele não podia prever: esta noite perderá a vida e deverá dar conta da mesma ao Criador.

Contou-me o outro dia um padre jovem acerca de um importante empresário italiano, já reformado, que a certa altura lhe comentou: “padre, passei toda a minha vida a ganhar dinheiro. Isso é o que eu sabia fazer e a isso dediquei as minhas energias. Agora dou-me conta que tudo isso não servia para nada. Como gostaria de voltar a ter a sua idade e de optar por uma missão como a que você escolheu!”

A morte há-de chegar um dia para todos nós. Daqui a pouco tempo ou daqui a muito tempo. Pouco importa. O facto é que teremos de dar conta de nossa vida a Deus, a um Deus, ainda por cima, que morreu pendurado numa cruz por nós. O que Ele nos dirá será muito simples: “Eu amei-te e dei tudo o que tinha para ti. Amaste tu também?”

Quando ouvirmos esta pergunta, como tudo nos parecerá diferente! Como tudo se verá a uma luz bem diversa! Talvez exclamaremos: “como fui tão ingénuo ao ponto de dar importância àquilo que não valia nada! Porque deixei-me atrapar e enganar por meras futilidades?” O éxito social, os vestidos bonitos, as carreiras profissionais, as modas, a beleza corporal e os prazeres do mundo...tudo isso, que agora ocupa as mentes e os corações, tudo isso que causa preocupações e não deixa dormir tranquilo, tudo isso...parecerá mais vazio que o vento.

Para ter bem presente, como diz o salmo de hoje, que somos como a erva que de manhã reverdece e de tarde murcha, não poucos religiosos e sacerdotes, meditavam sobre a morte com uma caveira em frente. Obviamente, não é necessário utilizar estes meios, mas sim é necessário reflexionar detenidamente sobre estas verdades. Cada minuto que passa aproxima-nos mais do fim. Como o estou a usar?

A base da nossa vida não podem ser as coisas materiais, nem os seres humanos. Só Deus, porque só Ele fica e porque só Ele é a fonte do amor, que não esquece os seus amigos. Rapidamente os homens sobre a terra esquecem até mesmo as maiores celebridades. Homens que se declararam, no seu auge, mais famosos que Jesus Cristo, agora interessam a poucas pessoas.

Por isso, é importante desapegar o coração dos bens, das ocupações e dos nossos planos humanos. Como fazê-lo? Quando algo ata o coração, como é difícil liberá-lo! Realmente, só Cristo e o seu Espírito podem realizar esta obra. São João e São Tiago tinham as mãos agarrando as redes, símbolo do apego à sua vida passada, mas quando Cristo passou por eles e chamou-os, largaram tudo. Até deixaram o pai na barca. São Pedro assistiu à pesca milagrosa e deu-se conta que toda a sua habilidade como pescador não era nada comparado com aquilo que Deus queria realizar através dele, se fosse dócil. Que poder tem a voz e as acções de Cristo para sacudir os nossos corações adormecidos! A primeira coisa é abrir os ouvidos do coração e acreditar neste poder. Sim, esta pessoa ou realidade sem a qual nem sequer imagino que poderei ser feliz, Deus pode liberar-me dela e tornar-me incomparavelmente ainda mais feliz que se a tivesse. Por mais que me pareça impossível, tenho que acreditar que Ele tem esse poder.

Então, armado com essa fé e consciente de que necessito ser liberado, irei a Cristo através de muitas vias: a oração diária, os sacramentos, a leitura da Sagrada Escritura, Nossa Senhora!, peregrinações, retiros, apostolado, a direcção espiritual etc. Meios não faltam, graças a Deus, pois Ele, tão desejoso de nos salvar, quis tender muitíssimas pontes entre Ele e nós. Falta às vezes a fé e a constança.

Termino, citando a segunda leitura, da carta de São Paulo aos Colossenses, pois formula admiravelmente estas ideias: “irmãos, se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus...Portanto fazei morrer o que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é uma idolatria”. Sim, de facto, como diz São Paulo, já morremos com Cristo e já ressuscitamos com Ele pelo Baptismo, porque Cristo morreu e ressuscitou por nós. O poder da sua Resurreição em todo momento está a actuar em nós. Falta deixar que esta força liberadora, tão presente em nós, actue plenamente.

A fé, só a fé pode permitir, que Cristo termine de realizar o que já começou em nós. E o que é a fé? A fé é o nosso “sim” a Deus, um “sim” que aceita a aventura com Deus, que aceita o desconhecido, um “sim” que vence o temor do desconhecido, porque é capaz de olhar para o Deus que deu a vida por nós e quer responder com amor.

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