quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

3º Domingo do Tempo Comum, Ano C

LEITURA I Ne 8, 2-4a.5-6.8-10

«Liam o Livro da Lei e explicavam o seu sentido»

Leitura do Livro de Neemias
Naqueles dias,
o sacerdote Esdras trouxe o Livro da Lei
perante a assembleia de homens e mulheres
e todos os que eram capazes de compreender.
Era o primeiro dia do sétimo mês.
Desde a aurora até ao meio dia,
fez a leitura do Livro,
no largo situado diante da Porta das Águas,
diante dos homens e mulheres
e todos os que eram capazes de compreender.
Todo o povo ouvia atentamente a leitura do Livro da Lei.
O escriba Esdras estava de pé
num estrado de madeira feito de propósito.
Estando assim em plano superior a todo o povo,
Esdras abriu o Livro à vista de todos;
e quando o abriu, todos se levantaram.
Então Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus,
e todo o povo respondeu, erguendo as mãos:
«Amen! Amen!».
E prostrando-se de rosto por terra, adoraram o Senhor.
Os levitas liam, clara e distintamente, o Livro da Lei de Deus
e explicavam o seu sentido,
de maneira que se pudesse compreender a leitura.
Então o governador Neemias,
o sacerdote e escriba Esdras,
bem como os levitas, que ensinavam o povo,
disseram a todo o povo:
«Hoje é um dia consagrado ao Senhor, vosso Deus.
Não vos entristeçais nem choreis».
- Porque todo o povo chorava, ao escutar as palavras da Lei -.
Depois Neemias acrescentou:
«Ide para vossas casas,
comei uma boa refeição, tomai bebidas doces
e reparti com aqueles que não têm nada preparado.
Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor;
portanto, não vos entristeçais,
porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».
Palavra do Senhor.

LEITURA II Forma longa 1 Cor 12, 12-30

«Vós sois corpo de Cristo e seus membros, cada um na sua parte»


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Assim como o corpo é um só e tem muitos membros,
e todos os membros do corpo, apesar de numerosos,
constituem um só corpo,
assim sucede também em Cristo.
Na verdade, todos nós
__ judeus e gregos, escravos e homens livres __
fomos baptizados num só Espírito,
para constituirmos um só corpo,
e a todos nos foi dado a beber um só Espírito.
De facto, o corpo não é constituído por um só membro,
mas por muitos.
Se o pé dissesse:
«Uma vez que não sou mão, não pertenço ao corpo»,
nem por isso deixaria de fazer parte do corpo.
E se a orelha dissesse:
«Uma vez que não sou olho, não pertenço ao corpo»,
nem por isso deixaria de fazer parte do corpo.
Se o corpo inteiro fosse olho, onde estaria o ouvido?
Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfacto?
Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros,
segundo a sua vontade.
Se todo ele fosse um só membro, que seria do corpo?
Há, portanto, muitos membros, mas um só corpo.
O olho não pode dizer à mão: «Não preciso de ti»;
nem a cabeça dizer aos pés: «Não preciso de vós».
Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos
são os mais necessários;
os que nos parecem menos honrosos
cuidamo-los com maior consideração;
e os nossos membros menos decorosos
são tratados com maior decência:
os que são mais decorosos não precisam de tais cuidados.
Deus organizou o corpo,
dispensando maior consideração ao que dela precisa,
para que não haja divisão no corpo
e os membros tenham a mesma solicitude uns com os outros.
Deste modo, se um membro sofre,
todos os membros sofrem com ele;
se um membro é honrado,
todos os membros se alegram com ele.
Vós sois corpo de Cristo e seus membros,
cada um por sua parte.
Assim, Deus estabeleceu na Igreja
em primeiro lugar apóstolos,
em segundo profetas, em terceiro doutores.
Vêm a seguir os dons dos milagres, das curas, da assistência,
de governar, de falar diversas línguas.
Serão todos apóstolos? Todos profetas? Todos doutores?
Todos farão milagres? Todos terão o poder de curar?
Todos falarão línguas? Terão todos o dom de as interpretar?
Palavra do Senhor.

 EVANGELHO Lc 1, 1-4; 4, 14-21

«Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Já que muitos empreenderam narrar os factos
que se realizaram entre nós,
como no-los transmitiram os que, desde o início,
foram testemunhas oculares e ministros da palavra,
também eu resolvi,
depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as origens,
escrevê-las para ti, ilustre Teófilo,
para que tenhas conhecimento seguro do que te foi ensinado.
Naquele tempo,
Jesus voltou da Galileia, com a força do Espírito,
e a sua fama propagou-se por toda a região.
Ensinava nas sinagogas e era elogiado por todos.
Foi então a Nazaré, onde Se tinha criado.
Segundo o seu costume,
entrou na sinagoga a um sábado
e levantou-Se para fazer a leitura.
Entregaram-Lhe o livro do profeta Isaías
e, ao abrir o livro,
encontrou a passagem em que estava escrito:
«O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque Ele me ungiu
para anunciar a boa nova aos pobres.
Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos
e a vista aos cegos,
a restituir a liberdade aos oprimidos
e a proclamar o ano da graça do Senhor».
Depois enrolou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-Se.
Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga.
Começou então a dizer-lhes:
«Cumpriu-se hoje mesmo
esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».
Palavra da salvação.

Homilia Pe. Antoine Coelho, LC
 
Quem ouve a primeira leitura do domingo pode ficar um pouco desconcertado. Porque decretam um dia de festa depois de lerem o Livro da Lei? Não era a leitura da Lei em si algo frequente no povo judeu? Temos de entender que esta cena se deu depois do retorno do exílio em Babilónia. Uns 70 ou 80 anos antes, praticamente toda a população da Judeia tinha sido levado para Babilónia, por obra de Nabucodonosor. Tratava-se de um castigo, pois tinham-se rebelado contra este soberano, sendo que os judeus eram os seus vassalos.
 
Sucedeu ao império babilónico o dos persas, os quais, por serem mais respeitosos dos diversos povos do seu império, permitiram ao povo judeu retornar à sua pátria. No entanto, por causa de todas estas vicissitudes, o Templo tinha sido destruído e o Livro da Lei perdido. A primeira leitura mostra-nos uma assembleia solene e festiva que se constituiu, porque o Livro da Lei foi encontrado de novo entre os restos do Templo. Podem imaginar o fervor com que as pessoas ouviam de novo a Lei que lhes tinha sido dada por Moisés no Sinai. Esta lei, que Deus lhes comunicara havia já séculos, depois de liberá-los do Egipto, e que tinha animado a vida desse povo, voltava agora às suas mãos. Por isso, entende-se a exclamação dos levitas depois de a lerem: “hoje é um dia consagrado ao Senhor vosso Deus, não vos entristeçais nem choreis”.
 
Uma comoção ainda maior devia ter animado o povo de Nazareth, quando reunido em oração, ouviram Nosso Senhor ler-lhes uma passagem do livro de Isaías. Ponhamo-nos de novo em contexto. Jesus saiu de Nazareth como um “Zé Ninguém”, como um membro mais desta aldeia insignificante, perdida no meio de uma região igualmente insignificante do Império Romano: a Galileia. Mas eis que depois do seu Baptismo e a partir das bodas de Caná começa a realizar milagres impressionantes. Expulsa demónios com uma autoridade jamais vista. Bastava uma palavra da sua boca. A força da sua palavra é igualmente capaz de curar qualquer doença. Como se isso fosse pouco, a doutrina que sai dos seus lábios maravilha as multidões. É alguém que toca o mais profundo dos corações e que expõe sem vacilar.

Sim, Jesus não vacila quando fala, porque Ele é a Lei em pessoa. Essa Lei maravilhosa (os preceitos dos dez mandamentos, sobretudo), mais sábia que a de todos os outros povos, como cantam os salmos, não consiste simplesmente em letras escritas sobre um pergaminho. É uma Pessoa viva, é Cristo, porque Ele é a Vontade de Deus encarnada. Agora quando o homem quer saber o que tem de fazer na vida, não tem diante dos olhos um conjunto de preceitos frios: tem alguém. Por isso, a emoção em Nazareth devia ter sido infinitamente maior que a comoção experimentada em Jerusalém, quando acharam de novo a Lei. Depois de milhares e milhares de anos de espera, a Lei aparece em Pessoa, com rosto de homem, com rosto que ama. Ora bem, sabemos que Cristo a reacção não foi de entusiasmo, nem sequer de cordialidade. Cristo foi expulso da Sinagoga de forma humilhante, e quase morria pois o queriam lançar por um despenhadeiro. Mas escapou milagrosamente, dado que não chegara ainda a sua hora, a hora em a Lei encarnada do amor devia dar o testemunho supremo e vivo do amor.

Também sabemos que o júbilo do povo em Jerusalém, ao ouvirem de novo a Lei, durou pouco. Nunca conseguiram realmente vivê-la. As suas almas entusiasmadas ao início, esfriaram-se de novo. A ganância foi ganhando de novo terreno, assim como os vícios e os cultos aos falsos deuses, pois parecia ser mais vantajoso obter favores deles, dado que não eram tão exigentes como Yahwé. Porquê, se essa Lei era tão boa? É que ninguém dá a vida por uma Lei, por mais boa que seja. Podemos amar e respeitar uma lei, mas até certo ponto. O que nos realmente amamos são as pessoas. Claro, o povo também amava o seu Yahwé, que os tinha salvado do Egipto e de tantas dificuldades, mas onde estava Yahwé? Quem o podia tocar? No Templo de Jerusalém podia dar-se, de algum modo, um encontro entre o povo e Deus, mas era algo ainda demasiado frio. No fim de contas, o que tinham diante dos olhos era esta Lei exigente…mas essa Lei, por ser “tinta sobre papel” não lhes entrava no coração.

Só Cristo, Lei viva, exemplo imensamente amável do que Deus quer de nós, pode penetrar até ao mais profundo das entranhas. Somente com Ele, a Lei podia tornar-se interior e podíamos segui-la por puro amor e não por simples dever. Essa é uma das facetas da grandíssima transformação que trouxe Cristo ao mundo. Por isso, Ele pode afirmar, com toda a verdade, aos Nazarenos que hoje se tinha cumprido esta profecia: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção dos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos…”


Sim, Cristo liberou-nos deste peso imenso, deste divórcio sistemático nas nossas vidas entre consciência e coração, entre dever e amor, entre a Lei e o impulso da nossa afectividade. Como faz sofrer saber bem o que se tem de fazer e dar-se conta de que não se é capaz de o alcançar. Talvez alguém poderá dizer: “não sinto que Cristo me tenha liberado deste peso. Há anos que frequento a Igreja, que vou à Missa aos domingos, que faço orações todos os dias e, no entanto, sinto-me incapaz de cumprir a sua Vontade”.


Mas não vemos São Paulo exclamar: “Não sou mais eu que vivo mas Cristo que vive em mim?” Esta Lei maravilhosa, Cristo, é-lhe interior e então é capaz de cumpri-la. Muitos fizeram e fazem esta experiência. Claro: há graus e graus de perfeição e todos temos de melhorar, mas também, com certa frequência, encontram-se cristãos realizados, profundamente reconciliados com Deus e consigo mesmos. Precisamente porque Cristo vive neles e resplandece através deles. O exemplo de Santa Teresa do Menino Jesus é extraordinário. Durante anos foi vítima de uma hipersensibilidade. Chorava “por um sim ou por um não”. Qualquer palavra menos delicada arrancava-lhe rios de lágrimas. Mas ela rezava, segura de que Deus a salvaria deste estado penoso de excessivo amor-próprio. Claro: ela não era capaz de sair disso. O amor-próprio é invencível para o homem, porque até mesmo quando quer sair dele, fá-lo outra vez por amor-próprio. Mas Teresa confiou durante anos. Lutou. E finalmente no dia do Natal, voltando da Missa do Galo, Deus concedeu-lhe esta graça. O Menino Jesus tinha-lhe nascido com nova força no coração. A Lei do amor, do esquecer-se de si mesmo para pensar nos outros, era-lhe plenamente interior. “E então”, diz ela, “a partir desta data, os meus passos em direção à santidade foram gigantescos”.

Ser cristão, seguir os mandamentos da Igreja, todos eles sem excepções, não é, na verdade, um peso. Porque o amor não pesa. Porque o que a Igreja nos pede é ser como Cristo, com a nossa missão e vocação própria, está claro. E se pela oração, pela fé, pela confiança perseverante, esse Deus que já se encarnou, se encarna, de algum modo, de novo no nosso coração, claro que será fácil e até gozoso seguir a Lei de Deus! Se Deus nos pede o que nos pede, não é para nos tornar infelizes. Ele é o Pai! Pai, como ninguém o é. Cristo em nós é a chave e o único caminho para seguir esta lei que é ser como Cristo. Só Cristo pode levar-nos a ser como Cristo, obviamente. O que às vezes acontece é que queremos ser como Cristo mas através das nossas forças. Um cristianismo vivido assim, só pode ser frustrante. Mas não nos desesperemos. Temos Cristo connosco sempre que estamos dispostos a abrir-lhe o coração reconhecendo o pouco que somos. Assim, o desespero não pode ter lugar num cristão que não tem somente um exército a lutar por ele no Céu (como diz o Salmo 55), mas Deus mesmo, e ainda por cima crucificado.



1 comentário:

  1. Pessoal:
    Pesquiso, todas as semanas, as orações da assembléia nas liturgias católicas para compor as nossas (Lnulma Capela de comunidade pobre). Neste domingo até será Missa com crianças. Vejo até a liturgia do ABC da Catequese de Portugal.
    Porque a de vocês destse próximo domingo ainda não está ascessível?

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