terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Taizé convida a rezar pelo Haiti no dia 12 de cada mês

Recebemos por e-mail a mensagem da Comunidade Taizé que vos passamos:

Taizé convida a rezar pelo Haiti no dia 12 de cada mês

Transmitindo a sugestão feita por um jovem do Haiti, depois do sismo do dia 12 de Janeiro, a Comunidade de Taizé convida todos os que puderem a rezar pelo povo do Haiti, sozinhos ou em grupo, no dia 12 de cada mês, durante 12 meses.

Este jovem, que foi voluntário em Taizé no Verão de 2006, escreveu: «A vida ou a morte, não vejo a diferença depois desta terça-feira, 12 de Janeiro, quando o país mergulhou numa profunda desordem. Mas Deus é grande e, uma vez que é amor, o seu plano de amor para nós já está estabelecido. Os cânticos de Taizé dão-me uma força e uma confiança nunca imaginadas. Peçam a todos os povos do mundo para rezar no dia 12 de cada mês, durante 12 meses, pelo povo haitiano. Não hesitem! É muito importante.»

Alguns jovens do Haiti, que foram voluntários em Taizé nos últimos anos, escreveram-nos do seu abalado país. Estes testemunhos estão publicados na página:

http://www.taize.fr/pt_article9736.html

O site de Taizé dará, antes de 12 de Fevereiro, uma proposta de oração que poderá ser utilizada nesse dia.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

3º Domingo do Tempo Comum, Ano C

LEITURA I Ne 8, 2-4a.5-6.8-10

«Liam o Livro da Lei e explicavam o seu sentido»

Leitura do Livro de Neemias
Naqueles dias,
o sacerdote Esdras trouxe o Livro da Lei
perante a assembleia de homens e mulheres
e todos os que eram capazes de compreender.
Era o primeiro dia do sétimo mês.
Desde a aurora até ao meio dia,
fez a leitura do Livro,
no largo situado diante da Porta das Águas,
diante dos homens e mulheres
e todos os que eram capazes de compreender.
Todo o povo ouvia atentamente a leitura do Livro da Lei.
O escriba Esdras estava de pé
num estrado de madeira feito de propósito.
Estando assim em plano superior a todo o povo,
Esdras abriu o Livro à vista de todos;
e quando o abriu, todos se levantaram.
Então Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus,
e todo o povo respondeu, erguendo as mãos:
«Amen! Amen!».
E prostrando-se de rosto por terra, adoraram o Senhor.
Os levitas liam, clara e distintamente, o Livro da Lei de Deus
e explicavam o seu sentido,
de maneira que se pudesse compreender a leitura.
Então o governador Neemias,
o sacerdote e escriba Esdras,
bem como os levitas, que ensinavam o povo,
disseram a todo o povo:
«Hoje é um dia consagrado ao Senhor, vosso Deus.
Não vos entristeçais nem choreis».
- Porque todo o povo chorava, ao escutar as palavras da Lei -.
Depois Neemias acrescentou:
«Ide para vossas casas,
comei uma boa refeição, tomai bebidas doces
e reparti com aqueles que não têm nada preparado.
Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor;
portanto, não vos entristeçais,
porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».
Palavra do Senhor.

LEITURA II Forma longa 1 Cor 12, 12-30

«Vós sois corpo de Cristo e seus membros, cada um na sua parte»


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Assim como o corpo é um só e tem muitos membros,
e todos os membros do corpo, apesar de numerosos,
constituem um só corpo,
assim sucede também em Cristo.
Na verdade, todos nós
__ judeus e gregos, escravos e homens livres __
fomos baptizados num só Espírito,
para constituirmos um só corpo,
e a todos nos foi dado a beber um só Espírito.
De facto, o corpo não é constituído por um só membro,
mas por muitos.
Se o pé dissesse:
«Uma vez que não sou mão, não pertenço ao corpo»,
nem por isso deixaria de fazer parte do corpo.
E se a orelha dissesse:
«Uma vez que não sou olho, não pertenço ao corpo»,
nem por isso deixaria de fazer parte do corpo.
Se o corpo inteiro fosse olho, onde estaria o ouvido?
Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfacto?
Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros,
segundo a sua vontade.
Se todo ele fosse um só membro, que seria do corpo?
Há, portanto, muitos membros, mas um só corpo.
O olho não pode dizer à mão: «Não preciso de ti»;
nem a cabeça dizer aos pés: «Não preciso de vós».
Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos
são os mais necessários;
os que nos parecem menos honrosos
cuidamo-los com maior consideração;
e os nossos membros menos decorosos
são tratados com maior decência:
os que são mais decorosos não precisam de tais cuidados.
Deus organizou o corpo,
dispensando maior consideração ao que dela precisa,
para que não haja divisão no corpo
e os membros tenham a mesma solicitude uns com os outros.
Deste modo, se um membro sofre,
todos os membros sofrem com ele;
se um membro é honrado,
todos os membros se alegram com ele.
Vós sois corpo de Cristo e seus membros,
cada um por sua parte.
Assim, Deus estabeleceu na Igreja
em primeiro lugar apóstolos,
em segundo profetas, em terceiro doutores.
Vêm a seguir os dons dos milagres, das curas, da assistência,
de governar, de falar diversas línguas.
Serão todos apóstolos? Todos profetas? Todos doutores?
Todos farão milagres? Todos terão o poder de curar?
Todos falarão línguas? Terão todos o dom de as interpretar?
Palavra do Senhor.

 EVANGELHO Lc 1, 1-4; 4, 14-21

«Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Já que muitos empreenderam narrar os factos
que se realizaram entre nós,
como no-los transmitiram os que, desde o início,
foram testemunhas oculares e ministros da palavra,
também eu resolvi,
depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as origens,
escrevê-las para ti, ilustre Teófilo,
para que tenhas conhecimento seguro do que te foi ensinado.
Naquele tempo,
Jesus voltou da Galileia, com a força do Espírito,
e a sua fama propagou-se por toda a região.
Ensinava nas sinagogas e era elogiado por todos.
Foi então a Nazaré, onde Se tinha criado.
Segundo o seu costume,
entrou na sinagoga a um sábado
e levantou-Se para fazer a leitura.
Entregaram-Lhe o livro do profeta Isaías
e, ao abrir o livro,
encontrou a passagem em que estava escrito:
«O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque Ele me ungiu
para anunciar a boa nova aos pobres.
Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos
e a vista aos cegos,
a restituir a liberdade aos oprimidos
e a proclamar o ano da graça do Senhor».
Depois enrolou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-Se.
Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga.
Começou então a dizer-lhes:
«Cumpriu-se hoje mesmo
esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».
Palavra da salvação.

Homilia Pe. Antoine Coelho, LC
 
Quem ouve a primeira leitura do domingo pode ficar um pouco desconcertado. Porque decretam um dia de festa depois de lerem o Livro da Lei? Não era a leitura da Lei em si algo frequente no povo judeu? Temos de entender que esta cena se deu depois do retorno do exílio em Babilónia. Uns 70 ou 80 anos antes, praticamente toda a população da Judeia tinha sido levado para Babilónia, por obra de Nabucodonosor. Tratava-se de um castigo, pois tinham-se rebelado contra este soberano, sendo que os judeus eram os seus vassalos.
 
Sucedeu ao império babilónico o dos persas, os quais, por serem mais respeitosos dos diversos povos do seu império, permitiram ao povo judeu retornar à sua pátria. No entanto, por causa de todas estas vicissitudes, o Templo tinha sido destruído e o Livro da Lei perdido. A primeira leitura mostra-nos uma assembleia solene e festiva que se constituiu, porque o Livro da Lei foi encontrado de novo entre os restos do Templo. Podem imaginar o fervor com que as pessoas ouviam de novo a Lei que lhes tinha sido dada por Moisés no Sinai. Esta lei, que Deus lhes comunicara havia já séculos, depois de liberá-los do Egipto, e que tinha animado a vida desse povo, voltava agora às suas mãos. Por isso, entende-se a exclamação dos levitas depois de a lerem: “hoje é um dia consagrado ao Senhor vosso Deus, não vos entristeçais nem choreis”.
 
Uma comoção ainda maior devia ter animado o povo de Nazareth, quando reunido em oração, ouviram Nosso Senhor ler-lhes uma passagem do livro de Isaías. Ponhamo-nos de novo em contexto. Jesus saiu de Nazareth como um “Zé Ninguém”, como um membro mais desta aldeia insignificante, perdida no meio de uma região igualmente insignificante do Império Romano: a Galileia. Mas eis que depois do seu Baptismo e a partir das bodas de Caná começa a realizar milagres impressionantes. Expulsa demónios com uma autoridade jamais vista. Bastava uma palavra da sua boca. A força da sua palavra é igualmente capaz de curar qualquer doença. Como se isso fosse pouco, a doutrina que sai dos seus lábios maravilha as multidões. É alguém que toca o mais profundo dos corações e que expõe sem vacilar.

Sim, Jesus não vacila quando fala, porque Ele é a Lei em pessoa. Essa Lei maravilhosa (os preceitos dos dez mandamentos, sobretudo), mais sábia que a de todos os outros povos, como cantam os salmos, não consiste simplesmente em letras escritas sobre um pergaminho. É uma Pessoa viva, é Cristo, porque Ele é a Vontade de Deus encarnada. Agora quando o homem quer saber o que tem de fazer na vida, não tem diante dos olhos um conjunto de preceitos frios: tem alguém. Por isso, a emoção em Nazareth devia ter sido infinitamente maior que a comoção experimentada em Jerusalém, quando acharam de novo a Lei. Depois de milhares e milhares de anos de espera, a Lei aparece em Pessoa, com rosto de homem, com rosto que ama. Ora bem, sabemos que Cristo a reacção não foi de entusiasmo, nem sequer de cordialidade. Cristo foi expulso da Sinagoga de forma humilhante, e quase morria pois o queriam lançar por um despenhadeiro. Mas escapou milagrosamente, dado que não chegara ainda a sua hora, a hora em a Lei encarnada do amor devia dar o testemunho supremo e vivo do amor.

Também sabemos que o júbilo do povo em Jerusalém, ao ouvirem de novo a Lei, durou pouco. Nunca conseguiram realmente vivê-la. As suas almas entusiasmadas ao início, esfriaram-se de novo. A ganância foi ganhando de novo terreno, assim como os vícios e os cultos aos falsos deuses, pois parecia ser mais vantajoso obter favores deles, dado que não eram tão exigentes como Yahwé. Porquê, se essa Lei era tão boa? É que ninguém dá a vida por uma Lei, por mais boa que seja. Podemos amar e respeitar uma lei, mas até certo ponto. O que nos realmente amamos são as pessoas. Claro, o povo também amava o seu Yahwé, que os tinha salvado do Egipto e de tantas dificuldades, mas onde estava Yahwé? Quem o podia tocar? No Templo de Jerusalém podia dar-se, de algum modo, um encontro entre o povo e Deus, mas era algo ainda demasiado frio. No fim de contas, o que tinham diante dos olhos era esta Lei exigente…mas essa Lei, por ser “tinta sobre papel” não lhes entrava no coração.

Só Cristo, Lei viva, exemplo imensamente amável do que Deus quer de nós, pode penetrar até ao mais profundo das entranhas. Somente com Ele, a Lei podia tornar-se interior e podíamos segui-la por puro amor e não por simples dever. Essa é uma das facetas da grandíssima transformação que trouxe Cristo ao mundo. Por isso, Ele pode afirmar, com toda a verdade, aos Nazarenos que hoje se tinha cumprido esta profecia: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção dos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos…”


Sim, Cristo liberou-nos deste peso imenso, deste divórcio sistemático nas nossas vidas entre consciência e coração, entre dever e amor, entre a Lei e o impulso da nossa afectividade. Como faz sofrer saber bem o que se tem de fazer e dar-se conta de que não se é capaz de o alcançar. Talvez alguém poderá dizer: “não sinto que Cristo me tenha liberado deste peso. Há anos que frequento a Igreja, que vou à Missa aos domingos, que faço orações todos os dias e, no entanto, sinto-me incapaz de cumprir a sua Vontade”.


Mas não vemos São Paulo exclamar: “Não sou mais eu que vivo mas Cristo que vive em mim?” Esta Lei maravilhosa, Cristo, é-lhe interior e então é capaz de cumpri-la. Muitos fizeram e fazem esta experiência. Claro: há graus e graus de perfeição e todos temos de melhorar, mas também, com certa frequência, encontram-se cristãos realizados, profundamente reconciliados com Deus e consigo mesmos. Precisamente porque Cristo vive neles e resplandece através deles. O exemplo de Santa Teresa do Menino Jesus é extraordinário. Durante anos foi vítima de uma hipersensibilidade. Chorava “por um sim ou por um não”. Qualquer palavra menos delicada arrancava-lhe rios de lágrimas. Mas ela rezava, segura de que Deus a salvaria deste estado penoso de excessivo amor-próprio. Claro: ela não era capaz de sair disso. O amor-próprio é invencível para o homem, porque até mesmo quando quer sair dele, fá-lo outra vez por amor-próprio. Mas Teresa confiou durante anos. Lutou. E finalmente no dia do Natal, voltando da Missa do Galo, Deus concedeu-lhe esta graça. O Menino Jesus tinha-lhe nascido com nova força no coração. A Lei do amor, do esquecer-se de si mesmo para pensar nos outros, era-lhe plenamente interior. “E então”, diz ela, “a partir desta data, os meus passos em direção à santidade foram gigantescos”.

Ser cristão, seguir os mandamentos da Igreja, todos eles sem excepções, não é, na verdade, um peso. Porque o amor não pesa. Porque o que a Igreja nos pede é ser como Cristo, com a nossa missão e vocação própria, está claro. E se pela oração, pela fé, pela confiança perseverante, esse Deus que já se encarnou, se encarna, de algum modo, de novo no nosso coração, claro que será fácil e até gozoso seguir a Lei de Deus! Se Deus nos pede o que nos pede, não é para nos tornar infelizes. Ele é o Pai! Pai, como ninguém o é. Cristo em nós é a chave e o único caminho para seguir esta lei que é ser como Cristo. Só Cristo pode levar-nos a ser como Cristo, obviamente. O que às vezes acontece é que queremos ser como Cristo mas através das nossas forças. Um cristianismo vivido assim, só pode ser frustrante. Mas não nos desesperemos. Temos Cristo connosco sempre que estamos dispostos a abrir-lhe o coração reconhecendo o pouco que somos. Assim, o desespero não pode ter lugar num cristão que não tem somente um exército a lutar por ele no Céu (como diz o Salmo 55), mas Deus mesmo, e ainda por cima crucificado.



quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

2º Domingo do Tempo Comum, Ano C

LEITURA I Is 62, 1-5

«A esposa é a alegria do marido»

Leitura do Livro de Isaías
Por amor de Sião não me calarei,
por amor de Jerusalém não terei repouso,
enquanto a sua justiça não despontar como a aurora
e a sua salvação não resplandecer como facho ardente.
Os povos hão-de ver a tua justiça
e todos os reis a tua glória.
Receberás um nome novo,
que a boca do Senhor designará.
Serás coroa esplendorosa nas mãos do Senhor,
diadema real nas mãos do teu Deus.
Não mais te chamarão «Abandonada»,
nem à tua terra «Deserta»,
mas hão-de chamar-te «Predilecta»
e à tua terra «Desposada»,
porque serás a predilecta do Senhor
e a tua terra terá um esposo.
Tal como o jovem desposa uma virgem,
o teu Construtor te desposará;
e como a esposa é a alegria do marido,
tu serás a alegria do teu Deus.
Palavra do Senhor.
 
LEITURA II 1 Cor 12, 4-11

«Um só e o mesmo Espírito , distribuindo a cada um conforme Lhe agrada»

Leitura da primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Há diversidade de dons espirituais,
mas o Espírito é o mesmo.
Há diversidade de ministérios,
mas o Senhor é o mesmo.
Há diversidade de operações,
mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos.
Em cada um se manifestam os dons do Espírito
para o bem comum.
A um o Espírito dá a mensagem da sabedoria,
a outro a mensagem da ciência, segundo o mesmo Espírito.
É um só e o mesmo Espírito
que dá a um o dom da fé, a outro o poder de curar;
a um dá o poder de fazer milagres,
a outro o de falar em nome de Deus;
a um dá o discernimento dos espíritos,
a outro o de falar diversas línguas,
a outro o dom de as interpretar.
Mas é um só e o mesmo Espírito que faz tudo isto,
distribuindo os dons a cada um conforme Lhe agrada.
Palavra do Senhor.
 
EVANGELHO Jo 2, 1-11
O primeiro milagre de Jesus

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
realizou-se um casamento em Caná da Galileia
e estava lá a Mãe de Jesus.
Jesus e os seus discípulos
foram também convidados para o casamento.
A certa altura faltou o vinho.
Então a Mãe de Jesus disse-Lhe:
«Não têm vinho».
Jesus respondeu-Lhe:
«Mulher, que temos nós com isso?
Ainda não chegou a minha hora».
Sua Mãe disse aos serventes:
«Fazei tudo o que Ele vos disser».
Havia ali seis talhas de pedra,
destinadas à purificação dos judeus,
levando cada uma de duas a três medidas.
Disse-lhes Jesus:
«Enchei essas talhas de água».
Eles encheram-nas até acima.
Depois disse-lhes:
«Tirai agora e levai ao chefe de mesa».
E eles levaram.
Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho,
_ ele não sabia de onde viera,
pois só os serventes, que tinham tirado a água, sabiam __
chamou o noivo e disse-lhe:
«Toda a gente serve primeiro o vinho bom
e, depois de os convidados terem bebido bem,
serve o inferior.
Mas tu guardaste o vinho bom até agora».
Foi assim que, em Caná da Galileia,
Jesus deu início aos seus milagres.
Manifestou a sua glória
e os discípulos acreditaram n’Ele.

Palavra da salvação.

Homilia do Pe Antoine Coelho, LC

Se o Evangelho de Lucas no domingo passado nos falava do Baptismo de Jesus, a partir do qual o Senhor inicia a sua vida pública, neste segundo domingo do tempo comum, o Evangelho de São João apresenta-nos outro episódio que marca também o início do seu ministério. Trata-se da narração das bodas de Caná, onde resplandece, por assim dizer, o aspecto mariano deste início. Deus Pai, Deus Espírito Santo, São João Baptista tiveram um papel importante. Maria teria ficado na sombra, se o evangelista São João não nos tivesse narrado o que sucedeu nestas bodas. Não foi pouca coisa. Nelas, Cristo “deu início aos seus milagres, manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele”.

Tudo isso foi possível através de uma intervenção de Nossa Senhora. Às vezes, podemos pensar que ela teria sentido a tentação de se lamentar um pouco com a saída do Filho, mas que por virtude teria oferecido isso a Deus com paz. Mas João mostra-nos outra coisa. Ela mesma fomenta a manifestação do Filho único ao mundo. Mas não terá sido duro para ver-se privada de repente da companhia do Senhor? No entanto é precisamente aceitando com amor a ausência do Filho que ele pode tornar-se mais presente, ou melhor, presente a um nível mais profundo e decisivo.

Mas voltemos à frase já mencionada de São João, que nos mostra o que se conseguiu através da intervenção de Maria em Caná: “Jesus deu início aos seus milagres, manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele”. Pessoalmente acho que, aqui, nesta última frase tão inspirada, está explicado, de forma condensada, como Maria ajuda o Senhor a estar presente na vida de cada um de nós. “Se quiserdes ver milagres”, dizia D. Bosco, rezai a Maria. Sim, por ela, a potência transformadora de Deus irrompe nas nossas vidas com força. Quem contempla a vida do Senhor, através do rosário, por exemplo, conhecerá a glória de Cristo e as tentações “baratas” do mundo perderão poder sobre ele. E por fim, Maria leva-nos à fé, porque ela mesma a praticou, de forma extraordinária, acompanhando o filho.


Maria, de facto, se repararmos bem, está presente nos momentos mais marcantes da salvação realizada por Jesus. Por isso, talvez ela torna a salvação mais acessível para todos nós. Obviamente não pôde não estar presente no momento da Encarnação, que se realizou no seu seio, e no do nascimento do Salvador. Mas também está ao seu lado no início da vida pública em Caná, está ao pé da cruz e finalmente em Pentecostes, onde se derrama sobre a Igreja o Espírito Santo, que torna o Senhor mais plenamente presente nos corações dos apóstolos. Vemos, assim, quão ligada está Ela ao Mistério do seu Filho.

Voltemos às bodas de Caná, para descobrirmos um pouco mais o que nos pode ensinar São João sobre Jesus e Maria. A um determinado momento, falta o vinho. Poucos ou ninguém, talvez, reparou. Mas Maria está atenta e actua com discrição. Penso que isso terá sido uma constante na vida de Nossa Senhora. Amou e resolveu muitas coisas nas vidas dos homens, mas actuando na sombra.

Então, ela avisa o Filho: “não têm vinho”. Como se ela esperasse que Ele resolvesse milagrosamente a situação. Mas como podia ela esperar tal coisa, se Jesus ainda não começou os milagres? Há aqui um mistério de penetração do coração do seu Filho que não podemos compreender bem, algo que talvez só uma mãe pode entender adequadamente. O facto é que ela recebe do Filho uma aparente negativa: “Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora”. Mas, outra vez, apesar das aparências, Maria acerta. No seu lugar, muitos teriam desistido. No entanto, ela sabe que, as vezes, um “não” de Deus, pode ser, no fundo, um “sim”. Com efeito, Deus pode pôr obstáculos, para que a fé do fiel se manifeste mais plenamente. E através da fé, o seu amor. Porque, na fé, há já muito amor. Com efeito, ter fé é crer no amor de Deus, acolhendo-o no coração. Quando a vida fica escura e Deus parece estar longe, a fé tem de ultrapassar-se a si mesma, tem de crer apesar de tudo e de todos que Deus é amor. É assim que, pouco a pouco, de prova em prova, a fé se vai tornando o centro da vida e, com ela, o amor.

Cristo faz o milagre, não sem ajuda dos criados, e a festa das bodas pode continuar. Mas agora podemos perguntar-nos: “Porque quis o Evangelista relatar-nos o modo como Jesus ajudou as pessoas a beberem até à saciedade numa festa? Não haveria milagres mais significativos que esse? Além disso, é este o primeiro milagre de Jesus, não deveria de algum modo resumir tudo o que Cristo vai obrar? Não esperávamos algo mais significativo? Parece-me que não. Penso até que esse primeiro milagre resume precisamente, de forma simbólica e magistral, tudo aquilo que Cristo fez e faz por nós. E também aqui aparece a colossal importância de Maria e de sua intercessão na obra da salvação.

Estas bodas não são outra coisa que o símbolo do “matrimónio” entre Deus e a humanidade. Sim, o plano de Deus é “casar-se” com a sua criatura, unir-se intimamente a ela. Não porque Ele a necessite, mas porque Ele ama dar e por isso dá-se sem contar. Mas este plano não tem futuro, porque falta o “vinho”, ou seja, a festa deverá terminar antes do previsto, pois o homem atraiçoou o amor de Deus com o pecado.

No entanto, as coisas não ficam por aqui. O Filho eterno encarna-se para dar o “vinho” que falta, mas não dará este “vinho” a um preço barato, porque o pecado não foi uma brincadeira. Uma vez, num parque, em França, vi uma criança mal-educada lançar uma bola suja no rosto da própria mãe, visivelmente com má intenção. Aquilo, logicamente, causou-me tristeza. Há coisas sagradas. Uma delas é o amor das mães. Mas, ainda mais sagrado, é o coração de Deus infinitamente mais maternal que o de qualquer criatura. A esta luz, podemos entender um pouco melhor quanto o pecado fere Deus. Por isso, como dizíamos, o Filho não o pode reparar a qualquer preço. O preço foi a cruz, ou seja, foi tomar sobre Si mesmo todo este pecado, sofrê-lo, para que conheçamos visivelmente quanto o nosso pecado faz sofrer Deus e que os actos da nossa liberdade têm as suas consequências. O preço foi o Seu Sangue derramado por amor, que o “vinho” simboliza.

Mas também Maria sofre incrivelmente com o pecado do homem. Por isso, a sua intervenção será importantíssima, como sugere a narração das bodas de Caná. Aquela que levou Cristo aos homens, deve sofrer juntamente com Ele pelos homens. “Uma espada atravessará o teu coração”, profetiza a Maria o ancião Simeão de que nos fala o Evangelho de Lucas. Quando a Beata Teresa de Calcutá ainda duvidava se devia ou não começar a cuidar os mais pobres dos pobres, Cristo lhe disse num colóquio místico: “claro ainda não dás valor às almas porque não tiveste que te afogar em dor por elas, como a minha Mãe e Eu”. É assim: se para nós, um dia, será possível aceder à festa sem fim do Céu é porque Jesus, sobretudo, mas também Maria, sofreram por nós com uma intensidade que não podemos imaginar.

Beata Teresa não recusou o convite do Senhor. Não se pode dizer não a quem tanto nos amou ao ponto de dar a vida por nós. Que este seja um doce e eficaz pensamento que acompanhe a nossa vida, um pensamento que amadureça, cresça, tome possessão do nosso coração, através da oração e dos sacramentos, ao ponto de determinar as nossas existências a actuar com generosidade. Não porque simplesmente é o nosso dever ser generoso, mas porque o amor chama-nos suavemente e insistentemente, como o fazia com a Beata Teresa. E recordemos um aspecto do episódio das bodas: explicitamente São João menciona os serventes que encheram as “talhas” com a água que depois se transformaria em vinho. E isso porque seguiram o conselho de Maria, que lhes pedia fazer tudo o que Cristo lhes havia de dizer. Todos nós somos estes serventes, chamados a ser servidores uns dos outros, com tarefas que podem talvez parecer insignificantes, mas que, ao fim ao cabo, são decisivas.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Encontro de Taizé em Portugal - Porto 2010

A Diocese do Porto em Portugal, vai acolher já dia 1 de Fevereiro o primeiro grupo de dois irmãos da comunidade ecoménica de Taizé (França) que irão animar o 2º Encontro Ibérico nesta cidade a decorrer de 13 a 16 de Fevereiro.

No ano passado o 1º Encontro Ibérico decorreu em Sevilha em Maio, com a aderência esperada.

Em Portugal não é inédito este tipo de encontros, pois em 2004 decorreu em Lisboa o Encontro Europeu da Comunidade Taizé.

Os jovens a aderir a este encontro terão um carnaval diferente, com uma vivência na fé cristã, animada pelos irmãos David e Cristian (do primeiro grupo chegar a Portugal), um segundo grupo de irmãos e o irmão Alois que chegarão ao Porto mais perto do dia 13 de Fevereiro.

Esta comunidade iniciada em França na aldeia de Taizé, em 1940, pelo irmão Roger (de origem Suíça), actualmente orientada espiritualmente pelo irmão Alois prior de Taizé após a partida para o eterno do irmão Roger em 16 de Agosto de 2005.

A sua espiritualidade ecuménica une milhares de jovens anualmente nessa pequena aldeia em França e tem apoiantes pelo mundo inteiro.

Deixamos o programa para este carnaval diferente na cidade do Porto:

Programa

Sábado
13 de Fevereiro
11:00-14:00 – Recepção e envio dos participantes às paróquias e às famílias de acolhimento
18:00 – Fórum musical de acolhimento
19:00 – Jantar
21:00 – Oração
23:00 – Regresso às famílias

Domingo
14 de Fevereiro
Missa nas paróquias
Descoberta da comunidade local (antes ou depois da missa)
- Almoço com as famílias de acolhimento
16:00-18:00 – Workshops no centro da cidade
19:00 – Jantar
21:00 – Oração
23:00 – Regresso às famílias

Segunda-feira
15 de Fevereiro
09:00 – Oração nas paróquias
Grupos de reflexão e partilha
Descoberta dos sinais de esperança nas paróquias
- Piquenique nas paróquias
14:15 – Oração nas igrejas do centro da cidade
16:00-18:00 – Workshops no centro da cidade
19:00 – Jantar
21:00 – Oração
23:00 – Regresso às famílias

Terça-feira
16 de Fevereiro
09:00 – Oração nas paróquias
Grupos de reflexão e partilha
Descoberta dos sinais de esperança nas paróquias
- Almoço partilhado nas paróquias, com as famílias de acolhimento
16:00 – Partida

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Relíquias de D. Bosco no Brasil e América do Sul

As relíquias de S. João Bosco, fundador dos Salesianos, estão no Brasil desde o dia 16 de Novembro passado, até ao dia 28 de Fevereiro do corrente ano, onde de seguida a urna irá para Caracas, Venezuela.

Esta passagem pela américa do Sul, iniciou-se no Chile, tendo já visitado a Argentina, Uruguai e Paraguai.

 

A congregação Salesiana terminou há pouco (dia 18 de Dezembro) o ano comemorativo dos 150 anos de existência da obra que o então Pe. João Bosco começou em Turim (Itália) a meio do século XIX com prioridade principal educar e formar os jovens mais necessitados, afim de superar as dificuldades dessa época.

Hoje é uma obra espalhada pelo mundo inteiro mantendo como prioridade a educação da juventude.

É muito interessante ver de forma resumida a cronologia da vida deste santo e também a acta que deu início à congregação Salesiana, disponibilizada pelo portal salesiano de Portugal.

Segundo o fundador o jovem "Bom Cristão, é um Honesto cidadão!"

Estamos a poucos dias de duas comemorações importantes para esta comunidade religiosa:

24 de Janeiro - Dia de S. Domingos Sales (santo ao qual D. Bosco dedicou a sua obra)
31 de Janeiro - Dia de S. João Bosco (o fundador partiu neste dia do ano de 1888)

Para saber o itenerário das relíquias desde santo no Brasil veja na página oficial do evento.


Oportunidade única para quem puder seguir.

A equipe,
Homilias e Orações




quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Homilia do Baptismo do Senhor - 1º Domingo Tempo Comum Ano C

LEITURA I Is 42, 1-4.6-7

«Eis o meu servo, enlevo da minha alma»

Leitura do Livro de Isaías

Diz o Senhor: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo,
o meu eleito, enlevo da minha alma.
Sobre ele fiz repousar o meu espírito,
para que leve a justiça às nações.
Não gritará, nem levantará a voz,
nem se fará ouvir nas praças;
não quebrará a cana fendida,
nem apagará a torcida que ainda fumega:
proclamará fielmente a justiça.
Não desfalecerá nem desistirá,
enquanto não estabelecer a justiça
na terra, a doutrina que as
ilhas longínquas esperam.
Fui Eu, o Senhor, que te chamei
segundo a justiça; tomei-te pela mão,
formei-te e fiz de ti a aliança do povo
e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos,
tirares do cárcere os prisioneiros
e da prisão os que habitam nas trevas».

Palavra do Senhor.

LEITURA II Actos 10, 34-38

«Deus ungiu-O com o Espírito Santo»

Leitura dos Actos dos Apóstolos

Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse:
«Na verdade, eu reconheço que Deus não faz
acepção de pessoas, mas, em qualquer nação,
aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável.
Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel,
anunciando a paz por Jesus Cristo,
que é o Senhor de todos.
Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia,
a começar pela Galileia, depois do baptismo
que João pregou: Deus ungiu com a força
do Espírito Santo a Jesus de Nazaré,
que passou fazendo o bem e curando
todos os que eram oprimidos pelo demónio,
porque Deus estava com Ele».

Palavra do Senhor.

EVANGELHO Lc 3, 15-16.21-22

«Jesus foi baptizado e, enquanto orava, abriu-se o céu»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, o povo estava na expectativa
e todos pensavam em seus corações se João
não seria o Messias. João tomou a palavra e disse-lhes:
«Eu baptizo-vos com água, mas vai chegar quem
é mais forte do que eu, do qual não sou digno
de desatar as correias das sandálias.
Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo».
Quando todo o povo recebeu o baptismo,
Jesus também foi baptizado; e, enquanto orava,
o céu abriu-se e o Espírito Santo desceu
sobre Ele em forma corporal, como uma pomba.
E do céu fez-se ouvir uma voz:
«Tu és o meu Filho muito amado:
em Ti pus toda a minha complacência».

Palavra da salvação.


Homilia do Pe Antoine Coelho, LC

Esta festa oferece uma boa ocasião para reflectir sobre uma pergunta que me fez um dia um bispo: “Porque precisamos ser baptizados? O que é que responderias a uma pessoa que te fizesse esta pergunta?”

Acho que queria pôr à prova a solidez dos meus estudos. Um pouco para brincar, o bispo começou a provocar-me com argumentos que contestavam a necessidade do Baptismo. Não sei se Voltaire teria feito melhor: “Os efeitos do Baptismo são puramente espirituais: o perdão dos pecados, a configuração com Cristo por meio do carácter e a recepção nos nossos corações da Vida mesma de Deus. Não bastaria fazer um acto puramente espiritual de adesão a Cristo para receber estes dons? É necessária toda uma cerimónia com água a correr-nos pela cabeça? Não estamos a dar uma imagem demasiadamente materialista de dons tão elevados?”

Naquele momento, não tinha feito tantos estudos de teologia e a minha resposta não pareceu convencê-lo muito. Na verdade, não basta dizermos que Cristo indicou explicitamente que todos devíamos ser baptizados. Claro: isso basta para que o façamos, dado que confiamos em Cristo. Mas porque Cristo quis o Baptismo?

Agora, depois de ter estudado um pouco mais a questão, vejo que quem negasse a necessidade do Baptismo e o quisesse suplantar por uma espécie de acto mental de adesão, mostraria não ter entendido um aspecto absolutamente essencial do cristianismo. Não esqueçamos nunca que o Amor de Deus se encarnou. Contemplávamos isso há bem pouco tempo no Natal. Deus fez-se homem e, por isso, amou-nos de forma humana, sorrindo-nos, servindo-nos até ao esgotamento físico quase, caminhando connosco e, por fim, sofrendo realmente o suplício da cruz, com as dores que todo homem teria tido no seu lugar.

Se Deus quis amar-nos humanamente, é porque ele valoriza o amor humano e espera de nós este amor. Por isso, a nossa adesão a Ele não pode expressar-se de uma forma puramente espiritual, angélica, mas de uma forma sensível, corporal, com gestos, palavras e símbolos do mundo material. E porque a nossa adesão reveste-se destes elementos, ela torna-se realmente comprometedora. Por isso, também, nunca poderá ser a mesma coisa confessar-se espiritualmente a Deus e confessar-se a um homem de carne e osso.

Além disso, aderir a Deus é entrar na Igreja. O nosso acto de entrada na Igreja não poderia ser real ou comprometedor, se fosse puramente interior. Necessita uma forma sensível pública.

Tudo isso leva-nos a sublinhar a faceta “carnal” do nosso cristianismo. É fundamental que tenhamos uma espiritualidade que não seja exclusivamente espiritual, se me permitem a redundância. Precisamos de uma espiritualidade encarnada, feita de gestos concretos, onde a ajuda real ao próximo, a comunhão e adoração eucarística, as estátuas e imagens de Cristo, de Nossa Senhora, dos santos… se revistem de grande importância.

Não esqueçamos que o nosso coração não é puramente espiritual. Inclui a nossa corporeidade. Somos espírito e corpo e o centro do nosso ser necessariamente integra ambas dimensões. O nosso coração fica mais tocado pelo amor, quando este amor não se apresenta somente de modo espiritual. O coração da esposa fica mais sensibilizado, quando, para além da palavra “amo-te”, o esposo lhe oferece flores. Igualmente, o coração do esposo cresce mais no amor à esposa, quando, para além de lhe dizer “amo-te”, lhe oferece realmente flores. De igual modo, o nosso coração é mais sensível a Cristo, quando o vê representado de forma bela numa imagem.

Contavam-me, certa vez, religiosos da minha Congregação que, por algum motivo, tiveram que levar uma estátua de Nossa Senhora em Manhattan. Não se tratava de uma espécie de procissão. Simplesmente tinham de levá-la a uma casa. E não é que se surpreenderam ao verem quantas pessoas na rua faziam o sinal da cruz ou actos de reverência diante da estátua. O simples transportar uma estátua transformava-se espontaneamente num acto religioso. A nossa fé precisa visibilidade, precisa tocar o mistério a través de coisas sensíveis. Assim é também como nós evangelizaremos. Por isso, também, nós gostamos de convidar jovens para os nossos seminários, jovens que até mesmo não têm muita fé. Mas o simples facto de verem e de conviverem com outros jovens da sua idade que vivem em profundidade e com caras felizes a sua relação a Deus, transforma-lhes o coração. Dão-se conta que Deus vive.

Abordando agora o Evangelho deste domingo, impressiona precisamente o facto que Cristo quis ser baptizado. Quis que, visivelmente, diante de todos, São João Baptista lhe administrasse o Baptismo. Não precisava do perdão de Deus, nem de receber a Vida de Deus no coração. Já era Deus! Mas quis realizar este gesto para ensinar-nos que todos devemos passar por esta porta, a do Baptismo. Ao mesmo tempo, Cristo mostra-nos que Ele é verdadeiramente um homem e que quer sujeitar-se, como todos nós, às leis humanas. Como dizíamos, quer amar-nos humanamente. E que honra para João! Pôde baptizar o próprio Deus! Nunca teria sonhado com uma coisa dessas. De facto, parece que ao início recusou. Deus recompensa quem o ame para além de tudo o que poderia imaginar. Mas se pensarmos bem, esta honra nós a temos cada vez que servimos o nosso próximo. Ou o nosso próximo não é outro Cristo? Quem o serve, serve misteriosamente e realmente Cristo.

Ao mesmo tempo, São João Baptista é o último dos profetas do Antigo Testamento e, por isso, nesta cena do Baptismo, ele simboliza o Antigo Testamento. Cristo, ao aceitar o Baptismo de João, mostra que toma sobre ele toda a herança do Antigo Testamento, reconhecendo o seu valor. Mas, ao mesmo tempo, vai transformá-la e completá-la profundamente. Se temos dúvidas sobre isso, vejamos o que acontece logo depois de baptizado: “o céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba. E do céu fez-se ouvir uma voz: Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência”.

Este acontecimento terá sido magnífico. A Stma. Trindade manifesta-se sensivelmente e entra claramente na história dos homens. É o amor entre as três Pessoas divinas a entrar no nosso mundo; é essa força infinita que quer transformar as nossas vidas e levar-nos a transformar a dos outros. Com efeito, este acontecimento, de alguma forma, reproduz-se em cada Baptismo. Em cada Baptismo, desce sobre o baptizado o Espírito Santo, ou seja, a força viva e pessoal do amor divino e, ao mesmo tempo, o Pai eterno olha para o seu novo filho e diz: “tu és o meu filhinho, em Ti pus toda a minha complacência”. “Toda a minha complacência”, diz Deus, e não simplesmente “algo da minha complacência”.

Quanto Deus nos ama! Não nos falta às vezes despertar a consciência desta amor? É tão incrível que o Senhor de tudo ame estas pobres formigas que somos com tanta plenitude, é tão espantoso, que necessitamos constantemente despertar a fé nesta verdade. Por isso, de facto, a nossa fé pode transportar montanhas! Porque se baseia não somente numa certa afinidade entre Deus e nós, mas porque Deus Pai nos ama com a mesmo intensidade e plenitude com que ama Deus Filho.

Entendemos, também, a esta luz, porque é tão necessária o que chamávamos uma espiritualidade encarnada. Precisamos constantemente signos visíveis do amor infinito de Deus, porque é uma verdade tão imensa, que a perdemos facilmente de vista. Como é de lamentar que nas escolas se quer, por exemplo, retirar os crucifixos! Existe maior prova do amor de Deus do que o crucifixo? Recordo com saudades como João Paulo II o beijava insistentemente nas celebrações, sobretudo quando já sofria tanto do mal de Parkinson. Cada beijo ao crucifixo era um pouco como repetir a Cristo: “tu sofreste tudo aquilo por mim, não posso eu sofrer um pouco pelo mundo?”

Pessoalmente, tenho sempre uma imagem de Nossa Senhor do Coromoto, quando trabalho, e busco beijá-la com frequência, para nunca perder de vista que o que faço só tem sentido se for por amor a Deus. E, por outro lado, quantas vezes, olhar para um crucifixo ajuda-nos nos momentos difíceis da vida! A nossa vida diária deveria ser constantemente povoada de olhares amorosos a símbolos que nos falam do amor de Deus, de um amor que não somente quis salvar-nos de longe, desde o Céu, mas a través do mais duro sacrifício pessoal. A “espiritualidade encarnada” é preciso aplicá-la nas nossas relações com os outros: que possam olhar-nos e ver em nós uma ícone de Deus. Porque sorrimos, porque servimos, porque somos pacientes, porque a paz mora nos nossos corações…Há temperamentos que vivem mais facilmente que outros estes aspectos da nossa relação com os outros. O que conta é o nosso esforço sincero, é este que ajuda Deus a salvar.

Vivamos, pois, irmãos e irmãs esta dimensão tão peculiar do cristianismo, fruto da Encarnação de Deus, e teremos a sensação de levar Deus à nossa vida e ao mundo, de ajudar Nosso Senhor a encarnar-se cada vez mais nas nossas sociedades. Que honra a de poder contribuir com pequenos gestos a um desígnio tão grande! Creio que uma das maiores provas do amor de Deus é precisamente esta: querer precisar da nossa ajuda, como quis precisar do Baptismo de João.

Imagens extraídas do site: http://rosariopermanente.leiame.net/

Leituras extraídas do site do Secretariado Nacional de Liturgia.