sexta-feira, 25 de junho de 2010

Domingo XIII do tempo comum, Ano C

LEITURA I 1 Reis 19, 16b.19-21

«Eliseu levantou-se e seguiu Elias»

Leitura do Primeiro Livro dos Reis
Naqueles dias,
disse o Senhor a Elias:
«Ungirás Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meola,
como profeta em teu lugar».
Elias pôs-se a caminho
e encontrou Eliseu, filho de Safat,
que andava a lavrar com doze juntas de bois
e guiava a décima segunda.
Elias passou junto dele e lançou sobre ele a sua capa.
Então Eliseu abandonou os bois,
correu atrás de Elias e disse-lhe:
«Deixa-me ir abraçar meu pai e minha mãe;
depois irei contigo».
Elias respondeu:
«Vai e volta,
porque eu já fiz o que devia».
Eliseu afastou-se,
tomou uma junta de bois e matou-a;
com a madeira do arado assou a carne,
que deu a comer à sua gente.
Depois levantou-se e seguiu Elias,
ficando ao seu serviço.
Palavra do Senhor.


LEITURA II Gal 5, 1.13-18

«Fostes chamados à liberdade»

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
Irmãos:
Foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou.
Portanto, permanecei firmes
e não torneis a sujeitar-vos ao jugo da escravidão.
Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade.
Contudo, não abuseis da liberdade
como pretexto para viverdes segundo a carne;
mas, pela caridade,
colocai-vos ao serviço uns dos outros,
porque toda a Lei se resume nesta palavra:
«Amarás o teu próximo como a ti mesmo».
Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente,
tende cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros.
Por isso vos digo:
Deixai-vos conduzir pelo Espírito
e não satisfareis os desejos da carne.
Na verdade, a carne tem desejos contrários aos do Espírito
e o Espírito desejos contrários aos da carne.
São dois princípios antagónicos
e por isso não fazeis o que quereis.
Mas se vos deixais guiar pelo Espírito,
não estais sujeitos à Lei de Moisés.
Palavra do Senhor.


EVANGELHO Lc 9, 51-62

«Tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém. Seguir-Te-ei para onde quer que fores»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo,

Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém
e mandou mensageiros à sua frente.
Estes puseram-se a caminho
e entraram numa povoação de samaritanos,
a fim de Lhe prepararem hospedagem.
Mas aquela gente não O quis receber,
porque ia a caminho de Jerusalém.
Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus:
«Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?»
Mas Jesus voltou-Se e repreendeu-os.
E seguiram para outra povoação.
Pelo caminho, alguém disse a Jesus:
«Seguir-Te-ei para onde quer que fores».
Jesus respondeu-lhe:
«As raposas têm as suas tocas
e as aves do céu os seus ninhos;
mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça».
Depois disse a outro: «Segue-Me».
Ele respondeu:
«Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai».
Disse-lhe Jesus:
«Deixa que os mortos sepultem os seus mortos;
tu, vai anunciar o reino de Deus».
Disse-Lhe ainda outro:
«Seguir-Te-ei, Senhor;
mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família».
Jesus respondeu-lhe:
«Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás
não serve para o reino de Deus».
Palavra da salvação.


Homilia do Pe. Antoine Coelho, LC

As leituras deste domingo têm por tema o chamamento de Deus a uma missão particular. Este facto sempre tem algo de misterioso. Não é por acaso de João Paulo II deu como título “dom e mistério” ao livro autobiográfico sobre sua própria vocação sacerdotal.

Porque Deus quer ter necessidade de homens particulares para levar a cabo o seu plano de salvação, unindo-os a si de modo extraordinariamente íntimo e expondo-se assim ao risco doloroso de ver o seu amor desprezado, em caso de traição? Estas traições, também elas, são todo um mistério, um mistério de liberdade humana. São, em termos práticos, inevitáveis: temos o caso de Judas, apóstolo que seguiu o Senhor de tão perto. Se já, entre os que conheceram Cristo na terra, houve traição, como surpreender-se se elas continuam a dar-se hoje em dia!

O evangelho deste domingo mostra-nos, por um lado, um rechaço sofrido pelo Senhor: deseja passar por uma povoação de samaritanos, mas estes não o querem receber dado que se dirige a Jerusalem capital dos judeus, seus adversários seculares. Mas talvez o mais doloroso para o Senhor em tudo isso seja a reacção dos apóstolos. “Senhor queres que mandemos fogo do céu que os destrua?”, perguntam-lhe. Os discípulos ainda não tinham entendido que tipo de fogo o Senhor queria mandar a toda custa desde o céu sobre estes homens. O “fogo”, que descerá mais tarde sobre os samaritanos, já sabemos qual será e podemos ler nos Actos dos Apóstolos que Pedro e João imporão as mãos sobre eles, derramando assim o Espírito Santo nos seus corações. Se Cristo não tivesse sido paciente e misericordioso, se ele tivesse reagido com ira e castigando, a futura conversão de grande parte dos samaritanos teria sido muito mais difícil depois.

O que é interessante constatar também é isso: o que Cristo não conseguiu pessoalmente, os seus apóstolos o farão dando a conhecer o seu nome junto dos samaritanos. Que dom faz Deus ao homem, permitindo-lhe realizar, com Sua ajuda, o que Ele mesmo não lograra! Claro que Cristo podia ter vivido connosco até ao fim dos tempos e ter tocado os corações de todos os homens, mas não quis fazê-lo: nós mesmos, pobres homens, devemos levar a salvação a outros homens. Que coisa pode existir de mais precioso e valioso aos olhos de Deus que a salvação de um homem? Pois Deus a põe em nossas mãos. Confiar a salvação do próximo ao homem: essa é a realidade mesma da vocação e da missão. E é também uma prova de amor: quem ama valoriza o amado ao ponto de lhe confiar o que tem de mais precioso.

Então não surpreende que no contexto deste evangelho surge o tema da vocação. Depois do episódio dos samaritanos três homens vão aparecendo um depois do outro. Dois pedem se podem seguir o Senhor, outro é chamado directamente por Ele. Nos três casos, as respostas do Senhor são de uma extrema exigência. O primeiro promete segui-Lo onde for necessário e Cristo lhe recorda que o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.

O segundo deseja sepultar o pai e Cristo não o deixa. Claro está que aqui devemos entender adequadamente a expressão “sepultar o pai”. Não é no sentido de que o pai desse homem tivesse acabado de morrer. Em realidade isso significa que seu pai tem idade já avançada e o jovem quer esperar a sua morte antes de seguir o Senhor. Mas, ainda assim, a petição do Senhor não deixa de ser incrivelmente exigente: “Deixa os mortos enterrarem os seus mortos”. “Mas não é sagrada a figura do pai?”, poderiamos objectar. “Não é uma crueldade deixá-lo sozinho na sua velhice?” Poderiamos responder que muita gente, hoje em dia, e em todos os tempos, fizeram isso por dinheiro, por casar, por um futuro...e por Deus não se fará? Não se fará por esse Deus que, evidentemente, tomando o filho para seu serviço, não deixará de cuidar ternamente o pai com a sua Providência? Quem dá muito a Deus, que não duvide: receberá d’Ele incomparavelmente mais.

Por fim, chega o terceiro que quer somente despedir-se de sua família. Não o poderá fazer? Cristo não lhe proibe este gesto de piedade filial mas recorda-lhe que “quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus”. O despedir-se dos pais não pode ser simplesmente um gesto nostálgico, senão leva a pôr em causa o chamamento; deve ser fundamentalmente um acto de amor filial aos pais.

Tudo isso mostra de modo evidente a extrema importância que Cristo atribui às vocações. Delas depende, com efeito, a salvação das almas. Como devemos rezar pelas vocações! Sobretudo agora que escasseiam tanto e que o mundo exerce uma pressão tão grande para que desapareçam. Não é por acaso que Cristo pede explicitamente que se reze por esta intenção. Quem sente o chamamento tem diante de si uma decisão nada fácil. Deve renunciar a tanta coisa. Claro está que recebe Deus, mas é somente pouco a pouco que a presença de Deus vai-se tornando invadente e clara. E depois as forças das trevas não deixarão de complicar o assunto.

O elemento verdadeiramente importante é o amor a Deus. É a chave da decisão dos pais, é a chave da decisão de quem é chamado. Quem ama poderá vencer as dificultades e a mão providente do Senhor o ajudará nos momentos mais difíceis. Exemplo claro disso foi o nosso querido João Paulo II. Quantas dificuldades na sua vida sacerdotal! A perseguição nazi, os regimes comunistas, a animosidade extrema do mundo liberal à sua mensagem evangélica comprometedora, o sofrimento físico heroico...No entanto nada disso foi mais forte que o seu amor a Cristo, que era igualmente amor aos homens. É bom recordar que este homem tão abençoado por Deus, saiu de um povo de uma fé colossal, o povo polaco, que apesar de todas as provas terríveis, que sofreu ao longo da história, não deixou a sua fé.

Virão com certeza outros “Joãos Paulos”. Deus no-los quer dar, está claro. Mas temos de acreditar nisso. Temos de pedir com muita fé, de aceitar as provas de Deus, que são sempre ocasiões para um bem maior. E não olhar para a situação actual como se fosse desesperada. A nossa derrota consiste precisamente nisso: em pensar que a situação está desesperada. Cristo não tinha onde reclinar a cabeça, e, no entanto, sua mensagem conquistou o império romano. Mas como diz São João no Evangelho, Ele sempre esteve no seio do Pai. Que nós também vivamos permanentemente no regaço do Pai e podemos estar seguros que nos dará os homens e as mulheres necessárias para dar a volta à situação actual.

Ladainha da Humildade

Caros amigos:
Alguns de Vocês queriam esta oração.
Vale a pena ser rezada com frequência.
Recordar que só é possível viver o que indica esta oração quando estamos cheios do amor de Deus, que compensa tudo o que este mundo nos pode querer dar.

Um abraço. Pe. Antoine, LC

LADAINHA DA HUMILDADE

Jesus, manso e humilde de coração! Escutai-me!

DO DESEJO DE SER:
estimado Livrai-me, Jesus!
amado Livrai-me, Jesus!
proclamado Livrai-me, Jesus!
exaltado Livrai-me, Jesus!
louvado Livrai-me, Jesus!
preferido Livrai-me, Jesus!
consultado Livrai-me, Jesus!
aprovado Livrai-me, Jesus!
apreciado Livrai-me, Jesus!

DO TEMOR DE SER:
humilhado Livrai-me, Jesus!
desprezado Livrai-me, Jesus!
despedido Livrai-me, Jesus!
rejeitado Livrai-me, Jesus!
caluniado Livrai-me, Jesus!
esquecido Livrai-me, Jesus!
ridicularizado Livrai-me, Jesus!
injuriado Livrai-me, Jesus!
considerado suspeito Livrai-me, Jesus!
Do desgosto por não ser seguida a minha opinião Livrai-me, Jesus!

QUE OS OUTROS:
sejam mais amados que eu.. Fazei, Jesus, que eu deseje!
sejam preferidos a mim. Fazei, Jesus, que eu deseje!
cresçam na opinião do mundo e eu diminua. Fazei, Jesus, que eu deseje!
sejam chamados a ocupar cargos e eu relegado ao esquecimento. Fazei, Jesus, que eu deseje!
sejam louvados e ninguém se preocupe comigo. Fazei, Jesus, que eu deseje!
sejam preferidos a mim em tudo. Fazei, Jesus, que eu deseje!

Oremos:
Ó Jesus, que sendo Deus, vos humilhastes até a morte de cruz, como exemplo perene para confundir o meu orgulho e amor próprio; concedei-me aprender e praticar o vosso exemplo, para que, humilhando-me como convém à minha miséria aqui na terra, possa ser exaltado até gozar eternamente de vós no céu.
Assim seja.

sábado, 12 de junho de 2010

Domingo XI do tempo comum, Ano C



LEITURA I 2 Sam 12, 7-10.13

«O Senhor perdoou o teu pecado: Não morrerás»

Leitura do Segundo Livro de Samuel
Naqueles dias,
disse Natã a David:
«Assim fala o Senhor, Deus de Israel:
Ungi-te como rei de Israel
e livrei-te das mãos de Saul.
Entreguei-te a casa do teu senhor
e pus-te nos braços as suas mulheres.
Dei-te a casa de Israel e de Judá
e, se isto não é suficiente, dar-te-ei muito mais.
Como ousaste desprezar a palavra do Senhor,
fazendo o que é mal a seus olhos?
Mataste à espada Urias, o hitita;
tomaste como esposa a sua mulher,
depois de o teres feito passar à espada pelos amonitas.
Agora a espada nunca mais se afastará da tua casa,
porque Me desprezaste
e tomaste a mulher de Urias, o hitita,
para fazeres dela tua esposa».
Então David disse a Natã:
«Pequei contra o Senhor».
Natã respondeu-lhe:
«O Senhor perdoou o teu pecado:
Não morrerás».
Palavra do Senhor.


LEITURA II Gal 2, 16.19-21

«Não sou eu que vivo: é Cristo que vive em mim»

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
Irmãos:
Sabemos que o homem não é justificado pelas obras da Lei,
mas pela fé em Jesus Cristo;
por isso acreditámos em Cristo Jesus,
para sermos justificados pela fé em Cristo
e não pelas obras da Lei,
porque pelas obras da Lei ninguém é justificado.
De facto, por meio da Lei, morri para a Lei,
a fim de viver para Deus.
Com Cristo estou crucificado.
Já não sou eu que vivo,
é Cristo que vive em mim.
Se ainda vivo dependente de uma natureza carnal,
vivo animado pela fé no Filho de Deus,
que me amou e Se entregou por mim.
Não quero tornar inútil a graça de Deus,
porque, se a justificação viesse por meio da Lei,
então Cristo teria morrido em vão.
Palavra do Senhor.


EVANGELHO Lc 7, 36 - 8, 3

«São-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
um fariseu convidou Jesus para comer com ele.
Jesus entrou em casa do fariseu e tomou lugar à mesa.
Então, uma mulher - uma pecadora que vivia na cidade -
ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu,
trouxe um vaso de alabastro com perfume;
pôs-se atrás de Jesus e, chorando muito,
banhava-Lhe os pés com as lágrimas
e enxugava-lhos com os cabelos,
beijava-os e ungia-os com o perfume.
Ao ver isto, o fariseu que tinha convidado Jesus pensou consigo:
«Se este homem fosse profeta,
saberia que a mulher que O toca é uma pecadora».
Jesus tomou a palavra e disse-lhe:
«Simão, tenho uma coisa a dizer-te».
Ele respondeu: «Fala, Mestre».
Jesus continuou:
«Certo credor tinha dois devedores:
um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta.
Como não tinham com que pagar, perdoou a ambos.
Qual deles ficará mais seu amigo?»
Respondeu Simão:
«Aquele - suponho eu - a quem mais perdoou».
Disse-lhe Jesus: «Julgaste bem».
E voltando-Se para a mulher, disse a Simão:
«Vês esta mulher?
Entrei em tua casa e não Me deste água para os pés;
mas ela banhou-Me os pés com as lágrimas
e enxugou-os com os cabelos.
Não Me deste o ósculo;
mas ela, desde que entrei, não cessou de beijar-Me os pés.
Não Me derramaste óleo na cabeça;
mas ela ungiu-Me os pés com perfume.
Por isso te digo:
São-lhe perdoados os seus muitos pecados,
porque muito amou;
mas aquele a quem pouco se perdoa,
pouco ama».
Depois disse à mulher:
«Os teus pecados estão perdoados».
Então os convivas começaram a dizer entre si:
«Quem é este homem, que até perdoa os pecados?»
Mas Jesus disse à mulher:
«A tua fé te salvou. Vai em paz».
Depois disso, Jesus ia caminhando por cidades e aldeias,
a pregar e a anunciar a boa nova do reino de Deus.
Acompanhavam-n’O os Doze,
bem como algumas mulheres que tinham sido curadas
de espíritos malignos e de enfermidades.
Eram Maria, chamada Madalena,
de quem tinham saído sete demónios,
Joana, mulher de Cusa, administrador de Herodes,
Susana e muitas outras,
que serviam Jesus com os seus bens.
Palavra da salvação.


Homilia do Pe. Antoine Coelho, LC

As leituras deste domingo apresentam quatro personagens principais, excluida a de Cristo, cujas respectivas relações com Deus merecem ser objecto de meditação. 

O evangelho opõe Simão o fariseu à prostituta que beijou os pés do Senhor quando este se encontrava à mesa na casa de Simão. Cristo mesmo contrapõe as duas atitudes que eles encarnam: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; mas ela banhou-Me os pés com as lágrimas e enxugou-os com os cabelos. Não me deste o ósculo; mas ela, desde que entrei, não cessou de beijar-Me os pés...Por isso te digo, são lhe perdoados os muitos pecados porque muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama”.

Como é diversa a visão das coisas que possui Deus! A todos os presentes a este banquete, incluidos seguramente os próprios apóstolos, se se lhes perguntasse, qual das duas pessoas, entre Simão o fariseu e a prostituta, fosse a mais respeitável, seguramente responderiam sem pestanejar que seria Simão. Como pode ser respeitável esta mulher de má vida, que, ainda por cima, entra sem ser convidada e põe-se a limpar com os cabelos os pés do Senhor?

Isso recorda-me uma conferência, que recentemente ouvi, dada por um famoso biblista americano. É possivelmente um dos estudiosos da Biblia mais competentes e conceituados deste país, conhecedor como poucos do texto sagrado, que ele era obviamente capaz de ler nas línguas originais de sua redacção. Este sacerdote conta que sempre dizia a Deus: “Senhor eu estou diposto a fazer tudo o que quiseres, porque temos de salvar o nosso país, temos de salvar este mundo”. Mas um dia ouviu o Senhor no seu coração que lhe dizia: “eu já salvei este mundo, não precisas fazê-lo, mas sim dedica-te a realizar a minha vontade”.
Esta intervenção directa de Deus “fê-lo cair do cavalo”. Deu-se conta que, na verdade, tinha passado a vida a fazer a sua própria vontade e a enganar-se a si mesmo. “A minha relação com Deus era puramente intelectual!”, reconhece. “Tive que aprender a relacionar-me com Deus a partir do coração”. Assim era um pouco a vida de Simão. Achava-se uma pessoa de bem porque cumpria exteriormente as leis morais. Era um homem de ritos, de códigos morais, de cumprimentos exactos, mas tinha o coração frio e orgulhoso. O coração não fazia parte da sua relação com Deus ou, ao menos, tinha um papel francamente segundário.

A prostituta, por mais desprezível que fosse aos olhos dos homens, aprendera a amar, graças a Cristo. Soubera ler nos olhos do Senhor o amor que buscara toda a vida por caminhos errados. Simão não precisava buscar, porque achava-se já um justo. Como é perigoso considerar-se já uma pessoa de bem! Uma atitude espiritual das mais fundamentais é considerar-se sempre um eterno novato nas coisas de Deus. Por mais que o Senhor nos eleve e nos santifique, somos sempre novatos e, por isso, necessitamos sempre buscar o olhar do Senhor para aprender d’Ele o que significa o amor. E sejamos realistas: se não aprendermos a olhar para o Senhor com frequência, fazendo d’Ele o ponto de referência constante da vida, olharemos para nós mesmos, ou para chorar as nossas limitações ou para autoelogiar-nos vaidosamente.
 
A outra personagem que nos mostra a liturgia é o rei David. Acaba de enviar Urias para a morte, para assim ficar com a mulher d’Ele. É certamente um pecado muito grave. O que torna ainda mais grave a situação é que David é um homem que recebeu de Deus dons e bênçãos como poucos. Bastaria mencionar que lhe foi prometido que de sua descendência nasceria o Salvador. Nem uma eternidade seria suficiente para agradecer ao Senhor tal condescendência. Mas, curiosamente, este homem esquece o don de Deus, esquece que deve tudo ao Senhor e comete um pecado hediondo. Pareceria que a sua situação é semelhante à de Simão o fariseu, o qual é também um homem que recebeu não poucos dons: uma boa educação, um estatuto social invejável, bens materiais...

Mas algo fundamental separa David de Simão, algo que o faz mais bem semelhante à pobre prostituta: o arrependimento. Apenas o profeta Natã revela a David o seu grande pecado, este exclama “pequei contra o Senhor!” E o profeta responde-lhe em seguida: “O Senhor perdoou o teu pecado. Não morrerás”.

David é fraco, mas sabe amar. E porque muito ama, são-lhe perdoados os pecados. Mas também porque tem fé. A fé é outro elemento fundamental que o Senhor põe em evidência no episódio da prostituta arrependida. Com efeito “ Jesus disse à mulher: a tua fé te salvou. Vai em paz”. A fé está muito ligada ao amor, é a porta para o amor de Deus. Se David pede perdão a Deus é porque acredita que o amor que Deus lhe tem é mais forte que a hediondez do seu crime. Mas, vice versa, o amor é essencial para a fé. De facto, até poderiamos dizer que só existe fé realmente quando é fé no Deus que é Amor. Crer num deus que não é amor, é simples crença, não é ainda fé. E por isso também, o que desperta a fé das pessoas é a experiência do amor: ou porque fazem a experiência directa do amor de Deus ou porque olhando para os cristãos que se amam, descobrem o rosto amoroso de Deus.
 
Mas não podemos falar da fé sem mencionar a quarta personagem da liturgia deste domingo: São Paulo. São Paulo, curiosamente, reune em si as três outras personagens já vistas. Ele foi fariseu, provavelmente mais fiel até que Simão. Para Ele, Deus era um Deus de regras e ao qual só se podia agradar cumprindo regras. Deus era para ele um Senhor que nos trata como servos, não como amigos e ainda menos como filhos. O que se espera de um servo? Não o seu amor, porque é um ser tão ínfimo para o Senhor, que este não está interessado no seu amor. Que cumpra com o seu dever, nada mais é necessário.

Mas São Paulo também foi um assassino, um grande pecador, e neste sentido, está muito relacionado com a prostituta e David. No entanto, este homem duro e inflexible, encontra Cristo e tudo muda para ele. Paulo dá-se conta que o seu coração viveu uma transformação profundíssima, muito mais além de tudo que poderia ter conseguido com os seus próprios esforços. Dá-se conta que um poder divino, uma capacidade divina de amar habita agora nele. E porquê este poder habita nele? Porque realizou muitas obras, cumpriu com os 650 preceitos da lei judaica? Não. Está nele, porque Paulo acreditou em Cristo. “Sabemos que o homem não é justificado pelas obras da Lei, mas pela fé em Jesus Cristo”, diz a segunda leitura, da carta aos Gálatas.

No entanto, a fé de Paulo tornou-se imensamente poderosa, conteve um potencial incrível de transformação para ele como para os outros que há-de encontrar no seu caminho, porque é fé num Deus de amor. “Vivo animado pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. Cristo morreu por ele! Esta verdade mudou toda a sua vida. Como o amor de Deus mudou a vida da prostituta ou deu a possibilidade a David de recomeçar uma vida com Deus. Mas se em Paulo a transformação produzida foi tão extraordinária, é precisamente porque esteve unida a uma consciência clara do que Deus teve de padecer por amor, para que ele, Paulo, se salvasse.

Por isso, amigos, não devemos cansar-nos de olhar para o crucifixo e de rezar para ele. Nele encontram a imagem mais pura, mais crua, mais potente do amor divino. Há coisas em nós que ainda não conseguimos purificar, talvez. Queremos mudar as coisas do mundo, mas existem zonas da nossa vida que ainda estão nas sombras. Não queremos deixar plenamente a vida nas mãos de Deus. Como vencer estas resistências? Olhar, rezando o amor infinito de Deus representado na cruz. Esta visão contemplativa despertará com o tempo, em nós, uma fé capaz de mover montanhas. E então poderemos dizer um dia com São Paulo: “Com Cristo estou crucificado. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”.
 
 

segunda-feira, 7 de junho de 2010

NO PUEDO SER MÁS FELIZ

Recebemos através de uma pessoa nossa amiga, este testemunho de um padre missionário, muito profundo.

Está em espanhol, mas pensamos que seja de fácil compreensão.

A equipa,
Homilias e Orações

Abril, 2010

Querido hermano y hermana periodista:

Soy un simple sacerdote católico. Me siento feliz y orgulloso de mi
vocación. Hace veinte años que vivo en Angola como misionero.

Me da un gran dolor por el profundo mal que personas que deberían de
ser señales del amor de Dios, sean un puñal en la vida de inocentes.
No hay palabra que justifique tales actos. No hay duda que la Iglesia
no puedeestar, sino del lado de los débiles, de los más indefensos.
Por lo tanto todas las medidas que sean tomadas para la protección,
prevención de la dignidad de los niños será siempre una prioridad
absoluta.

Veo en muchos medios de información, sobre todo en vuestro periódico
la ampliación del tema en forma morbosa, investigando en detalles la
vida de algún sacerdote pedófilo. Así aparece uno de una ciudad de
USA, de la década del 70, otro en Australia de los años 80 y así de
frente, otros casos recientes… Ciertamente todo condenable! Se ven
algunas presentaciones periodísticas ponderadas y equilibradas, otras
amplificadas, llenas de preconceptos y hasta odio.

¡Es curiosa la poca noticia y desinterés por miles y miles de
sacerdotes que se consumen por millones de niños, por los adolescentes
y los más desfavorecidos en los cuatro ángulos del mundo! Pienso que a
vuestro medio de información no le interesa que yo haya tenido que
transportar, por caminos minados en el año 2002, a muchos niños
desnutridos desde Cangumbe aLwena (Angola), pues ni el gobierno se
disponía y las ONG’s no estaban autorizadas; que haya tenido que
enterrar decenas de pequeños fallecidos entre los desplazados de
guerra y los que han retornado; que le hayamos salvado la vida a miles
de personas en Moxico mediante el único puesto médico en 90.000 km2,
así como con la distribución de alimentos y semillas; que hayamos dado
la oportunidad de educación en estos 10 años y escuelas a más de
110.000 niños...

No es de interés que con otros sacerdotes hayamos tenido que socorrer
la crisis humanitaria de cerca de 15.000 personas en los
acuartelamientos de la guerrilla, después de su rendición, porque no
llegaban los alimentos del Gobierno y la ONU. No es noticia que un
sacerdote de 75 años, el P. Roberto, por las noches recorra las ciudad
de Luanda curando a los chicos de la calle, llevándolos a una casa de
acogida, para que se desintoxiquen de la gasolina, que alfabeticen
cientos de presos; que otros sacerdotes, como P. Stefano, tengan casas
de pasaje para los chicos que son golpeados, maltratados y hasta
violentados y buscan un refugio.

Tampoco que Fray Maiato con sus 80 años, pase casa por casa
confortando losenfermos y desesperados. No es noticia que más de
60.000 de los 400.000 sacerdotes, y religiosos hayan dejado su tierra
y su familia para servir a sus hermanos en una leprosería, en
hospitales, campos de refugiados, orfanatos para niños acusados de
hechiceros o huérfanos de padres que fallecieron con Sida, en escuelas
para los más pobres, en centros de formación profesional, en centros
de atención a cero positivos… o sobretodo, en parroquias y misiones
dando motivaciones a la gente para vivir y amar.

No es noticia que mi amigo, el P. Marcos Aurelio, por salvar a unos
jóvenesdurante la guerra en Angola, los haya transportado de Kalulo a
Dondo y volviendo a su misión haya sido ametrallado en el camino; que
el hermano Francisco, con cinco señoras catequistas, por ir a ayudar a
las areas rurales más recónditas hayan muerto en un accidente en la
calle; que decenas de misioneros en Angola hayan muerto por falta de
socorro sanitario, por una simple malaria; que otros hayan saltado por
los aires, a causa de una mina, visitando a su gente. En el cementerio
de Kalulo están las tumbas de los primeros sacerdotes que llegaron a
la región…Ninguno pasa los 40 años.

No es noticia acompañar la vida de un Sacerdote “normal” en su día a
día, en sus dificultades y alegrías consumiendo sin ruido su vida a
favor de la comunidad que sirve.

La verdad es que no procuramos ser noticia, sino simplemente llevar la
Buena Noticia, esa noticia que sin ruido comenzó en la noche de
Pascua. Hace más ruido un árbol que cae que un bosque que crece.

No pretendo hacer una apología de la Iglesia y de los sacerdotes. El
sacerdote no es ni un héroe ni un neurótico. Es un simple hombre, que
con su humanidad busca seguir a Jesús y servir sus hermanos. Hay
miserias, pobrezas y fragilidades como en cada ser humano; y también
belleza y bondad como en cada criatura…

Insistir en forma obsesionada y persecutoria en un tema perdiendo la
visión de conjunto crea verdaderamente caricaturas ofensivas del
sacerdocio católico en la cual me siento ofendido.

Sólo le pido amigo periodista, busque la Verdad, el Bien y la Belleza.
Eso lo hará noble en su profesión.

En Cristo,
P. Martín Lasarte sdb

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Festa do Corpo e Sangue do Senhor



LEITURA I Gen 14, 18-20

«Ofereceu pão e vinho»

Leitura do Livro do Génesis
Naqueles dias,
Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho.
Era sacerdote do Deus Altíssimo
e abençoou Abraão, dizendo:
«Abençoado seja Abraão pelo Deus Altíssimo,
criador do céu e da terra.
Bendito seja o Deus Altíssimo,
que entregou nas tuas mãos os teus inimigos».
E Abraão deu-lhe a dízima de tudo.
Palavra do Senhor.


LEITURA II 1 Cor 11, 23-26

«Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor»

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti:
o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue,
tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse:
«Isto é o meu Corpo, entregue por vós.
Fazei isto em memória de Mim».
Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse:
«Este cálice é a nova aliança no meu Sangue.
Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim».
Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão
e beberdes deste cálice,
anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha».
Palavra do Senhor.


EVANGELHO Lc 9, 11b-17

«Comeram e ficaram saciados»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus
e a curar aqueles que necessitavam.
O dia começava a declinar.
Então os Doze aproximaram-se e disseram-Lhe:
«Manda embora a multidão
para ir procurar pousada e alimento
às aldeias e casais mais próximos,
pois aqui estamos num local deserto».
Disse-lhes Jesus:
«Dai-lhes vós de comer».
Mas eles responderam:
«Não temos senão cinco pães e dois peixes...
Só se formos nós mesmos
comprar comida para todo este povo».
Eram de facto uns cinco mil homens.
Disse Jesus aos discípulos:
«Mandai-os sentar por grupos de cinquenta».
Assim fizeram e todos se sentaram.
Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes,
ergueu os olhos ao Céu
e pronunciou sobre eles a bênção.
Depois partiu-os e deu-os aos discípulos,
para eles os distribuírem pela multidão.
Todos comeram e ficaram saciados;
e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.
Palavra da salvação.


Homilia do Pe. Antoine Coelho, LC

É conhecido o relato do mártirio dos santos de Abitínia (no norte de África), durante a perseguição do tempo de Diocleciano, emperador romano. Reuniram-se um domingo para a celebração da Missa, contrariamente ao estabelecido pelas autoridades, mas foram surpreendidos em flagrante delito pelos magistrados e soldados do lugar. Conduzidos a Cartago e interrogados pelo procónsul Anulino, apesar das torturas, confessaram a fé. Ficou para sempre famosa a sua resposta a Anulino: “sine domenica non possumus”, ou seja, “sem o domingo não podemos”. Con isso queriam dizer que sem a Missa dominical não era possível viver. Preferiam morrer a deixar este culto.


Que intuição tão verdadeira! Sem a Eucaristia, não podemos viver, sem a Eucaristia a vida que levamos não é vida verdadeira. Ainda que não faltem os alimentos corporais, se faltar o nutrimento para a alma, ou seja, se faltar Cristo, como podemos dizer que a nossa vida é realmente feliz?


A importância da Eucaristia para as primeiras comunidades cristãs também pode ser deduzida da segunda leitura, que pertence à primeira epístola de São Paulo aos Coríntios: “Irmãos eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o...” Salta aos olhos o tom solene empregado por Paulo “Irmãos, eu recebi do Senhor o que também vos transmiti”. Ou seja, ele se apresta a comunicar um conteúdo de primeira importância, algo que ele recebeu do Senhor e que ele deve comunicar com toda fidelidade.


No fim da leitura, termina Paulo dizendo: “Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha”. Como vemos, a Missa está intimamente ligada à morte do Senhor, a tal ponto que quem tomar parte da Missa entra na “morte” do Senhor, revive misticamente a “morte” do Senhor para poder ressuscitar com Ele. Comemos, com efeito, o Corpo de Cristo entregue por nós, comemos esse Corpo que morre por nós, para que vivamos com ele. Que poderá ser mais precioso que a Morte de Cristo? Que poderá igualar tomar parte na Morte de Cristo? Nenhuma oração pode ser mais potente e mais preciosa que a Santa Missa.


Do seu valor estava convencido San Tarcísio, mártir durante as perseguições causadas pelo emperados Valeriano. Muitos cristãos estavam nas prisões naquele tempo e o Papa San Sixto desejava levar-lhes o conforto espiritual da Eucaristia, para que pudessem resistir aos tormentos. Tarcisio oferece-se então para levar-lhes a Comunhão, mas não chega ao seu destino. Uns jovens, na via Apia, em Roma, desejam saber o que leva ao escondido no peito. Como recusa, chovem os golpes e as pedradas. Um soldado intervém, mas, demasiado tarde. Pouco depois, Tarcísio morre com as mãos ainda agarrando as preciosas hostias que acabarão por chegar ao próprio Papa São Sixto. Tarcísio tinha apenas 11 anos.


O que terá descoberto Tarcísio, aos 11 anos, nestes pedaços, que não são mais que pão para os olhos do corpo? A força desta visão superior, a fé, levou-o a dar a sua vida pela Eucaristia, desta forma tão dolorosa e brutal. Peçamos muito a Deus esta fé quando assistimos à Missa e quando recebemos a comunhão. O poder de transformação da Eucaristia é infinito, é como um oceano que quer entrar nos nossos corações e, no entanto, um muro pode detê-lo: a falta de fé. E ao contrário, a fé quanto mais se dilata, mais se expande, mais permite que o poder da Eucaristia se derrame abundantemente.


E precisamente o Evangelho desta festa mostra-nos o aspecto de sobreabundância próprio da Eucaristia. Conhecemos já muito bem esta passagem de São Lucas. As multidões seguiram Cristo, mas agora devem voltar à casa. O Senhor teme que desfaleçam e decide alimentá-las, com apenas cinco pães e dois peixes. Obviamente, aqui, Cristo não celebrou uma Missa, mas este episódio sempre foi visto na tradição como prefiguração do que acontece na Eucaristia. “O que são cinco pães e dois peixes para uma imensa multidão?”, perguntam-se escépticos os Apóstolos. Não são nada, como não é nada o pão e o vinho utilizado na Missa.


No entanto, tão pouca coisa nas mãos do Criador são suficientes para saciar todos e ainda se recolhem cestos com os pedaços que sobraram. Sim, a Missa pode parece pouca coisa, tão pouca coisa que às vezes podemos inclusive perguntar-nos: “irei à Missa hoje? Não terei algo melhor que fazer?” Mas recordemos que Deus gosta de se esconder detrás de “pouca coisa”. Isso responde perfeitamente ao modo de ser do amor, que é sempre tão humilde. Mas dentro dessa “pouca coisa” da Missa, há tudo, há Deus a sacrificar a vida por nós. Alimentados com a mesma Vida de Deus, poderemos caminhar com energia e coragem neste deserto da vida, longe do naufrágio de muitos, que talvez agora vemos, com certa admiração, falar com grande segurança e convicção, mas de modo muito humano, demasiado humano. No entanto, penso que não há coragem comparável à do pequeno Tarcísio ou à dos mártires de Abitinia, uma coragem que vem de Deus e que a Eucaristia alimentou.