domingo, 29 de novembro de 2009

II Domingo Advento Ano C

LEITURA I Bar 5, 1-9


«Deus mostrará o teu esplendor»
Leitura do Livro de Baruc
Jerusalém, deixa a tua veste de luto e afliçãoe reveste para sempre a beleza da glória que vem de Deus.Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deuse coloca sobre a cabeça o diadema da glória do Eterno.Deus vai mostrar o teu esplendora toda a criatura que há debaixo do céu;Deus te dará para sempre este nome:«Paz da justiça e glória da piedade».Levanta-te, Jerusalém,sobe ao alto e olha para o Oriente:vê os teus filhos reunidos desde o Poente ao Nascente,por ordem do Deus Santo,felizes por Deus Se ter lembrado deles.Tinham-te deixado, caminhando a pé, levados pelos inimigos;mas agora é Deus que os reconduz a ti,trazidos em triunfo, como filhos de reis.Deus decidiu abater todos os altos montes e as colinas secularese encher os vales, para se aplanar a terra,a fim de que Israel possa caminhar em segurança,na glória de Deus.Também os bosques e todas as árvores aromáticasdarão sombra a Israel, por ordem de Deus,porque Deus conduzirá Israel na alegria,à luz da sua glória,com a misericórdia e a justiça que d’Ele procedem.
Palavra do Senhor.

LEITURA II Filip 1, 4-6.8-11

«Puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo»

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses

Irmãos:Em todas as minhas orações,peço sempre com alegria por todos vós,recordando-me da parte que tomastes na causa do Evangelho,desde o primeiro dia até ao presente.Tenho plena confiançade que Aquele que começou em vós tão boa obrahá-de levá-la a bom termo até ao dia de Cristo Jesus.Deus é testemunhade que vos amo a todos no coração de Cristo Jesus.Por isso Lhe peço que a vossa caridadecresça cada vez mais em ciência e discernimento,para que possais distinguir o que é melhore vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo,na plenitude dos frutos de justiçaque se obtêm por Jesus Cristo,para louvor e glória de Deus.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Lc 3, 1-6

«Toda a criatura verá a salvação de Deus»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério,quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia,Herodes tetrarca da Galileia,seu irmão Filipe tetrarca da região da Itureia e Traconítidee Lisânias tetrarca de Abilene,no pontificado de Anás e Caifás,foi dirigida a palavra de Deusa João, filho de Zacarias, no deserto.E ele percorreu toda a zona do rio Jordão,pregando um baptismo de penitênciapara a remissão dos pecados,como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías:«Uma voz clama no deserto:‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.Sejam alteados todos os valese abatidos os montes e as colinas;endireitem-se os caminhos tortuosose aplanem-se as veredas escarpadas;e toda a criatura verá a salvação de Deus’».
Palavra da salvação.


Homilia do Pe Antoine Coelho, LC


Neste segundo domingo de Advento a liturgia apresenta-nos a figura de São João Baptista. A razão disso não é misteriosa: São João é o precursor, é aquele que ajudou Israel a regressar a aquilo que é fundamental na vida para se poder preparar à vinda transformante do Messias. Ele é também o novo Elias. Porquê “novo Elias”? Elias foi talvez o maior dos profetas do Antigo Testamento. O segundo livro dos Reis narra-nos que não conheceu a morte, mais foi levado directamente ao céu num carro de fogo. Por isso, esperava-se o seu regresso.

Mas não é só por isso que João era o “novo Elias”. Possivelmente a característica mais saliente do grande Elias foi o facto de que “ardia de zelo por Yahvé” e que dedicou toda a sua vida a lutar contra o culto idolátrico ao deus Baal. Ora, esta é a essência da missão de João: lutar contra a idolatria em todas as suas formas e sobretudo sob a forma do egoísmo que não é outra coisa que o culto de si mesmo. João deve preparar o caminho de Jesus para os corações dos homens, mas se nestes corações houver outros deuses, então o verdadeiro Deus não poderá entrar. Não aceitará este tipo de coabitações.

João chama-se a si mesmo “uma voz que clama no deserto”. Frase singela, mas muito rica de significados. João grita no deserto, mas este deserto não é necessariamente físico. É sobretudo o deserto dos corações que não sabem amar. A sua voz levanta-se com força nos ermos, mas não os pode mudar. Não pode fazer deles jardins verdejantes. Só Deus. Só Cristo. Somente Cristo é a “rocha” da qual brota a água. Como sabem, no livro dos Números Moisés golpeou duas vezes uma penha em pleno deserto para que dela brotasse a água que acalmaria a sede do povo e dos animais. Muitos padres da Igreja viram nessa pedra um símbolo de Cristo até porque o próprio Senhor disse de si mesmo aos seus adversários que ele era a pedra angular que os construtores desprezaram (cfr Salmo 117).

Assim, irrigar e transformar corações áridos em corações férteis para todo tipo de boas obras é tarefa exclusiva de Deus. De facto, numa das passagens mais belas de toda a Bíblia o profeta Ezequiel, falando em nome de Deus, exclama: “eu vos darei um único coração e porei nele um espírito novo. Tomarei o vosso coração de pedra e dar-lhes-ei um coração de carne, para que caminhem segundo os meus preceitos (Ez 11, 19-20)”. Só Deus pode tocar o centro do homem, entrar nestas profundezas que até o próprio homem desconhece, para fazê-lo viver de novo.

É aí, de facto, no coração do homem, onde reside o deserto mais árido e toda transformação política, social, económica resolve bem poucos problemas se não consegue atingir esta dimensão fundamental. E o que é esse “coração do homem”? Como o definiremos? É fundamentalmente o santuário de Deus, a casa onde Ele quer morar neste mundo. Por isso, quando o homem não se preocupa com as coisas de Deus, converte o centro vital da sua existência num deserto, numa casa triste, abandonada e vazia. E por isso o único Deus digno desta casa, o qual é, de facto, o único Deus que existe, só pode ser o Deus cristão. Porque só este Deus é amor, como nos ensina São João Evangelista. Nos nossos corações somente tem direito de entrar Aquele que é amor.

Mas voltemos a São João Baptista. Dizíamos que ele grita a corações que são parecidos a desertos. Ele sacode-os, fá-los tremer e temer, e ao mesmo tempo dá-lhes coragem. No entanto, ele é somente a voz. A Palavra, Cristo, ainda tem de vir. É Ele quem vive eternamente com o Pai e “virado para o Pai”, como ensina o Evangelho de São João: “No princípio existia a Palavra y la Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus” (Jo 1,1). Os gritos do Baptista sacodem os corações, mas somente Cristo, a Palavra, lhes pode falar. A sua palavra é sedutora, é uma palavra que é toda a sua vida de bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas. Assim, toca as fibras mais íntimas dos corações, as quais ainda são capazes de reconhecer a verdade, mesmo se a podem soterrar debaixo de mil preocupações secundárias. Se estes corações decidirem abrir-lhe os ouvidos, põem-se a responder e recomeça o seu diálogo de amor com Deus, que passa de novo a fazer deles a sua morada preferida. Assim, o diz São Ambrósio, segundo qual o lugar onde mais Deus ama estar é precisamente o coração do homem.

Mas então é pouco o que faz São João com as suas interpelações? De facto, é nada o que ele faz. E no entanto Deus quis necessitar desta nada para fazer tudo. O que este santo homem dizia às pessoas era, no fundo, isso: “preparai as vossas almas para Aquele que há de vir. Não posso nada para vocês, mas o que há de vir pode tudo. Mas se vocês não estiverem preparados não o reconhecerão e não lhe abrirão a alma”. Trata-se de uma sublime mensagem de esperança, porque na verdade não podemos fazer nada por nós mesmos naquilo que é realmente fundamental, mas a nossa preparação pessoal torna-se decisiva, porque vem Aquele que faz novas todas as coisas. Tal verdade, temos de a aplicar às nossas vidas, onde o desespero não tem sentido. Ninguém pode dizer que não pode mudar, porque realmente o que ele tem de fazer está ao alcance de todos: abrir-se ao Deus feito homem que vem cada dia ao nosso encontro e de modo especial neste Natal onde quer derramar grandes graças de salvação para todos. Preparemo-nos com profundidade para este evento decisivo.

Termino contando um episódio chave da vida de João Paulo II. Não porque em si seja especialmente importante, mas porque diz muito da sua vida espiritual. Durante a ocupação nazi de Cracóvia, dedicava-se ao teatro clandestino, como forma de preservar a cultura polaca contra a cultura da morte imposta por Hitler. Um dia, quando estava a actuar, no meio do seu discurso soaram monstruosamente na rua os altifalantes da propaganda nazi. No meio deste ruído, ninguém podia já ouvir o jovem actor. No entanto, ele continuou a falar. Este foi um dos segredos deste grande Papa. Nunca deixou falar, mesmo quando parecia que pregava num deserto onde ninguém lhe prestava atenção. Na sua vida, nunca se deixou abater com as limitações que encontrava em si mesmo ou nos outros. Continuava a falar com Deus e com o próximo, exortando-se a si mesmo e exortando. Era um homem de uma esperança colossal. E porquê? Porque sabia que Deus vinha cada dia ao seu coração e que nada do que fazia por Ele seria em vão.

Recordemos, pois, esta frase do livro do Apocalipse. É Cristo a falar à Igreja de Laodiceia, que tanto precisava de conversão: “Olha que estou à porta e chamo; se alguém ouve a minha voz e abre a porta, entrarei na sua casa e jantarei com ele e ele Comigo”. A isso realmente nos exorta João Baptista neste Advento. O caminho da salvação não é complicado. Basta abrir a porta. Recorda que só Ele pode entrar aí onde se joga toda a tua felicidade.


I Domingo Advento Ano C

LEITURA I

Jer 33, 14-16

«Farei germinar para David um rebento de justiça»

Leitura do Livro de Jeremias

Eis o que diz o Senhor:«Dias virão, em que cumprirei a promessaque fiz à casa de Israel e à casa de Judá:Naqueles dias, naquele tempo,farei germinar para David um rebento de justiçaque exercerá o direito e a justiça na terra.Naqueles dias, o reino de Judá será salvoe Jerusalém viverá em segurança.Este é o nome que chamarão à cidade:‘O Senhor é a nossa justiça’».
Palavra do Senhor.

LEITURA II 1 Tes 3, 12 -- 4, 2

«O Senhor confirme os vossos corações no dia de Cristo»

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses

Irmãos:O Senhor vos faça crescer e abundar na caridadeuns para com os outros e para com todos,tal como nós a temos tido para convosco.O Senhor confirme os vossos coraçõesnuma santidade irrepreensível,diante de Deus, nosso Pai,no dia da vinda de Jesus, nosso Senhor,com todos os santos.Finalmente, irmãos,eis o que vos pedimos e recomendamos no Senhor Jesus:recebestes de nós instruçõessobre o modo como deveis proceder para agradar a Deuse assim estais procedendo;mas deveis progredir ainda mais.Conheceis bem as normas que vos demosda parte do Senhor Jesus.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Lc 21, 25-28.34-36

«A vossa libertação está próxima»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:«Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelase, na terra, angústia entre as nações,aterradas com o rugido e a agitação do mar.Os homens morrerão de pavor,na expectativa do que vai suceder ao universo,pois as forças celestes serão abaladas.Então, hão-de ver o Filho do homem vir numa nuvem,com grande poder e glória.Quando estas coisas começarem a acontecer,erguei-vos e levantai a cabeça,porque a vossa libertação está próxima.Tende cuidado convosco,não suceda que os vossos corações se tornem pesadospela devassidão, a embriaguês e as preocupações da vida,e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha,pois ele sobrevirá sobre todos os que habitam a terra inteira.Portanto, vigiai e orai em todo o tempo,para terdes a força de vos livrar de tudo o que vai acontecere poderdes estar firmes na presença do Filho do homem».
Palavra da salvação

Homilia do Pe Antoine Coelho, LC

As leituras deste primeiro domingo de advento nos recordam que ser cristão significa esperar a vinda do Senhor. Com efeito vemos como Deus anuncia por boca do profeta Jeremias que “dias virão, em que cumprirei a promessa que fiz à casa de Israel e à casa de Judá: Naqueles dias, naquele tempo, farei germinar para David um rebento de justiça”. São Paulo expressa o desejo de que o Senhor confirme os corações dos tessalonicenses “numa santidade irrepreensível, diante de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de Jesus, nosso Senhor, com todos os santos.” Finalmente, o Evangelho fala-nos de uma vinda de Cristo “numa nuvem, com grande poder e glória”. Se o profeta do Antigo Testamento anuncia a primeira vinda do Senhor, na humildade de Belém, São Paulo e o Evangelho recordam-nos que existe uma segunda vinda em que se manifestará sem velos a sua Divindade.

Podemos perguntar-nos porquê o primeiro domingo do advento, refere-se às duas vindas de Cristo, quando no fim de contas este tempo é de preparação para o Natal. A resposta é simples. Agora a nossa preparação para as festas do Natal é ao mesmo tempo uma preparação para a segunda vinda de Cristo. Mas não podemos preparar-nos bem para esta segunda vinda, quando Cristo há de nos julgar, se não pusermos os nossos olhos na primeira vinda onde a humildade de Deus que se faz pequeno e vulnerável é o melhor antídoto para os problemas que embargam o nosso coração.

Se o Filho de Deus tivesse aparecido resplandecente numa grande capital do mundo antigo, em vez de nascer num miserável estábulo e se ele tivesse tido uma vida gloriosa, segundo o modo dos imperadores, por mais que ele tivesse governado com justiça, sobriedade e amor a lição não teria sido completa. Sempre teríamos pensado que ser grande consiste em deslumbrar os outros, ocupar postos especialmente relevantes onde as nossas decisões se impõem aos outros, viver em condições privilegiadas. E também, por mais que esse “Deus-imperador” tivesse buscado o contacto directo com as pessoas e mostrado interesse pelos seus pequenos problemas de cada dia, tê-lo-íamos sempre visto distante de nós, elevado num pedestal à altura do qual não poderíamos chegar. Mas Belém muda radicalmente os nossos modos de pensar. Em Belém, Deus é um bebé que precisa do calor dos nossos braços, é a criatura mais incapaz de sobreviver neste mundo, é o monarca que menos poder de coacção apresenta. Poderás dizer não a este Deus mendigo?

Mas talvez podes responder: “Não! Não é possível que Deus queira fazer isso. É contra a sua dignidade divina! Esse menino é um ser humano como todos os outros que a nossa imaginação religiosa divinizou”. No entanto, é em Belém que tocamos com as nossas mãos a incrível dignidade de Deus. Ele é tão digno e tão grande que não teme tornar-se pequeno. Não teme ser um mendigo que bate a tua porta. Poderemos afrentá-lo, desprezá-lo, ridiculizá-lo, pois está ao alcance da mão. Poderemos inclusive esmagá-lo e de facto fá-lo-emos crucificando-o na cruz, e também na Eucaristia com as nossas indiferenças e profanações. Mas se todas estas terríveis possibilidades significam pouco para Ele, comparado com a suprema possibilidade de conquistar em profundidade os nossos corações, então é porque o nosso Deus é de uma nobreza fora de toda proporção. E então fechar-lhe o coração não é simplesmente negar uma autoridade, fosse ela suprema; é negar o amor. Não lhe abrir totalmente as portas da nossa vida é fazer-se mal a si mesmo.

Mas abrir-lhe as portas do coração não se improvisa. Não é simplesmente o fruto de uma decisão pontual. Quem quiser subir os Himalaias deve treinar-se e assim renovar cada dia a sua decisão de subir a estes cumes, ao mesmo tempo que vai modificando pouco a pouco as suas características físicas. Temos de reaprender a amar, reeducar o nosso coração petrificado por maus hábitos, tornando-o disponível para o Senhor que vem. Por isso, São Paulo exorta oportunamente os tessalonicenses: “recebestes de nós instruções sobre o modo como deveis proceder para agradar a Deus e assim estais procedendo; mas deveis progredir ainda mais. Conheceis bem as normas que vos demos da parte do Senhor Jesus”. Devemos habituar-nos a seguir as regras do amor, e isso não significa outra coisa que ser fiel à moral que a Igreja nos pede. Mas falar de regras do amor não é rebaixá-lo, dar-lhe um rosto demasiado severo? O amor não deveria ser algo espontâneo e livre por excelência, não deveria ser o lugar da felicidade?

Mas o Senhor, ao respeito do dia da sua segunda vinda, avisa-nos: “tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela devassidão, a embriaguez e as preocupações da vida, e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha”. O amor é efectivamente o jardim da nossa vida, o oásis onde encontramos repouso e felicidade, mas precisa ser protegido. Para isso são as leis do amor. Facilmente o que pensamos ser amor transforma-se em busca de si mesmo e de prazer. Por termos bons sentimentos pensamos que amamos realmente. Mas amar é muito mais que isso, é fazer objectivamente o bem. Madre Teresa de Calcutá durante anos e anos, não sentia a presença de Deus na sua vida e as vezes dificilmente experimentava o amor de forma sensível, dado que o amado parecia ter-se desvanecido completamente. E no entanto, quem pode duvidar seriamente que esta mulher amou o Senhor até ao extremo? Há dois anos, nos Estados Unidos uma mãe perdoou publicamente ao assassino do seu filho. Tinha sentimentos de amor para com este? Provavelmente não. Mas soube pôr de lado o rancor e fazer o bem a este homem, liberando-o de um terrível peso.

Agora, também devemos dizer que não basta fazer exteriormente a vontade de Deus, vivendo para com ele uma espécie de obediência militar, que pode seguir escrupulosamente as instruções dadas e no entanto ter verdadeira aversão a quem lhe dá ordens. Quem ama Deus busca pôr todo o coração ao seu serviço, senão será aparentemente fiel mas permanecerá com um coração de pedra. E se não sentimos nada, como podemos pôr todo o meu coração? Não precisamos sentir para pôr todo o coração. Basta querê-lo. Basta dizer sinceramente ao Senhor: “Deus, quero que tudo o que faça seja realmente por ti”. Por isso, a quem perguntava a São João da Cruz como podia amar, este respondia com a maior simplicidade: “põe amor”. Não existe mais ciência que esta. Num oceano de sentimentos de rancor, pode-se amar com grandíssima força o inimigo, assim como num oceano de sentimentos aparentemente de amor, podemos servir-nos dos outros como se fossem meros objectos. A vida normalmente vai revelando a sinceridade do amor, e os sentimentos mais doces podem ir transformando-se em tédio e irritação, assim como os sentimentos inicialmente negativos vão pouco a pouco suavizando-se para finalmente desaparecer em quem busca abrir-se aos outros.

Nesse trabalho, a nossa bússola é sempre o Senhor. Quem aprende a contemplá-lo na oração, a pousar os olhos repetidamente no seu exemplo de pobreza, de humildade, vai abrindo o coração. É impossível que isso não suceda. Um coração morto para o amor, quando se põe diante de um Deus que se dá com tanto desinteresse não pode não reagir. Mesmo se não sentir nada das primeiras vezes, mesmo se não derramar lágrimas de arrependimento, algo actuou em profundidade, e talvez precisamente porque foi tão profunda e tão importante esta acção espiritual, não se sente nada. Mas para que não pensemos que o amor é miséria e leva à destruição de si mesmo, devemos também elevar os olhos do espírito até à segunda vinda gloriosa de Cristo, onde resplandece toda a força do amor.

Quem ama será um dia como Ele, mais brilhante que as estrelas. Quem se deu sem esperar recompensas e talvez tendo sido vítima de muitos vexames receberá a grande recompensa. Comparado com tal majestade futura as coisas deste mundo são pouca coisa: “as forças celestes serão abaladas”, diz o Evangelho. Os “homens-estrela” do nosso mundo deixarão de brilhar, se no seu coração não havia luz. Porque no fundo é isso que aparecerá no novo mundo: o nosso coração que ninguém podia observar, mas que Deus sempre tinha diante dos olhos. Isso também nos mostra que a indigência do amor nesta vida é mais forte, potente e estável que o que existe de mais estável e aparatoso no nosso universo. Aprendamos, pois a educar os olhos do coração para que saiba discernir, a mirada fixa no Senhor, o que realmente conta e o que é palha levada pelo vento. Que este seja o nosso exercício neste advento.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Domingo de Cristo Rei, 34º Domingo Tempo Comum, ano B

LEITURA I Dan 7, 13-14

«O seu poder é eterno»

Leitura da Profecia de Daniel
Contemplava eu as visões da noite,quando, sobre as nuvens do céu,veio alguém semelhante a um filho do homem.Dirigiu-Se para o Ancião venerávele conduziram-no à sua presença.Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza,e todos os povos e nações O serviram.O seu poder é eterno, não passará jamais,e o seu reino não será destruído.
Palavra do Senhor.


LEITURA II Ap 1, 5-8

«O Príncipe dos reis da terra fez de nós um reino de sacerdotes para Deus»

Leitura do Apocalipse
Jesus Cristo é a Testemunha fiel,o Primogénito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra.Àquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou do pecadoe fez de nós um reino de sacerdotes para Deus seu Pai,a Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amen.Ei-l’O que vem entre as nuvens,e todos os olhos O verão, mesmo aqueles que O trespassaram;e por sua causa hão-de lamentar-se todas as tribos da terra.Sim. Amen.«Eu sou o Alfa e o Ómega», diz o Senhor Deus,«Aquele que é, que era e que há-de vir,o Senhor do Universo».
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Jo 18, 33b-37
«É como dizes: sou Rei»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,disse Pilatos a Jesus:«Tu és o Rei dos judeus?»Jesus respondeu-lhe:«É por ti que o dizes,ou foram outros que to disseram de Mim?»Disse-Lhe Pilatos:«Porventura eu sou judeu?O teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim.Que fizeste?»Jesus respondeu:«O meu reino não é deste mundo.Se o meu reino fosse deste mundo,os meus guardas lutariampara que Eu não fosse entregue aos judeus.Mas o meu reino não é daqui».Disse-Lhe Pilatos:«Então, Tu és Rei?»Jesus respondeu-lhe:«É como dizes: sou Rei.Para isso nasci e vim ao mundo,a fim de dar testemunho da verdade.Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».
Palavra da salvação.

Homilia do Pe Antoine Coelho, LC
(Indisponivel)

sábado, 14 de novembro de 2009

33º Domingo Tempo Comum, ano B

LEITURA I Dan 12, 1-3

«Nesse tempo virá a salvação para o teu povo»

Leitura da Profecia de Daniel

Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande chefe dos Anjos,que protege os filhos do teu povo.Será um tempo de angústia,como não terá havido até então, desde que existem nações.Mas nesse tempo, virá a salvação para o teu povo,para aqueles que estiverem inscritos no livro de Deus.Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão,uns para a vida eterna,outros para a vergonha e o horror eterno.Os sábios resplandecerão como a luz do firmamentoe os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiçabrilharão como estrelas por toda a eternidade.
Palavra do Senhor.


LEITURA II Hebr 10, 11-14.18

«Por uma única oblação, tornou perfeitos para sempre os que foram santificados»

Leitura da Epístola aos Hebreus

Todo o sacerdote da antiga aliançase apresenta cada dia para exercer o seu ministérioe oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios,que nunca poderão perdoar os pecados.Cristo, ao contrário,tendo oferecido pelos pecados um único sacrifício,sentou-Se para sempre à direita de Deus,esperando desde então que os seus inimigossejam postos como escabelo dos seus pés.Porque, com uma única oblação,Ele tornou perfeitos para sempre os que Ele santifica.Onde há remissão dos pecados,já não há necessidade de oblação pelo pecado.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Mc 13, 24-32

«Reunirá os seus eleitos dos quatro pontos cardeais»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,disse Jesus aos seus discípulos:«Naqueles dias, depois de uma grande aflição,o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade;as estrelas cairão do céue as forças que há nos céus serão abaladas.Então, hão-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens,com grande poder e glória.Ele mandará os Anjos,para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais,da extremidade da terra à extremidade do céu.Aprendei a parábola da figueira:quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas,sabeis que o Verão está próximo.Assim também, quando virdes acontecer estas coisas,sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta.Em verdade vos digo:Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.Passará o céu e a terra,mas as minhas palavras não passarão.Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece:nem os Anjos do Céu, nem o Filho;só o Pai».
Palavra da salvação.

Homilia do Pe Antoine Coelho, LC

Homilia domingo XXXIII do tempo Comum

O Evangelho deste domingo apresenta-nos algumas oposições ou paradoxos, que são muito instrutivos. Em primeiro lugar, Cristo diz-nos que nos últimos dias “o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas”. A criação inteira é sacudida, inclusive parece que chegou a hora da sua destruição. Mas por outro lado, quando isso sucederá “hão-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à extremidade do céu”.

A força deste Evangelho encontra-se precisamente aqui nesta contraposição. Sabemos que na antiguidade, poucas coisas impressionavam mais que os astros. Numa terra em perpetua mudança, contemplar as estrelas luminosas que se deslocavam segundo trajectórias sempre constantes e aparentemente eternas, causava admiração. Não surpreende que em não poucas culturas tenham sido divinizadas ou quase divinizadas. Nos nossos dias, também os estudos sobre um universo sem limites cortam a respiração. Saber que na nossa galáxia, que é uma entre tantas, existem aproximadamente 100 milhões de estrelas como o sol, não deixa indiferente. E constantemente se produzem novos descobrimentos: parece que há pouco se deram conta que num lugar aparentemente vazio do universo se encontra toda uma serie de galáxias com milhões e milhões de astros. Diante de tal imensidão, pessoas põem em dúvida a existência de Deus…

No entanto, tudo isso terá fim. O Senhor dos homens é também o Senhor das Estrelas, o Senhor de toda a criação. Por isso o Filho do Homem aparecerá depois de que tudo isso for abalado, depois de que o homem se der conta do que valem realmente as criaturas, comparado com o Altíssimo. Ele virá “com grande poder e glória”. Assim este Evangelho mais que levar-nos à preocupação deve infundir confiança. Não nos preocupemos porque aquilo que parecia o mais seguro no universo será deitado abaixo, revelando que tudo o que nos rodeia sem excepção é precário. Porque isso nos mostra que aquilo que realmente sustenta as nossas vidas não são as frias leis do universo sem coração. É alguém, que pelo contrário tem um coração e para o qual somos importantes.

Nesta perspectiva toda a nossa vida apresenta um novo interesse. Pois que importância pode ter para o universo a minha trajectória pessoal pela vida? Em quê mudará a trajectória dos astros? Que significado terá numa história de quinze bilhões de anos? Realmente a esta luz nossa existência parece ridícula e vã. Mas se na origem de tudo está o Coração de Deus, que mais que nada está interessado em corações, então tudo o que eu faço se reveste de um grande interesse. A minha vida, menos que uma gota no meio do universo, é, no entanto, uma gota de amor, ou deve sê-lo ao menos. E assim, vale mais que tudo. Brilha mais que tudo. Cada acto de amor verdadeiro torna-se um tesouro. Com quanta avidez deveríamos coleccionar estes actos de amor! E com quanta avidez deveríamos buscar os homens que nos rodeiam, talvez desiludidos com a vida, e ensiná-los a apreciar cada latido do seu coração vivido por amor.

Quando “o Filho do homem mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à extremidade do céu”, que lhe interessará encontrar nos eleitos? O Evangelho de Mateus di-lo claramente: que tenhamos alimentado quem tinha fome, que tenhamos dado de beber a quem tinha sede, que tenhamos acolhido o estrangeiro, vestido o desnudo, visitado o doente, o prisioneiro etc…Poderíamos continuar a lista, pois as obras de caridade são infinitas. Vale a pena recordar uma obra de caridade cada vez mais urgente nas nossas sociedades marcadas pelo relativismo: a caridade espiritual e cultural. Há muitos sedentos do Evangelho, há muitos esfomeados de palavras de vida eterna.

Dar-lhes este alimento pode ser às vezes especialmente ingrato, porque podem não se saber esfomeados…Mas nenhuma das nossas palavras se há de perder. Não conhecemos o poder de acção do Espírito. As palavras que mais me ajudaram na minha vida para discernir a vocação foram palavras lançadas por pessoas “ao vento”, sem que me conhecessem sequer. Mas havia Alguém que as recolhia: o Espírito Santo que se servia delas para falar nas profundezas do coração.

Recentemente, uma jovem americana de São Francisco enviou-nos uma carta de agradecimento. Tinha decidido suicidar-se. Entrou no carro e começou a acelerar pensando chegar a uma ponte e lançar-se com o carro no vazio. Para se acalmar um pouco ligou o rádio ao acaso. Não recorda o que ouviu, mas era uma meditação sobre o Evangelho. Aquilo mudou-a completamente. Pouco a pouco foi reduzindo a velocidade, voltou a casa, chamou a paróquia onde teve um encontro frutuoso com um sacerdote que a confessou. Palavras lançadas ao vento salvaram-na. Não podia nunca imaginar o locutor da rádio o bem infinito que as suas simples palavras estavam a produzir na alma daquela jovem. Não podemos calcular o alcance das nossas palavras. Deus, sim pode, por isso as quer e com abundância, com desprendimento pessoal, sem timidez. Como será maravilhoso ver no fim dos tempos toda a luz que arrojaram!

Por isso, diz a profecia do livro de Daniel na primeira leitura: “os sábios resplandecerão como a luz do firmamento e os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça brilharão como estrelas por toda a eternidade”. Caros amigos, diz também Cristo no Evangelho deste domingo que “passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão”. Esta é também uma das contraposições que nele se encontra e igualmente muito consoladora! Todas as palavras que tenhamos dito com Cristo, por Cristo e sobre Cristo não passarão. É precisamente delas que brilharemos por toda a eternidade, de uma luz que não é como a dos nossos astros que um dia hão de cair. Esta não conhecerá ocaso.

sábado, 7 de novembro de 2009

32º Domingo Tempo Comum, ano B

LEITURA I 1 Reis 17, 10-16

«Do seu punhado de farinha, a viúva fez um pãozinho e trouxe-o a Elias»

Leitura do Primeiro Livro dos Reis

Naqueles dias,o profeta Elias pôs-se a caminho e foi a Sarepta.Ao chegar às portas da cidade,encontrou uma viúva a apanhar lenha.Chamou-a e disse-lhe:«Por favor, traz-me uma bilha de água para eu beber».Quando ela ia a buscar a água, Elias chamou-a e disse:«Por favor, traz-me também um pedaço de pão».Mas ela respondeu:«Tão certo como estar vivo o Senhor, teu Deus,eu não tenho pão cozido,mas somente um punhado de farinha na panelae um pouco de azeite na almotolia.Vim apanhar dois cavacos de lenha,a fim de preparar esse resto para mim e meu filho.Depois comeremos e esperaremos a morte».Elias disse-lhe:«Não temas; volta e faz como disseste.Mas primeiro coze um pãozinho e traz-mo aqui.Depois prepararás o resto para ti e teu filho.Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel:‘Não se esgotará a panela da farinha,nem se esvaziará a almotolia do azeite,até ao dia em que o Senhor mandar chuva sobre a face da terra’».A mulher foi e fez como Elias lhe mandara;e comeram ele, ela e seu filho.Desde aquele dia, nem a panela da farinha se esgotou,nem se esvaziou a almotolia do azeite,como o Senhor prometera pela boca de Elias.
Palavra do Senhor.

LEITURA II Hebr 9, 24-28

«Cristo ofereceu-Se uma só vez para tomar sobre Si os pecados de muitos»

Leitura da Epístola aos Hebreus

Cristo não entrou num santuário feito por mãos humanas,figura do verdadeiro,mas no próprio Céu,para Se apresentar agora na presença de Deus em nosso favor.E não entrou para Se oferecer muitas vezes,como o sumo sacerdote que entra cada ano no Santuário,com sangue alheio;nesse caso, Cristo deveria ter padecido muitas vezes,desde o princípio do mundo.Mas Ele manifestou-Se uma só vez, na plenitude dos tempos,para destruir o pecado pelo sacrifício de Si mesmo.E, como está determinado que os homens morram uma só veze a seguir haja o julgamento,assim também Cristo, depois de Se ter oferecido uma só vezpara tomar sobre Si os pecados da multidão,aparecerá segunda vez, sem a aparência do pecado,para dar a salvação àqueles que O esperam.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Mc 12, 38-44

«Esta pobre viúva deu mais do que todos os outros»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,Jesus ensinava a multidão, dizendo:«Acautelai-vos dos escribas,que gostam de exibir longas vestes,de receber cumprimentos nas praças,de ocupar os primeiros assentos nas sinagogase os primeiros lugares nos banquetes.Devoram as casas das viúvascom pretexto de fazerem longas rezas.Estes receberão uma sentença mais severa».Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouroa observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa.Muitos ricos deitavam quantias avultadas.Veio uma pobre viúvae deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante.Jesus chamou os discípulos e disse-lhes:«Em verdade vos digo:Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros.Eles deitaram do que lhes sobrava,mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha,tudo o que possuía para viver».
Palavra da salvação.
Homilia do Pe Antoine Coelho, LC
Homilia do Domingo XXXII do tempo comum

A liturgia deste domingo fala-nos de duas viúvas. Ambas são pobres, indigentes e sem protecção. Que importância podem ter numa História da Salvação que espera a vinda do Homem-Deus para salvar a humanidade? E, no entanto, as suas histórias minúsculas estão indelevelmente gravadas na Revelação e antes passarão os céus e a terra que a narração do sucedido com estas pobres viúvas. Realmente isso diz-nos muito sobre quem é Deus.

A importância destas viúvas é a sua pequenez. De facto, nada no homem é mais importante que a pequenez, que a humildade, porque é a outra face do amor. Com efeito, a pequenez é o caminho necessário para este colosso que faz mover todas as coisas nos céus e na terra: o amor. Nenhuma das viúvas tinha realmente algo substancial para dar, mas o pouco que deram fez a diferença. Tudo isso mostra também que entre o grande e o pequeno existe menos que um passo. Há coincidência, quando a grandeza e a pequenez são genuínas, claro. Vejamos Cristo. Algo é mais pequeno que um pobre crucificado, condenado numa cidade periférica do Império Romano? Mas algo revelou mais esplendidamente que este episódio a grandeza de Deus? A transfiguração do monte Tabor é maravilhosa, mas maior Tabor é o Calvário no qual o rosto desfigurado do Senhor é a mais brilhante transfiguração, para quem sabe ver com os olhos do coração.

Por isso, a liturgia de hoje, mostra-nos que no mundo de Deus, no mundo do Evangelho, que é o mundo verdadeiro, ninguém deve sentir-se frustrado porque é mais pequeno, menos capacitado ou menos brilhante que outros. Como me dizia uma guia turística aqui em Roma, a arte tem bem pouco que ver com a grandeza material das coisas. Uma Pietà vale mais artisticamente que dez pirâmides, um soneto que um enciclopédia. Esta arte de Deus, que transforma os nossos corações pelo seu amor, tem bem pouco que ver com a grandeza das capacidades naturais e muito mais com a simples humildade de quem sabe ser dócil.

Mas vejamos agora a primeira leitura do livro dos Reis. A personagem central é o profeta Elias, que tendo profetizado ao rei Acab que não choveria durante anos, teve de se refugiar em Sarepta para evitar possíveis represálias do monarca. O que a falta de chuva simbolizava era sobre tudo o facto de que já não desciam as bênçãos de Deus sobre Israel. Com efeito, tinham-se afastado os israelitas do verdadeiro culto a Yahvé e tinham-se multiplicado os santuários e sacerdotes de Baal. Mas, o que buscavam eles com Baal? Uma prosperidade neste mundo, que agora lhes era retirado. É sempre assim. Quem se põe de joelhos diante das coisas deste mundo termina por perdê-las. Talvez ao princípio sinta que não é assim, que pondo de lado “limites morais” é mais capaz de conseguir os seus fins, é mais livre. Mas tudo o que não é amado em Deus será mais tarde ou mais cedo retirado ao homem. Pior ainda: tudo o que não é amado n’Ele acaba por envenenar o amante. Acaba por torná-lo mais fraco, menos lúcido, menos capaz inclusive de discernir o recto caminho para uma justa prosperidade neste mundo. No fim de contas, o caminho das virtudes é sempre o caminho da prosperidade. O caminho do vício, do caos interior, só pode desembocar no caos exterior.

O grande Elias, um dos maiores e mais importantes profetas do Antigo Testamento, que ressuscitou mortos e foi elevado ao céu num carro de fogo, não encontra com que comer e beber por causa da seca. Quem o vai salvar? Uma viúva que só tem um pouco de farinha e um pouco de azeite. Esta pobre mulher, que na verdade não tem outra coisa que o heroísmo de alimentar o profeta com tudo o que possui, vai salvar-se e salvar o Elias da fome. Pois a farinha dada com tanto amor não se pode acabar, tanto quanto sentimos que o amor não merece nunca ter fim. Como diz a Bíblia “não se esgotou a panela da farinha, nem se esvaziou a almotolia do azeite”. Tanto quanto estas pobres moedinhas que a viúva do Evangelho ofereceu ao templo nunca se acabarão. Não se acabarão, porque até ao fim dos tempos os homens, inspirando-se do seu exemplo, serão capazes de dar a Deus e ao próximo com mais facilidade. Que coisa é o amor! O simples acto de dar umas coisitas a Deus, porque é feito com amor, com todo o coração, é capaz de multiplicar os seus efeitos quase até ao infinito. Com quanta santa avidez não deveríamos passar a nossa vida a fazer actos de caridade, pensando que nenhum deles será demasiado pequeno para Deus.

E que grande aparece Deus em tudo isso! Como deve amar apaixonadamente a generosidade para lhe dar tanta fecundidade. E realmente esse é o amor que Deus ama: dar ao outro aquilo que de algum modo te custa dar, aquilo que implica um certo sacrifício. É esse amor que transforma o mundo: quando damos um “pedaço” de nós mesmos ao próximo. E quanto mais é central esse pedaço, quanto mais se aproxima do fundamento da tua vida, mais potentes são os seus efeitos. Pensemos em São Martinho, soldado romano ainda não baptizado que ao entrar na cidade de Nantes oferece a metade do seu manto a um pobre que tremia de frio. Na verdade não deu simplesmente a metade do que tinha, deu tudo, porque a outra metade do manto pertencia ao exército romano. E que recebeu em troca? Recebeu Cristo em pessoa que o visitou durante o sonho. É sempre assim. Dás coisas? Deus tas devolverá enriquecidas. Dás tudo? Ou seja, dás-te a ti mesmo? Receberás não coisas já, mas Deus.

Assim, o Evangelho apresenta-nos a pobre viúva que oferece tudo o que tinha ao templo. Umas escassas moedinhas. Mas antes, mostra-nos Jesus avisando as pessoas ao respeito dos fariseus: eles “gostam de exibir longas vestes, de receber cumprimentos nas praças, de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes. Devoram as casas das viúvas…” O contraste não podia ser mais marcado. Estes homens de tanto talento não são recordados positivamente por nenhuma das suas obras, porque foram fruto do seu amor-próprio e calculismo. Paradoxalmente, a viúva, que não tinha nenhum relevo na sociedade do seu tempo, aparentemente incapaz de influenciá-la significativamente, torna-se por graça de Deus, capaz de exercer uma acção benéfica para o resto dos tempos. O mesmo pode-se dizer das outras pessoas que ofereciam sumas avultadas ao templo. Não teriam algumas olhado com certo desprezo o dom desta pobre mulher? Ou se calhar nem sequer lhe tinham prestado a menor atenção. No entanto, a história esqueceu-as; a sua oferta tinha-se tornado talvez uma espécie de ritual que não empenha verdadeiramente o coração de quem dá, porque não obriga realmente este coração a dar algo que lhe custa, a dar algo seu.

Não cabe dúvida que os Evangelhos são um convite à radicalidade de vida. Certamente a generosidade não se deve opor à prudência. É preciso dar tudo. Mas há modos de dar tudo que não são prudentes nem adequados. Pode não dar tudo quem vende a sua casa e dá aos pobres e pode dar tudo quem a conserva pensando na família. Também não basta na vida um acto de generosidade heróica. Toda a nossa vida deve ser uma entrega generosa de tudo para Deus. Noutras palavras devemos viver para Ele, buscar sinceramente realizar toda a sua Vontade para nós, seguir o caminho específico que tem pensado para cada um de nós. E pedir muito a graça da generosidade, também, a graça de estar tão cheios de Ele, que pensemos e queremos como Ele pensa e quer. Isso requer uma vida de oração consistente e também dar-se conta daquilo que fazemos. Por exemplo, quando recebemos Cristo na comunhão, Ele não nos dá tudo o que é? Então deve brotar do nosso coração esta frase salutar: Senhor, dás-me tudo o que és, quero dar-te tudo o que sou! Tomara que esta petição esteja sempre nos nossos lábios unida a um verdadeiro desejo de mudar. Assim, a nossa vida deixará nesta terra uma luz que não se apagará.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Domingo XXXI - Dia de todos os Santos

LEITURA I Ap 7, 2-4.9-14


«Vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas»

Leitura do Apocalipse de São João

Eu, João, vi um Anjo que subia do Nascente,trazendo o selo do Deus vivo.Ele clamou em alta vozaos quatro Anjos a quem foi dado o poderde causar dano à terra e ao mar:«Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores,até que tenhamos marcado na fronteos servos do nosso Deus».E ouvi o número dos que foram marcados:cento e quarenta e quatro mil,de todas as tribos dos filhos de Israel.Depois disto, vi uma multidão imensa,que ninguém podia contar,de todas as nações, tribos, povos e línguas.Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro,vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão.E clamavam em alta voz:«A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono,e ao Cordeiro».
Todos os Anjos formavam círculoem volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos.Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra,e adoraram a Deus, dizendo:«Amen! A bênção e a glória, a sabedoria e a acção de graças,a honra, o poder e a forçaao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amen!».Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me:«Esses que estão vestidos de túnicas brancas,quem são e de onde vieram?».Eu respondi-lhe:«Meu Senhor, vós é que o sabeis».
Ele disse-me:«São os que vieram da grande tribulação,os que lavaram as túnicase as branquearam no sangue do Cordeiro».
Palavra do Senhor.

LEITURA II 1 Jo 3, 1-3
«Veremos a Deus tal como Ele é»

Leitura da Primeira Epístola de São João

Caríssimos:Vede que admirável amor o Pai nos consagrouem nos chamar filhos de Deus.E somo-lo de facto.Se o mundo não nos conhece,é porque não O conheceu a Ele.Caríssimos, agora somos filhos de Deuse ainda não se manifestou o que havemos de ser.
Mas sabemos que, na altura em que se manifestar,seremos semelhantes a Deus,porque O veremos tal como Ele é.Todo aquele que tem n’Ele esta esperançapurifica-se a si mesmo,para ser puro, como Ele é puro.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO Mt 5, 1-12a

«Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo,ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se.
Rodearam-n’O os discípulose Ele começou a ensiná-los, dizendo:
«Bem-aventurados os pobres em espírito,porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados os humildes,porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que choram,porque serão consolados.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos,porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração,porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz,porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça,porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa,vos insultarem, vos perseguireme, mentindo, disserem todo o mal contra vós.
Alegrai-vos e exultai,porque é grande nos Céus a vossa recompensa».
Palavra da salvação.

Homilia do Pe Antoine Coelho, LC

Domingo de Todos os Santos

Este domingo, celebramos o dia de Todos os Santos. É uma festa importante no nosso calendário, pois nos mostra as grandes vitórias do homem quando está unido a Deus. Melhor ainda: quando deixa Deus actuar nele. Por isso, sempre que lemos a vida de um santo sentimos algo rejuvenescer e entusiasmar-se em nós. Recordemos o que exclamou S. Edith Stein então judia agnóstica quando leu as “Moradas” de Santa Teresa de Ávila: “isso é a verdade!” Sim, a beleza e a autenticidade da vida dos santos mostra-nos claramente que eles viveram em Cristo uma verdade diante da qual todas as outras desvanecem.

Mas vejamos o que nos dizem as leituras deste domingo ao respeito dos santos. A primeira, pertencente ao livro do Apocalipse, conta-nos uma visão extraordinária de São João: “Depois disto, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar,de todas as nações, tribos, povos e línguas”.

A santidade é para muitos. De facto, é para todos no plano de Deus. Toda a diversidade entra no número dos santos, todos os feitios, condições sociais, raças, povos e línguas. Ninguém pode pensar que não tem nem as capacidades nem as forças para pertencer a este número. Houve santos que eram neuróticos, e que nunca se curaram totalmente…O outro dia, assistíamos à canonização de São Damião de Molokai. Que acessos de cólera tinha às vezes! Não tinha o coração manso e humilde de Cristo, mas pouco a pouco o foi formando, sem perder a esperança. Por isso, creio que dos pensamentos mais perniciosos para o homem é esta subtil e quase invisível forma de desespero que nos leva a pensar que não podemos ser santos. Se dependesse somente das nossas forças, teríamos razão, mas não é isso. É sobre tudo uma obra de Deus em nós, em profundezas do nosso coração que escapam a toda intervenção humana. A nossa tarefa é ir progressivamente abrindo a alma a Deus para que ele a possa purificar.

Todos podemos ser santos porque Deus se adapta a cada um e a cada um leva por um caminho muito pessoal. Se São Paulo pôde dizer de si mesmo “fiz-me todo a todos para ganhar o maior número para Cristo”, com maior razão Cristo. Cristo é o caminho, diz o Evangelho de São João. É o único caminho até ao Pai, de facto, mas é um caminho que se adapta a cada homem. Não para lhe tornar a vida fácil e cómoda. Deus quer que todos subamos ao cume do Everest! Não querer o melhor de quem se ama, é amar pouco. Mas, ao mesmo tempo, ao ser por amor que nos quer nas alturas, pede a cada um o que este pode dar em cada jornada.

Mas podemos pensar também que isso da santidade são beatices, que é coisa de homens que não sabem ser nobres e grandes por si mesmos e precisam de se refugiarem num hipotético Deus, que lhes dá a segurança que não são capazes de adquirir por si mesmo. Mas consideremos de novo o livro do apocalipse, ao respeito dos santos: “São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro”, ou seja de Cristo. Além disso, “são também os que estão “de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro”.

São os que estão pé porque viveram realmente de pé, como homens, no meio de muitas tentações onde certamente o mais fácil teria sido pôr entre parêntesis a sua dignidade e a sua consciência. O santo é assim o mais humano dos homens, é o homem que mais se aproxima do que Deus pensou para ele. Mas subir a este nível exige coragem.

Existe, de facto, uma coragem própria da santidade que é muito mais profunda e radical que as “coragens” do mundo que povoam os nossos ecrãs de televisão ou livros de história. Não todos temos os nervos, a energia interior, a estrutura física e psicológica para realizar grandes façanhas, ao modo como as pintam os livros de aventuras. Tenho um amigo que se dedica a atravessar em solitário o oceano Atlântico. Contou-me todos os sacrifícios que tinha que realizar durante a travessia, contou-me as vezes em que se encontrou entre ondas colossais e conseguiu manter a calma necessária para uma luta de horas contra os elementos…Pensei: “isso não é para mim!”

Mas todos temos tudo o que é necessário para realizar a maior das façanhas: a santidade. E o que é o necessário para isso? Deus, só Deus é necessário. O sangue do Cordeiro, na qual devemos branquear as nossas túnicas. Mas da nossa parte, não é necessário algo? Sim, algo básico e elementar. Aceitar um caminho espiritual com Cristo, andando detrás de Ele e perseverando com Ele. Um caminho muito pessoal, intransferível, uma história única entre Deus e a alma. E onde nos leva tudo isso? A emergir-se no sangue do cordeiro, a compartilhar a experiência de Cristo. A verdadeira coragem é abandonar-se a si mesmo para se reencontrar a si mesmo infinitamente mais enriquecido em Deus.

Neste caminho espiritual com Cristo há momentos muito escuros. Mas eu prefiro infinitamente passar por momentos escuros e brilhar interiormente com esta certeza de que estou a seguir o que é justo e bom, prefiro isso a ter a escuridão “dentro de casa”, na minha alma, porque me escondo da luz de Deus. Quando tocam estes dias sombrios em companhia de Cristo, parece ressoar aos nossos ouvidos a pergunta que Ele mesmo lançou ao céu enquanto estava pregado à cruz: “Pai porquê me abandonaste?” Experimenta-se então o abandono de todos e de tudo segundo graus e intensidades que Deus vai doseando sabiamente para cada um. É a mesma coisa que experimentou Abraão quando pensou que tinha de oferecer em sacrifício a Deus o seu único filho. É o que sentiu João Paulo II, quando descobriu que padecia da doença de Parkinson. Isso, numa época em que a Igreja necessitava de modo especial de um Papa activo, forte e enérgico, alguém que nos pudesse galvanizar com a força da sua palavra.

Deus permite o crepúsculo das criaturas e dos apoios humanos e materiais, para que entendamos o que verdadeiramente conta: Ele. Cristo mostra-nos de novo como actuar quando exclama, sempre no Calvário e como resposta à sua pergunta anterior: “Pai abandono-te o meu espírito”. Ser santo é isso, é abandonar-se completamente nas mãos de Deus, é pôr nele todas as seguranças, todas as aspirações. Quando tudo parece absurdo na vida ao ponto que até o suicídio parece fazer sentido, a única resposta é o abandono. Ao mesmo tempo, é a resposta fecunda por excelência, porque quando o homem se abandona a Deus, faz entrar precisamente Deus em cena. O homem criado a imagem de Deus torna-se então uma janela transparente por onde irradia com força irresistível o Deus que o seu denso egoísmo escondia.

Mas ao mesmo tempo isso é ser feliz. Aqui finalmente chegamos ao Evangelho deste domingo que nos recorda que os bem-aventurados não são os que têm coisas, mas os pobres, porque deram tudo, abandonaram tudo aos outros. Não são os que dominam a terra, mas os que se deixaram dominar pelo amor de Deus, sendo humildes. Não são os que buscam todo tipo de consolações humanas e materiais, mas os que sabem chorar pelos outros, tomar o seu sofrimento, para ajudá-los, como Cristo na cruz. Não são os que saciam os seus olhos com todo tipo de imagens, mas os que limpam pela pureza de vida o olho da fé, de modo que ele possa descobrir o esplendor de Deus até nas coisas mais humildes do mundo. A lista poderia continuar.

Mas o que é certo é que aqui nos deparamos com o grande paradoxo cristão de que já falámos antes. É quando sabemos prescindir que tocamos Deus e que a nossa alma se enche de uma felicidade tão profunda quanto incomparavelmente superior a tudo o que temos neste mundo. Mas não só isso, goza-se das coisas do mundo com novo sabor, tudo parece brilhar com cores mais vivas. Com efeito, nada desaparece em Deus. Saber amar as coisas e as pessoas em Deus é descobri-las em toda a sua estatura. Por isso prescindir de si mesmo por Deus é reencontrar-se mais profundamente a si mesmo.

Por fim termino com a segunda leitura, a carta de São João. Somos já filhos de Deus, mas “ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus porque O veremos tal como Ele é”. Como agradeceremos então todas as nossas obras nesta terra que nos tornaram mais e mais semelhantes a Deus!!! Os sorrisos, os gestos de bondade, o tempo dedicado aos outros, todas as vezes que falámos de Cristo, as tentações que rechaçámos com coragem…Estas obras brilharão para sempre. Buscar ser santo é realmente o melhor investimento possível, porque é apostar por aquilo que nunca passará. Muitos fizeram esta aposta e chegaram longe. Porquê eles e não nós? Eram eles mais filhos de Deus que nós?