sábado, 7 de novembro de 2009

32º Domingo Tempo Comum, ano B

LEITURA I 1 Reis 17, 10-16

«Do seu punhado de farinha, a viúva fez um pãozinho e trouxe-o a Elias»

Leitura do Primeiro Livro dos Reis

Naqueles dias,o profeta Elias pôs-se a caminho e foi a Sarepta.Ao chegar às portas da cidade,encontrou uma viúva a apanhar lenha.Chamou-a e disse-lhe:«Por favor, traz-me uma bilha de água para eu beber».Quando ela ia a buscar a água, Elias chamou-a e disse:«Por favor, traz-me também um pedaço de pão».Mas ela respondeu:«Tão certo como estar vivo o Senhor, teu Deus,eu não tenho pão cozido,mas somente um punhado de farinha na panelae um pouco de azeite na almotolia.Vim apanhar dois cavacos de lenha,a fim de preparar esse resto para mim e meu filho.Depois comeremos e esperaremos a morte».Elias disse-lhe:«Não temas; volta e faz como disseste.Mas primeiro coze um pãozinho e traz-mo aqui.Depois prepararás o resto para ti e teu filho.Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel:‘Não se esgotará a panela da farinha,nem se esvaziará a almotolia do azeite,até ao dia em que o Senhor mandar chuva sobre a face da terra’».A mulher foi e fez como Elias lhe mandara;e comeram ele, ela e seu filho.Desde aquele dia, nem a panela da farinha se esgotou,nem se esvaziou a almotolia do azeite,como o Senhor prometera pela boca de Elias.
Palavra do Senhor.

LEITURA II Hebr 9, 24-28

«Cristo ofereceu-Se uma só vez para tomar sobre Si os pecados de muitos»

Leitura da Epístola aos Hebreus

Cristo não entrou num santuário feito por mãos humanas,figura do verdadeiro,mas no próprio Céu,para Se apresentar agora na presença de Deus em nosso favor.E não entrou para Se oferecer muitas vezes,como o sumo sacerdote que entra cada ano no Santuário,com sangue alheio;nesse caso, Cristo deveria ter padecido muitas vezes,desde o princípio do mundo.Mas Ele manifestou-Se uma só vez, na plenitude dos tempos,para destruir o pecado pelo sacrifício de Si mesmo.E, como está determinado que os homens morram uma só veze a seguir haja o julgamento,assim também Cristo, depois de Se ter oferecido uma só vezpara tomar sobre Si os pecados da multidão,aparecerá segunda vez, sem a aparência do pecado,para dar a salvação àqueles que O esperam.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Mc 12, 38-44

«Esta pobre viúva deu mais do que todos os outros»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,Jesus ensinava a multidão, dizendo:«Acautelai-vos dos escribas,que gostam de exibir longas vestes,de receber cumprimentos nas praças,de ocupar os primeiros assentos nas sinagogase os primeiros lugares nos banquetes.Devoram as casas das viúvascom pretexto de fazerem longas rezas.Estes receberão uma sentença mais severa».Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouroa observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa.Muitos ricos deitavam quantias avultadas.Veio uma pobre viúvae deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante.Jesus chamou os discípulos e disse-lhes:«Em verdade vos digo:Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros.Eles deitaram do que lhes sobrava,mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha,tudo o que possuía para viver».
Palavra da salvação.
Homilia do Pe Antoine Coelho, LC
Homilia do Domingo XXXII do tempo comum

A liturgia deste domingo fala-nos de duas viúvas. Ambas são pobres, indigentes e sem protecção. Que importância podem ter numa História da Salvação que espera a vinda do Homem-Deus para salvar a humanidade? E, no entanto, as suas histórias minúsculas estão indelevelmente gravadas na Revelação e antes passarão os céus e a terra que a narração do sucedido com estas pobres viúvas. Realmente isso diz-nos muito sobre quem é Deus.

A importância destas viúvas é a sua pequenez. De facto, nada no homem é mais importante que a pequenez, que a humildade, porque é a outra face do amor. Com efeito, a pequenez é o caminho necessário para este colosso que faz mover todas as coisas nos céus e na terra: o amor. Nenhuma das viúvas tinha realmente algo substancial para dar, mas o pouco que deram fez a diferença. Tudo isso mostra também que entre o grande e o pequeno existe menos que um passo. Há coincidência, quando a grandeza e a pequenez são genuínas, claro. Vejamos Cristo. Algo é mais pequeno que um pobre crucificado, condenado numa cidade periférica do Império Romano? Mas algo revelou mais esplendidamente que este episódio a grandeza de Deus? A transfiguração do monte Tabor é maravilhosa, mas maior Tabor é o Calvário no qual o rosto desfigurado do Senhor é a mais brilhante transfiguração, para quem sabe ver com os olhos do coração.

Por isso, a liturgia de hoje, mostra-nos que no mundo de Deus, no mundo do Evangelho, que é o mundo verdadeiro, ninguém deve sentir-se frustrado porque é mais pequeno, menos capacitado ou menos brilhante que outros. Como me dizia uma guia turística aqui em Roma, a arte tem bem pouco que ver com a grandeza material das coisas. Uma Pietà vale mais artisticamente que dez pirâmides, um soneto que um enciclopédia. Esta arte de Deus, que transforma os nossos corações pelo seu amor, tem bem pouco que ver com a grandeza das capacidades naturais e muito mais com a simples humildade de quem sabe ser dócil.

Mas vejamos agora a primeira leitura do livro dos Reis. A personagem central é o profeta Elias, que tendo profetizado ao rei Acab que não choveria durante anos, teve de se refugiar em Sarepta para evitar possíveis represálias do monarca. O que a falta de chuva simbolizava era sobre tudo o facto de que já não desciam as bênçãos de Deus sobre Israel. Com efeito, tinham-se afastado os israelitas do verdadeiro culto a Yahvé e tinham-se multiplicado os santuários e sacerdotes de Baal. Mas, o que buscavam eles com Baal? Uma prosperidade neste mundo, que agora lhes era retirado. É sempre assim. Quem se põe de joelhos diante das coisas deste mundo termina por perdê-las. Talvez ao princípio sinta que não é assim, que pondo de lado “limites morais” é mais capaz de conseguir os seus fins, é mais livre. Mas tudo o que não é amado em Deus será mais tarde ou mais cedo retirado ao homem. Pior ainda: tudo o que não é amado n’Ele acaba por envenenar o amante. Acaba por torná-lo mais fraco, menos lúcido, menos capaz inclusive de discernir o recto caminho para uma justa prosperidade neste mundo. No fim de contas, o caminho das virtudes é sempre o caminho da prosperidade. O caminho do vício, do caos interior, só pode desembocar no caos exterior.

O grande Elias, um dos maiores e mais importantes profetas do Antigo Testamento, que ressuscitou mortos e foi elevado ao céu num carro de fogo, não encontra com que comer e beber por causa da seca. Quem o vai salvar? Uma viúva que só tem um pouco de farinha e um pouco de azeite. Esta pobre mulher, que na verdade não tem outra coisa que o heroísmo de alimentar o profeta com tudo o que possui, vai salvar-se e salvar o Elias da fome. Pois a farinha dada com tanto amor não se pode acabar, tanto quanto sentimos que o amor não merece nunca ter fim. Como diz a Bíblia “não se esgotou a panela da farinha, nem se esvaziou a almotolia do azeite”. Tanto quanto estas pobres moedinhas que a viúva do Evangelho ofereceu ao templo nunca se acabarão. Não se acabarão, porque até ao fim dos tempos os homens, inspirando-se do seu exemplo, serão capazes de dar a Deus e ao próximo com mais facilidade. Que coisa é o amor! O simples acto de dar umas coisitas a Deus, porque é feito com amor, com todo o coração, é capaz de multiplicar os seus efeitos quase até ao infinito. Com quanta santa avidez não deveríamos passar a nossa vida a fazer actos de caridade, pensando que nenhum deles será demasiado pequeno para Deus.

E que grande aparece Deus em tudo isso! Como deve amar apaixonadamente a generosidade para lhe dar tanta fecundidade. E realmente esse é o amor que Deus ama: dar ao outro aquilo que de algum modo te custa dar, aquilo que implica um certo sacrifício. É esse amor que transforma o mundo: quando damos um “pedaço” de nós mesmos ao próximo. E quanto mais é central esse pedaço, quanto mais se aproxima do fundamento da tua vida, mais potentes são os seus efeitos. Pensemos em São Martinho, soldado romano ainda não baptizado que ao entrar na cidade de Nantes oferece a metade do seu manto a um pobre que tremia de frio. Na verdade não deu simplesmente a metade do que tinha, deu tudo, porque a outra metade do manto pertencia ao exército romano. E que recebeu em troca? Recebeu Cristo em pessoa que o visitou durante o sonho. É sempre assim. Dás coisas? Deus tas devolverá enriquecidas. Dás tudo? Ou seja, dás-te a ti mesmo? Receberás não coisas já, mas Deus.

Assim, o Evangelho apresenta-nos a pobre viúva que oferece tudo o que tinha ao templo. Umas escassas moedinhas. Mas antes, mostra-nos Jesus avisando as pessoas ao respeito dos fariseus: eles “gostam de exibir longas vestes, de receber cumprimentos nas praças, de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes. Devoram as casas das viúvas…” O contraste não podia ser mais marcado. Estes homens de tanto talento não são recordados positivamente por nenhuma das suas obras, porque foram fruto do seu amor-próprio e calculismo. Paradoxalmente, a viúva, que não tinha nenhum relevo na sociedade do seu tempo, aparentemente incapaz de influenciá-la significativamente, torna-se por graça de Deus, capaz de exercer uma acção benéfica para o resto dos tempos. O mesmo pode-se dizer das outras pessoas que ofereciam sumas avultadas ao templo. Não teriam algumas olhado com certo desprezo o dom desta pobre mulher? Ou se calhar nem sequer lhe tinham prestado a menor atenção. No entanto, a história esqueceu-as; a sua oferta tinha-se tornado talvez uma espécie de ritual que não empenha verdadeiramente o coração de quem dá, porque não obriga realmente este coração a dar algo que lhe custa, a dar algo seu.

Não cabe dúvida que os Evangelhos são um convite à radicalidade de vida. Certamente a generosidade não se deve opor à prudência. É preciso dar tudo. Mas há modos de dar tudo que não são prudentes nem adequados. Pode não dar tudo quem vende a sua casa e dá aos pobres e pode dar tudo quem a conserva pensando na família. Também não basta na vida um acto de generosidade heróica. Toda a nossa vida deve ser uma entrega generosa de tudo para Deus. Noutras palavras devemos viver para Ele, buscar sinceramente realizar toda a sua Vontade para nós, seguir o caminho específico que tem pensado para cada um de nós. E pedir muito a graça da generosidade, também, a graça de estar tão cheios de Ele, que pensemos e queremos como Ele pensa e quer. Isso requer uma vida de oração consistente e também dar-se conta daquilo que fazemos. Por exemplo, quando recebemos Cristo na comunhão, Ele não nos dá tudo o que é? Então deve brotar do nosso coração esta frase salutar: Senhor, dás-me tudo o que és, quero dar-te tudo o que sou! Tomara que esta petição esteja sempre nos nossos lábios unida a um verdadeiro desejo de mudar. Assim, a nossa vida deixará nesta terra uma luz que não se apagará.

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